A melhor época em geral para plantio do milho nos EUA é em abril e para a soja até 15 de maio. E também de maneira geral, os produtores plantam 70% de milho e 30% de soja em suas propriedades, primeiro o milho e na sequência semeiam a soja. Neste ano foi diferente, pois o frio e as chuvas se estenderam até maio prejudicando os plantios.
Assim como em qualquer país, existe um período ideal para o plantio, e a velha máxima que o plantio é 50% de garantia de produção, vale também para os EUA. Sendo assim, o atraso no plantio significa perda de potencial produtivo, mas o interessante é que o USDA não leva isso em consideração.O plantio foi mais tarde do que o esperado, afinal os EUA tiveram a primavera mais úmida dos últimos anos. Isto eu pude observar, muitos produtores devem ter plantado o milho em junho e vi muita área com soja de 20 dias, ou seja, dá para concluir que o atraso foi de pelo menos 30 dias. E, todos os produtores com quem falamos confirmaram isso.
As consequências esperadas do plantio atrasado para a soja são um menor crescimento, a planta encurta o ciclo e costuma perder produtividade, o que é normal acontecer em qualquer país, embora o USDA ignore o fato, além de regiões inteiras com falhas de plantio, áreas sem plantar e problemas de drenagem.
Em Illinois as lavouras estão muito boas, apesar de não estar chovendo como esperavam. Mas posso afirmar que nos estados de Iowa, Minnesota, Dakota do Sul e Nebraska as lavouras estão médias, sofrendo pela falta de água. E por isso, é fundamental que chova nos próximos dias, uma condição que confirma que o clima mais a oeste dos EUA está complicado de novo.
Não quero ser alarmista e dizer que com isto a safra Americana vai quebrar, mas daí ao USDA dizer que a produtividade será uma das maiores da história, acho otimismo demais. Ainda mais que o clima não está muito positivo e em algumas regiões não chove há 20 dias. E Detalhe, quando pergunto aos produtores, a maioria diz acreditar em quebras de produção.
No geral, as lavouras de soja estão boas, e se chovesse estariam ainda melhores e se olhássemos somente isso, tudo estaria perfeito para os produtores Norte Americanos. Mas não é só esse o problema, o clima não está perfeito e seu comportamento nos próximos dias irá definir muita coisa. Sem falar no encurtamento do ciclo da cultura da soja que deve roubar alguns sacos por hectare.
Mas para os produtores Norte Americanos a preocupação não é a soja. Esta tem uma capacidade de adaptação e resistência muito grande às adversidades climáticas. Por isso, as perdas no geral são pequenas individualmente. Claro que para o mercado qualquer 5% de quebra tem relevância, afinal estamos falando de 4 a 5 milhões de toneladas. Mas o que tem tirado o sono dos produtores daquele país é o milho.
Como é plantado primeiro, o milho foi o grande prejudicado no plantio. O cereal foi plantado em condições de muita umidade e mesmo com neve ainda em abril, e isto fez com que a safra tivesse problemas de germinação. Como consequência, o milho ficou com a raiz muito superficial, devido ao excesso de umidade no plantio e agora da seca que se estende por mais de mais de 20 dias em algumas regiões.
Além de tudo, o clima seco prejudica a adubação nitrogenada de cobertura do milho. Os produtores nos disseram que o ideal seria ter 50 mm de chuva por semana para o desenvolvimento ideal do milho. Outra grande preocupação dos produtores é com relação à colheita. Como atrasou o plantio, a colheita do milho será numa época que já pode haver geada e muita chuva, o que aumenta o risco de quebras.
Posso afirmar pelo que vi que nada está definido na safra dos EUA, e que a tendência de quedas de produção é real. Mas como dizem os produtores dos EUA, o USDA vai dando as notícias ruins aos poucos, apesar de saberem que os números não são os divulgados. E, constatamos isto no campo, muitas lavouras boas, mas também regiões bastante afetadas.
Agora é importante deixar claro, quedas de produção nos EUA deverão ocorrer, ainda mais com o relatório do USDA confirmando produtividades altas e que não devem se confirmar. Mas o mercado sabe que os cenários atuais não indicam quedas muito acentuadas, a não ser que o clima piore e a colheita complique. E ainda temos que considerar a safra da América do Sul que vem com tudo. Sendo assim, o conselho que fica é: Papai Noel não existe, aproveite as oportunidades de pico de mercado.
*Glauber Silveira