Diversos usineiros e produtores de milho da região Centro-Oeste estiveram reunidos em Cuiabá na última sexta-feira. O objetivo foi discutir a implantação de novas usinas flex, já que em Mato Grosso temos uma em funcionamento, na cidade de Campos de Júlio, ou seja, a produção de etanol de milho já é realidade no Brasil.
Mas aí vem sempre a pergunta: por que produzir etanol de milho? Bem, primeiro porque temos aí uma grande oportunidade de consumo do milho agregando valor regional. Para mostrar a oportunidade que estamos perdendo considere que Mato Grosso produziu 13,9 milhões de toneladas de milho, mas só consumiu 2 milhões, ou seja, houve uma sobra de 11,9 milhões de toneladas. Já o estado de Goiás produziu 7,8 milhões de toneladas e consumiu 4 toneladas do grão, sobraram 3,8 milhões de toneladas. Mato Grosso do Sul produziu 5,7 milhões e consumiu 1,3 milhões de toneladas do total, 4,3 milhões de toneladas de produção excedente.
Como podemos observar, a região Centro-Oeste produziu 27,1 milhões de toneladas de milho para um consumo regional de apenas 7,3 milhões. Esse consumo se concentra, principalmente, na avicultura, suinocultura e nos confinamentos de bovinos e que, embora tenha aumentado ano a ano, não tem acompanhando a capacidade de expansão da produção do milho. Sendo assim tem sobrado quase 20 milhões de toneladas do cereal no Centro-Oeste.
Neste ano o Brasil exportou 21 milhões de toneladas de milho, exportação que ocorreu graças à quebra mundial na produção do grão, sobretudo nos Estados Unidos, o que fez com que o Brasil pudesse colocar a preços remuneradores o excedente da produção nos portos, caso contrário teríamos armazéns abarrotados com em anos anteriores. Lembrando que mesmo exportando este volume expressivo, ainda temos milho sobrando no Brasil. O problema é que ele está em Mato Grosso e custa muito caro levar uma carga de milho do Estado para os portos ou para Santa Catarina, onde está faltando.
Na safra de 2011/2012 o Brasil teve uma oferta global de 84,1 milhões de toneladas, incluido estoques de passagem e produção, mas consumiu apenas 52,5, ou seja, sobraram 31,6 milhões de toneladas. E o pior é que no Centro-Oeste poderíamos ter produzido mais 14 milhões de toneladas. Claro que não produzimos porque teríamos um sério problema de preço por dois motivos principais: não teríamos como consumir tudo internamente, além do que teríamos que exportar todo o produto pelas rodovias do Brasil ao custo do frete mais caro do mundo.
Para se ter uma ideia, hoje o milho em Mato Grosso está a um preço médio, em Sorriso, de 18 reais, e custa 14 reais para levá-lo ao porto. Ou seja, a cada três sacas que enviamos ao porto duas são para pagar o frete. Isto logicamente porque nosso transporte é predominantemente rodoviário, se tivéssemos mais ferrovias e hidroviárias e se soubéssemos explorar adequadamente cada modal de acordo com a distância a ser percorrida (curtas de caminhão e longas de trem e barcaças) este custo seria muito menor: a cada três sacas gastaríamos uma em frete ou até menos.
Diante desse cenário, uma das grandes alternativas para agregarmos valor ao milho do Centro-Oeste é utilizá-lo, em parte, nas usinas de cana-de-açúcar onde – com uma ampliação – conseguimos produzir etanol, DDGs e óleo. Hoje com uma tonelada de milho podemos produzir até 240 kg de DDGs (que são os grãos secos de destilaria, produto excelente para ração animal), outros 395 litros de álcool e ainda 20 litros de óleo.
Diversos usineiros estão vislumbrando a produção do etanol de milho, uma vez que agrega valor industrial, possibilita que a usina ao invés de ter atividade industrial por apenas seis meses possa chegar a operar quase o ano todo. Isto, sem dúvida, reduz os custos operacionais do próprio etanol de cana, já que tem outro produto dividindo os custos. Como prova da viabilidade do modelo, já existem duas novas usinas flex em fase de aquisição de equipamentos, uma em Mato Grosso e outra em Goiás.
A produção de etanol de milho regionalmente seria um grande benefício segundo a Célere Consultoria. Para cada 1 milhão de tonelada de milho transformada em etanol e DDGs teríamos uma receita anual de 700 milhões de reais, o que geraria 180 milhões de impostos ao Estado e 150 novos empregos diretos. Sem dúvida, é uma grande iniciativa e que merece apoio do governo.
Este é o questionamento que faço: vamos ficar dependendo da China consumir nosso milho ou vamos fazer como os norte-americanos e encontrar uma alternativa que agregue valor e nos tire da total dependência do mercado externo? Claro que o etanol tem seus problemas, mas qual cadeia neste país não tem?
A nossa prioridade deve ser buscar soluções, cobrar do governo uma política para os biocombustíveis, afinal este governo posa de ambientalista, mas tem sua política voltada ao combustível fóssil e rodovias, e nós brasileiros pagamos a conta perdendo uma grande oportunidade de crescermos e sermos muito mais competitivos. Imaginem o Brasil com ferrovias, hidrovias, uma política energética sustentável com real apoio aos biocombustíveis, sou otimista vamos chegar lá.
*GLAUBER SILVEIRA é engenheiro agrônomo, produtor rural, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil). Twitter: @GlauberAprosoja E-mail: glauber@aprosoja.com.br