*GLAUBER SILVEIRA
Fui convidado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para palestrar no painel “Desafios da área vegetal nas exportações brasileiras”. O objetivo era apresentar as demandas do setor no mercado internacional, mostrando a visão dos produtores sobre como podemos ser mais competitivos na exportação, já que o Brasil passa a ser o maior exportador de soja do mundo e tem uma grande oportunidade de crescer também com o milho.
O primeiro ponto que apresentei foi sobre as projeções da safra 12/13, com o Brasil produzindo 81 milhões de toneladas e um consumo interno de 40 milhões, ou seja, um volume de 41 milhões para a exportação. Já com o milho a projeção é de produção de 70 milhões de toneladas para um consumo de 54 milhões e 16 milhões de toneladas para exportação.
É importante lembrar que a maior parte da soja e do milho excedente vem da região Centro-Oeste do Brasil, a uma distância média de dois mil quilômetros do porto, sendo assim fui claro ao Ministério da Agricultura que nosso maior desafio é a logística de transporte, pois temos o frete mais caro do mundo, uma vez que o preço médio pago no Brasil é de 85 dólares, a tonelada, enquanto na Argentina é de 20 dólares e nos EUA 23 dólares. Fica evidente que para sermos competitivos na exportação o primeiro passo é investir em logística.
Sempre que se fala em exportação surgem – principalmente em anos como este em que tivemos quebra de safra mundial de soja e milho – comentários de que esse tipo de negociação está prejudicando a indústria de carnes no Brasil. Muito pelo contrário. Países que não exportam commodities agrícolas pagam muito mais caro que os exportadores, o que é compreensível uma vez que se os produtores de milho fossem depender do mercado interno não expandiriam sua produção e, com isso, faltaria milho e o país teria que recorrer à importação a preços ainda maiores.
Outro grande desafio às exportações, não só da soja e do milho, é o governo ter foco no marketing de nossos produtos lá fora. Somos péssimos em divulgar nossos produtos. Na maioria das vezes mais nos defendemos de ataques do que valorizamos nossos pontos positivos, que são muitos, afinal temos a produção mais sustentável do planeta, no entanto, ao invés de dizer isto, só falamos das metas de redução de desmatamento, por exemplo.
É importante o Brasil mostrar o quanto tem reduzido seu desmatamento, mas o mais importante é cobrar reciprocidade, falar da qualidade de nossos produtos, mostrar que em nenhum outro país do mundo se recolhe quase 100% das embalagens, enquanto nossos principais competidores, os produtores dos EUA, devolvem 30% das embalagens de agrotóxicos. O Brasil é o único produtor de soja e milho que respeita a Área de Preservação Permanente (APP) e tem reserva legal, sendo que 71% das florestas do Brasil estão intocadas.
Como podemos ver ninguém poderia fazer o marketing de produtos verdes, sustentáveis, entre outros, a não ser o Brasil. Mas, ao contrário disso, enquanto nossos principais competidores EUA e Argentina já desmataram quase 100%, passamos mais tempo com uma atitude defensiva do que proativa. O governo brasileiro tem que ter uma estratégia de valorização dos produtos brasileiros, seja soja, milho, carnes, afinal os bandidos é que estão posando de bonzinhos e nós não fazemos nada.
O Brasil tem uma grande oportunidade com a demanda de alimentos crescente no mercado mundial, principalmente o asiático, mas é importante não ficarmos dependentes da China e buscarmos mercados emergentes como Índia, Coréia, Malásia, Indonésia, por exemplo, mostrando a eles que temos a melhor soja mundial – que pelo clima tropical tem mais óleo e proteína que as produzidas em outros lugares.
O governo brasileiro precisa criar uma estratégia de aumento da nossa competitividade, conciliando logística interna, desenvolvimento portuário, negociações internacionais de aprovação biotecnológica em sincronia com a aprovação de novos eventos transgênicos e com marketing sustentável aliado à melhoria da nossa sanidade.
A consolidação do Brasil como exportador significa o suprimento de produtos a preços competitivos para o mercado interno e externo. Para isto é preciso ter foco, uma política definida de longo prazo e investimentos para nos tornar competitivos mundialmente, afinal neste ano o Brasil poderia estar produzindo 70 milhões de toneladas a mais de soja e milho, com produtores tendo renda pelo frete mais barato, a produção de carnes também mais competitiva, o governo arrecadando mais impostos e o mundo passando menos fome. Por que não?
*GLAUBER SILVEIRA é produtor rural, engenheiro agrônomo, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) E-mail: glauber@aprosoja.com.br Twitter: @GlauberAprosoja
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