Artigo publicado no jornal O Liberal
Não há força maior no mundo do que uma narrativa bem montada. Sob a bandeira da
preservação ambiental, é possível cometer qualquer tipo de transgressão e esconder-se à sombra da
impunidade que acoberta abusos alinhados a esse enredo.
Por 18 anos, a Moratória da Soja foi apresentada como um grande feito para a sustentabilidade,
enquanto esmagava direitos, marginalizava produtores rurais e desprezava a legislação brasileira.
Durante esse período, ONGs e corporações multinacionais estabeleceram um sistema que mais se
assemelha a um estado paralelo, com “listas negativas” ilegais e reuniões em hotéis luxuosos.
Quase duas décadas se passaram, e não há um único registro de apoio financeiro ou técnico a
produtores cujas terras foram incluídas arbitrariamente em suas listas. Sem indenizações ou
reparações, o que há é o desprezo escancarado pela dignidade humana e pelo direito constitucional à
livre iniciativa.
E quem paga o preço? Certamente não são as corporações ou as ONGs. São os agricultores que
cumprem rigorosamente o Código Florestal e, ainda assim, são tratados como criminosos. Enquanto
isso, a população da Amazônia sofre os efeitos da estagnação econômica. Segundo o último Censo,
mais da metade da população de Belém e Manaus vive em favelas. Esse é o “plano de desenvolvimento
sustentável” que reservaram para nós?
A hipocrisia é evidente. Em nome da “sustentabilidade,” corporações restringem a produção de
soja — uma das culturas mais resilientes, economicamente viáveis e ecologicamente estratégicas
para áreas legalmente convertidas para agricultura após 2008. Ao mesmo tempo, não oferecem
alternativas reais para a utilização produtiva dessas terras.
A Moratória da Soja não é um símbolo de preservação; é uma ferramenta de opressão. Um
acordo construído para consolidar o poder econômico de corporações multinacionais, deixando
pequenos e médios produtores sem alternativas. Enquanto isso, em foros internacionais, aqueles que
lucram com essas narrativas depreciam a imagem do Brasil, acusando-nos de estar alheios à
sustentabilidade.
O Brasil, entretanto, está longe de ser omisso no debate sobre sustentabilidade, como
demonstrado na COP 29, em Baku. Um dos idiomas mais falados no evento foi o português. Não por
acaso, com quase 2.000 participantes, o Brasil foi o segundo país mais representado, perdendo apenas
para o anfitrião, o Azerbaijão, e muito à frente dos países do bloco europeu
Com a proximidade da COP 30 em Belém, as cortinas que escondem a pobreza e a miséria da
Amazônia começarão a ser levantadas. O mundo terá a chance de olhar nos olhos de uma criança
subnutrida da região e entender o impacto da hipocrisia daqueles que embargam o desenvolvimento
da Amazônia em nome de um discurso vazio. Espera-se que essa realidade sensibilize líderes globais
para a necessidade de incentivar e apoiar atividades econômicas na região — não as embargar. O que
está em jogo é a dignidade de milhões de brasileiros.
Vanderlei Silva de Ataídes é produtor rural no município de Paragominas e Presidente da Aprosoja Pará
Parabéns, Vanderlei e Aprosoja Pará! Importante mostrar o outro lado dessa história.