Nesse mês de maio, a nova diretoria da Aprosoja Brasil tomou posse e eu como presidente da entidade fiquei lisonjeado de fazer parte deste grupo de lideranças, cada um em seu estado e dispostos a fazer concessões e sacrifícios pela defesa dos interesses dos produtores de soja. Hoje, já somos 12 Aprosojas estaduais, representamos mais de 90% da área plantada e consolidamos a Aprosoja como um modelo de sucesso na representação dos sojicultores deste país.
E como são vários os entraves e problemas que temos enfrentado, todos os dias, é preciso priorizar. Por isso, o foco desta gestão será a logística, item um da pauta de reivindicação do agronegócio. Mas não podemos deixar de lado outros assuntos que impactam diretamente a nós produtores, como a falta de registro de novos produtos fitossanitários, além da questão ambiental e indígena.
Falar de logística é ao mesmo tempo fácil e difícil. É fácil porque não faltam pontos a serem criticados: portos que trabalham no limite da capacidade operacional, uma matriz de transporte desajustada, rodovias transportando mais da metade das cargas e em situação caótica. Enquanto isso, as ferrovias e hidrovias, além de insuficientes, trabalham muito aquém da eficiência desejada.
Mas ao mesmo tempo é difícil, pois uma solução definitiva depende de um compromisso não só de governo, mas de estado e isso ainda está pendente. Para atacar um problema, precisamos primeiro ter um diagnóstico preciso. Construir uma obra de infraestrutura no Brasil é um ato de heroísmo. Isto porque, embora a obra em si não seja lá um grande desafio, as licenças ambientais e as consultas aos povos indígenas não saem nunca. E quando finalmente saem, as planilhas de custos, prazos e condições previstas nas concessões já estão desatualizadas. Um ciclo desesperador para a produção agrícola.
Temos que resolver isso uma vez por todas, com seriedade, consciência ambiental e respeito aos povos indígenas, mas também tornando os prazos de liberação da obra exequíveis. Se este cenário não mudar, o Brasil nunca terá uma logística que espelhe a grandeza do seu agronegócio. Como presidente da Aprosoja Mato Grosso do Sul durante duas gestões, desde sua fundação em 2007 até 2013, vivi na pele as dificuldades de se trabalhar dependendo do governo nos ouvir e atender nossos pleitos. Porém, temos uma conjuntura favorável, um momento de aproximação com a eleição, e nunca o setor produtivo foi tão ouvido, seja pelo governo, seja pelos presidenciáveis.
É claro que isto tem a ver com o fato do país não parar de crescer porque o agronegócio mantém um ritmo de quebra de recordes, e mais do que somar 24% do PIB nacional, contribui para equilibrar as contas públicas com reservas cambiais e superávit na balança comercial, do contrário o Brasil já estaria em recessão. Em especial a soja, hoje o principal produto exportado pelo Brasil, somando 1/3 das exportações e 7% do PIB do agronegócio, mas que além da importância econômica, é responsável pelo surgimento, crescimento e sustentação de 1.831 municípios brasileiros.
E temos que fazer aqui nossa homenagem à Frente Parlamentar da Agropecuária, que tem desempenhado um papel fundamental na manutenção da segurança jurídica para os produtores rurais de todo país. Com grandes batalhas no Congresso Nacional garantiram a edição de um Novo Código Florestal, equilibrado e moderno, que garante a sustentabilidade da atividade agropecuária, além de terem aberto caminho para o diálogo e solução de problemas crônicos como a questão indígena e trabalhista.
Por isso, temos que saber nos articular, e faço aqui meu apelo, quando eu digo articular é fazer escolhas políticas acertadas. Já dizia o sábio historiador inglês Arnold Toynbee, “O pior castigo para quem não gosta de política, é ser governado pelos que gostam”. Cada produtor em seu estado precisa contribuir, identificar seus legítimos defensores para garantir que eles se elejam em outubro. Estes parlamentares seguirão por quatro anos no Congresso e precisam ser apoiados e subsidiados de informações e demandas. Por isso, não basta contribuir para que sejam eleitos, mas firmar compromissos, cobrar e estar junto deles nos momentos de decisões.
Cheguei ao assunto eleição porque os produtores rurais precisam assumir papel de destaque, não só nos rumos da economia deste país, mas principalmente na política que definirá o nosso futuro. Como destaquei no início, hoje ainda não temos uma política de estado para a agropecuária brasileira como tem os Estados Unidos. Naquele país, foi construída uma lei agrícola isenta de governos e partidos políticos, que norteia e dá estabilidade para que todos possam construir negócios e contratos sabendo que as regras do jogo não mudarão amanhã e por tudo a perder.
Nós da Aprosoja, junto as nossas entidades parceiras, firmamos aqui o compromisso de trabalhar para melhorar a qualidade da produção. E não podemos deixar de lembrar da importância da CNA e da senadora Kátia Abreu, nem do nosso ministro da agricultura, Neri Geller, que também é um líder como nós e que tem feito um belo trabalho a frente da pasta. Mas é necessário entender que o ministério da agricultura precisa ser fortalecido em todas suas secretárias, ter políticas públicas modernas e de futuro. E para isto é preciso construir junto com o setor privado uma agenda positiva de políticas de longo prazo, seja para política agrícola, seja para a defesa vegetal, seja para o desenvolvimento e cooperativismo.
Conquistamos muito, mas os desafios são ainda maiores. Agora é arregaçar as mangas e trabalharmos juntos, com menos críticas e mais ações, com menos reuniões de discussão e mais reuniões de trabalho. Colocar de lado disputas, egos e diferenças e nos aproximarmos da base. Pois é de lá que deve sair os rumos das políticas para o setor, de quem realmente necessita. E cada produtor precisa vestir esta camisa, se aproximar das suas lideranças e contribuir. Do contrário, depois não adianta reclamar, “Quem tem boca, vaia Roma”, precisamos nos politizar e trabalhar para termos o Brasil que desejamos, não só para nós, mas para nossos filhos e netos.
*Almir Dalpasquale é presidente da Aprosoja Brasil e acumula a gestão da entidade com cargo de diretor tesoureiro da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Sistema Famasul). Atualmente reside em Campo Grande (MS), onde é produtor rural, com propriedades na região norte de Mato Grosso do Sul.