Segundo dados do IBGE de junho de 2012, o Valor Bruto da Produção (VBP) dos principais produtos agrícolas do Brasil foi de R$ 213,5 bilhões, sendo a soja responsável por R$ 57 bilhões. Como podemos ver, é crescente a importância da agricultura para o Brasil, mas isto parece não ser notório principalmente por órgãos do governo, como o Ibama que, sem estudos contundentes e razões questionáveis, proibiram a pulverização aérea de alguns inseticidas às vésperas da safra.
O Ibama tomou tal medida buscando proteger as abelhas, pois do total de 115 culturas geridas pelo homem, 87 apresentam dependência de polinização, sendo a abelha o mais importante polinizador, restando 28 culturas que não dependem das abelhas – e a principal a soja. Ou seja, as abelhas não têm o hábito de ir às lavouras soja e raramente são encontradas na cultura. Portanto, não dá para entender a proibição.
É preciso chamar atenção para os dados de produção de mel do Sebrae de 2011 que mostram que o Brasil duplicou o volume produzido na última década. Somos o nono produtor mundial de mel com 38 mil toneladas, sendo o Norte responsável por 2,12% da produção, Nordeste 38,6%, Sudeste 13,91%, Sul 42,57% e Centro-Oeste 2,8%, ou seja, a produção de mel está concentrada nas regiões onde as culturas são propícias à apicultura, não sendo o caso do Centro-Oeste.
A proibição dos inseticidas Imidacloprido, Tiametoxam, Fipronil e Clotianidina, por aplicação aérea, ou seja, aplicados pela tecnologia da aviação agrícola, tem amplo impacto nesta safra, especialmente no caso do Tiometoxam, o único disponível para o controle de percevejos da soja. Esses inseticidas, embora somem 10% do total de defensivos comercializados no Brasil, são, sem sombra de dúvida, responsáveis pelo maior volume de aplicação para as principais culturas cultivadas no país. Nós estamos falando de algo entorno de sete milhões de litros de inseticidas.
Um dos grandes problemas é que a medida restritiva do Ibama foi publicada às vésperas da safra, quando os produtores já haviam adquirido seus inseticidas e não existia a menor possibilidade de substituição, afinal se eles eram os mais comercializados não há como imaginar que a indústria teria estoques de sete milhões de litros de outros produtos menos comercializados, mas isto parece que o Ibama não quer enxergar.
Fica sempre a impressão para a sociedade que os produtores gostam de pulverizar suas lavouras. Quem em sã consciência iria querer gastar dinheiro com defensivos agrícolas? Seria perfeito fazer só agricultura orgânica, mas isto ainda não é possível. Os produtores clamam por produtos mais eficientes e menos tóxicos, mas dependemos da pesquisa e dos registros, ou seja, o próprio governo que restringe deveria ser mais ágil na liberação de novas moléculas.
Um dos grandes problemas do Brasil nessa área é a morosidade da aprovação de novos produtos. Temos o registro mais caro e mais moroso entre os nossos competidores, e os produtores se vêem obrigados a usar os mesmos produtos por anos, o que os torna menos eficientes. Uma das prioridades do governo deveria ser a liberação de novos produtos que se apresentem mais eficientes e menos tóxicos.
Outro fator agravante é em relação à forma de aplicação. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o Brasil possui 1663 aeronaves agrícolas, estando a maior parte no Centro-Oeste. A pulverização aérea é responsável por 27% do percentual de área pulverizada de soja, isso equivale a quase oito milhões de hectares, sendo assim para substituirmos a aviação necessitaríamos, para ontem, de aproximadamente quatro mil pulverizadores terrestres o que custaria R$ 1 bilhão.
É notório o risco da medida do Ibama à produção agrícola brasileira. Mesmo se ela se justificasse deveria vir com aviso prévio e prazos para adequação, afinal, a aviação agrícola responde por 36% da área pulverizada do algodão, 11% do milho, 33% do arroz, 25% da cana. Todas são culturas importantíssimas ao Brasil e que podem sofrer sérios danos se a medida não for revista, ao menos respeitando as particularidades de cada cultura e região onde é cultivada.
Mas não é tão simples assim. O Brasil tem um clima tropical, o que faz que tenhamos mais pragas que outros países, apesar disso usamos menos defensivos por hectare que muitos países da Europa. Este clima tropical faz com que tenhamos longos períodos de chuva, principalmente nas regiões centrais do Brasil. Dessa forma, a pulverização aérea é uma segurança à produção, e senão fosse assim por que iríamos fazer já que ela é mais cara?
Temos cobrado do governo que é preciso realizar pesquisas para avaliar o real impacto dos defensivos agrícolas sobre as abelhas e todo o meio ambiente, estudos que sejam isentos, sem demagogia ou preconceito, e lembramos que os produtores são os principais interessados, pois somos os usuários. É preciso criar regras regionais de acordo com a característica local, é preciso fazer um zoneamento nestas questões.
A pergunta que fica é: quem vai pagar a conta do produtor que planta mil hectares e que se tiver um ataque de pragas, se estiver chovendo todo dia – que é normal em janeiro e fevereiro – não conseguir entrar com a pulverização terrestre e tiver um dano de 10 sacas por hectare? Estamos falando de um prejuízo de 10 mil sacas, isso significa R$ 500 mil ao produtor. Se isso ocorrer nos oito milhões de hectares de soja serão, no mínimo, quatro bilhões, e quem vai pagar essa conta?