No último fórum deste ano do projeto Soja Brasil, uma parceria da APROSOJA BRASIL com o Canal Rural, realizado na última quinta-feira (18/10), em Londrina-PR, colocamos em discussão a necessidade de o Brasil ter uma política para os insumos agropecuários, em particular fertilizantes, defensivos e sementes. Ficou clara a falta de uma agenda estratégica para um setor tão importante, não só do ponto de vista econômico, mas também de segurança alimentar.
O primeiro que mais chamou a atenção de todos no debate foi à alta dependência de fertilizantes importados. No caso de fertilizantes nós dependemos de 75% de matérias primas importadas, no caso do cloreto de potássio o número sobe para 90%. E é aí que está o problema. Os fertilizantes somam 30% do custo de produção para soja e milho, em tempo de pico de preços do insumo chegam a somar 40% do custeio dessas culturas.
Se refletirmos na importância do insumo para o Brasil, que deve dobrar sua produção em 20 anos fica claro os riscos de sermos tão dependentes de importações. Ainda mais considerando que o setor é extremamente oligopolizado, particularmente no potássio, que temos maior dependência, com as principais jazidas comerciais presentes em apenas quatro países em um mercado dominado por três empresas, como destacou o deputado Stephanes em sua fala durante o fórum.
Ainda assim, o Brasil só consome 6,5% do fertilizante mundial, o que primeiro mostra nosso potencial de crescimento, mas também que perto da China, Índia e EUA que consomem 30%, 16% e 12%, respectivamente, o país se torna um mero tomador de preços do mercado internacional. E embora existam jazidas de fósforo, potássio de grandes proporções e gás natural com potencial para nos transformar em exportadores de nitrogenados, o custo de importar esses insumos é menor do que de produzi-los através da nossa indústria nacional.
Seja como for, o ex-ministro Stephanes bem colocou seu ponto de vista. Embora tenha construído em sua gestão as bases para um plano nacional de fertilizantes a ser encampando e incentivado pelo Executivo, após todos os debates e conclusões e a formatação de um texto final, o documento foi engavetado pelo governo.
Segundo Stephanes no caso de fósforo e nitrogênio era questão de médio prazo o Brasil se tornaria autossuficiente ou importaria fertilizantes apenas para complementar a produção nacional e não o contrário como ocorre hoje. Para potássio a exploração das minas na Amazônia de proporção internacional nem é cogitada, mas mesmo assim a exploração de minas ao longo do litoral ou cloreto trazido de países vizinhos como Bolívia e Argentina reduziria muito nossa dependência de produtos vindos da antiga União Soviética (Rússia e Bielorrússia), Canadá e Oriente Médio.
O pior de tudo é ver um ex-ministro dizer que tentou de tudo, verificou os problemas, fez sugestões ao MME (Ministério das Minas e Energias) para que mudasse o modelo de concessões de jazidas, afinal quem a requer deve explorar e não ficar com a concessão por décadas sem fazer nada, e ter como resposta do MME que não iria mudar nada. Fico indignado ao ver um ex-ministro dizer que fez um projeto para mudar a realidade dos fertilizantes no Brasil e o governo simplesmente engavetou ou jogou fora, por quê? A quem interessa nossa dependência?
Aí vem a pergunta inevitável: será que o governo não acha que os fertilizantes devem ser tratados como produtos estratégicos? Os governos de China, Índia e EUA acham que sim. Lá fertilizantes tem preços subsidiados, logística favorecida e o produto têm prioridade de passagem, pois garantem a produção de alimentos, nada mais lógico. Mas no Brasil os navios com cerca de 30 mil toneladas de fertilizantes passam dias esperando descarregar em filas nos portos, enfrentam greves de fiscais de todas as autarquias do governo e depois de uns vinte dias de esperao dono da carga recebe um prêmio, é convidado a pagar mais de US$ 800 mil pelo tempo de estadia do navio (Demurrage), graças à ineficiência alheia.
Precisamos com urgência colocar os insumos agrícolas na agenda estratégica do governo federal, e mostrar a importância disso, da necessidade de ações concretas. Pois a julgar pelos sinais dados pelo governo, até o momento estamos sendo considerados o setor menos estratégico do país. Não precisamos de mais um PAP, de simples alterações de limites e volumes de crédito, precisamos de uma política agrícolas ampla, de visão de futuro, na pesquisa, no desenvolvimento contínuo de nossa produção, do contrário continuaremos produzindo muito e de forma competitiva no campo, mas com pouca capacidade estática, portos trabalhando acima de sua capacidade, sem fomento a pesquisa, ou seja, com uma realidade ultrapassada.
GLAUBER SILVEIRA é produtor rural, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) E-mail: glauber@aprosoja.com.brTwitter: @GlauberAprosoja