Novamente, estamos nos Estados Unidos da América em uma viagem focada em informar aos produtores brasileiros o sentimento de como estão as lavouras nesta fase final, uma vez que, a maioria das plantações entraram em enchimento de grãos, tanto a soja quanto o milho.
É importante relembrar, que a safra foi plantada com atraso, o que certamente deve afetar a produtividade. No início do último mês estivemos nos EUA, quando rodamos mais de três mil quilômetros. No período visitado, constatamos uma realidade diferente daquela que o próprio Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) relatou, números menos audaciosos do que os divulgados pelo departamento. As estatísticas do órgão estavam exageradas, tanto é que o relatório de agosto foi corrigido e sua previsão de safra colocou os números mais baixos.
Nesta outra ida ao país, nossa expedição começou na cidade de Chicago estado de Illinois, onde seguimos rumo à cidade de Dekalb. Para podermos acompanhar melhor o andamento das lavouras, deixamos a estrada principal e passamos por cidades como, Dekalb, Rockford, Morrison e Clinton (cidade que faz divisa com o estado de Iowa). Desta forma, seguimos à viagem, mas sempre parando para olhar as lavouras.
Logo na saída, pudemos ver lavouras que já havíamos acompanhado na expedição anterior no estado de Illinois, há dois meses e que estavam muito boas na época. Agora, a plantação me chamou a atenção, pois as folhas do milho estavam muito em pé e meio que fechadas, típico da proteção contra a falta d’água. Situação diferente, comparada com a soja, pois a oleaginosa que vimos estava com vagem. Nesse contexto, tanto o milho quanto a soja apresentavam estresse hídrico, o solo rachado, o milho com espigas miúdas e sem dúvida aquela região (Illinois) foi uma das que teve seu plantio mais atrasado.
Fomos nos informar e nossa suspeita foi confirmada: há mais de duas semanas não chove naquela região, a seca prevista mais a oeste dos EUA, que supostamente livraria o estado de Illinois, se estendeu por todo país. Mais à frente vimos lavouras melhores, mas mesmo nessas ao examinarmos percebemos muita disparidade de espigas, o que demonstra que a seca também as afetou. Claro, que as lavouras mais tardias estão sendo mais prejudicadas, uma vez que entraram em enchimento de grãos agora, e se a seca continuar por mais uns dias as perdas poderão ser agravadas.
A previsão climática aponta para dias secos e mais quentes ainda, na região de Dês Moines a previsão para os próximos dias é de quarenta graus, com noites mais quentes o que complica ainda mais o quadro, isso porque as noites mais frescas ajudam a amenizar a falta da chuva. Fizemos por volta de seiscentos quilômetros, nos primeiros dias da expedição, e o quadro era o mesmo, algumas regiões mais e outras menos sofridas pela falta de chuva e a alta temperatura.
Pelo que vimos até agora, é um quadro de perdas na soja e no milho. Mas é importante lembrar que, a soja tem condições genéticas mais favoráveis de resistir a seca do que o milho. Nas plantações, foi possível observar o abortamento de vagens do baixeiro. Há vagens, por exemplo, em que nenhum um grão vai se formar. Desta forma, posso afirmar que a queda na produtividade vai acontecer, entretanto, não dá para prever grandes perdas ainda, mas também não tem como ser a maravilha que o USDA previa.
A situação das lavouras de milho me chamou muito a atenção. Constatamos, exatamente, o que os produtores nos disseram há dois meses, quando estivemos no país: o enraizamento do milho está sendo prejudicado pelo atraso no plantio. A gravidade intensifica com a falta de chuva, que já vai superar três semanas e enquanto a estiagem permanecer, o milho sofre. Caso esse cenário não mude, o cereal que agora começa a formar a espiga, terá grandes perdas.
Essa safra parece estar longe do que os norte americanos esperavam junto ao USDA, mas para sorte dos produtores o país oferece seguro do governo com renda garantida. Situação diferente para os produtores brasileiros, mas que estão felizes com o milagre que está acontecendo no mercado. Isso porque, esperávamos um comércio em baixa, devido às expectativas de safras recordes nos EUA, o que não aconteceu desta vez.
* Glauber Silveira