Há muitos anos, eu não via produtores tão preocupados e vigilantes com uma safra, se antes o clima era a principal preocupação nacional, afinal ele é um fator determinante da produtividade, nesta safra todos os olhos e atenções estavam voltados para as vistorias das lavouras. Essas vistorias, que antes eram semanais, passaram a ser diárias na busca de lagartas, seja a Helicoverpa ou qualquer outra. O que parece é que todas as lagartas se tornaram mais agressivas.
Por que as lagartas, que antes tinham um simples manejo, passaram a ter um controle mais difícil, sendo necessário um treinamento adequado na aplicação, mudanças de bicos e até mesmo a mistura de produtos, ainda não sabemos com certeza. Mas seja porque foi retirado do mercado produtos de contato de excelente desempenho, como o endossulfam e o metamidofós, seja pela resistência das lagartas aos produtos disponíveis, pela seleção das resistentes, até final da safra, é certo que a Embrapa terá essas respostas.
Mas, uma coisa é incontestável, o fim do ano passado, seja o natal ou o ano novo, sem dúvida foi diferente. Muitos produtores que viajavam deixando suas produções aos cuidados dos técnicos, abriram mão das férias e passaram a bater pano e a acompanhar cada aplicação de inseticida em suas lavouras. A incidência de lagartas foi e está sendo muito grande, agricultores se viram enlouquecidos em busca do melhor produto ou da melhor mistura para fazer o controle e a quantidade de aplicações dobrou ou triplicou.
Se por um lado, o clima tem ajudado para que as lavouras estejam em boas condições, por outro lado à garantia de rentabilidade vai para o ralo, na safra com o maior custo da história. Nos defensivos agrícolas, segundo a CONAB, tivemos um incremento de preço que supera 80% na média nacional, sendo que na Bahia esse aumento de custo chega a ser, até agora, de 196%, e de 171% no Mato Grosso. Sem falar que um custeio 31% maior que a anterior, que já foi cara.
Com despesas mais altas e preços mais baixos, produtores se esforçam e ficam vigilantes para obter o máximo de produção possível, como uma maneira de evitar prejuízos amargos. Além do que, em janeiro a vilã ferrugem surge agressiva em virtude das chuvas que se intensificam. E pode até parecer estranho este chororô, uma vez que o governo comemora uma possibilidade de super safra, mas a verdade é que nós produtores estamos sofrendo a pressão de uma safra pra lá de complicada.
A Conab divulgou os números da futura safra brasileira de soja, algo em torno de 90 milhões de toneladas. E que devemos nos tornar o maior produtor mundial da oleaginosa, superando os EUA que produziu 88,66 milhões de toneladas, mas estes números podem sofrer mudanças. Acredito que, talvez ainda, não seja nesta safra que sejamos os maiores produtores de soja mundiais. E até arriscaria números brasileiros abaixo de 88 milhões de toneladas, mas isto não importa, para nós produtores o que interessa é ter renda.
Este mês de janeiro é importantíssimo para a consolidação de nossa produtividade, e fora alguns problemas na Bahia, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Paraná de forma regionalizada, a safra vai se consolidando e se o clima ajudar conseguiremos colher sem maiores problemas – é o que espero. Com isto, teremos uma produção maior, com 5 a 8 milhões de toneladas a mais de soja e que terão de sair pelas mesmas estradas, pelos mesmos portos e, infelizmente, não tivemos mudanças positivas no quesito logística. Espero que o que previmos não aconteça, ou seja, que tenhamos um caos maior ainda que do ano anterior.
E como mencionei, quando sentamos com o governo para conversar fica estranho, afinal ele comemora os números da super safra e nós reclamamos de super problemas, seja de infraestrutura já que vai faltar armazém, estradas que estão piores, o porto que não recebeu cobertura, a ferrovia que é a mesma, os produtos de defesa perdendo eficiência, os custos que têm seu pico de alta e etc. Mas, como se diz, a vida continua, e esperamos que junto com as promessas de campanha venham às realizações.
*Glauber Silveira