A próxima semana no Brasil deverá ser marcada por boas chuvas, de acordo com as últimas previsões climáticas. Muitas regiões produtoras do Brasil ainda sofrem com condições de um cenário de clima irregular, com precipitações localizadas e de baixos volumes. No entanto, caso essas previsões se confirmem, a situação pode melhorar para os produtores e as lavouras devem ser beneficiadas por boas precipitações, tentando uma recuperação onde ainda é possível.
O NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), que é o departamento oficial de clima do governo americano, mostra que na semana de 25 a 1º de dezembro as chuvas podem chegar a mais de 130 mm na região Sudeste, principalmente em Minas Gerais e, em alguns locais, ficar entre 65 e 85 mm.
Já no Centro-Oeste, os acumulados esperados são um pouco mais baixos e ficam na casa dos 65 mm. Em alguns locais pontuais, esse índice pode chegar a 105 mm. Na região Sul, por outro lado, não devem ser regitradas chuvas significativas nesse período, de acordo com o NOAA. Chove ainda no sul da região Norte, com acumulados próximos de 55 mm.
A previsão da Climatempo também traz um aumento das chuvas na região Sudeste. São esperados de 100 a 200 mm para o sul de Minas Gerais, Goiás e norte de São Paulo, além de algumas áreas no centro e sudoeste de Mato Grosso.
Na região Nordeste, os acumulados ainda são limitados, com algo entre 10 e 30 mm no Centro-Sul da Bahia, Tocantins e partes do Maranhão e Piauí.
Já para o Sul do Brasil, o Paraná deve ter de 50 a 70 mm na próxima semana, bem como no Norte de Santa Catarina. Já no Sul do estado catarinense e no Rio Grande do Sul, os acumulados devem ficar entre 10 e 30 mm, à exceção do sudoeste, onde podem ser registradas chuvas de até 50 mm.
Produtividade ameaçada no Brasil
Apesar dessas boas chuvas esperadas, o potencial produtivo da nova safra de grãos do Brasil já está bastante ameaçado. Importantes regiões produtoras do país já sofreram muito com a estiagem, resultando em um atraso no plantio da temporada 2014/15, na morte de plantas e na necessidade – em alguns casos, cerca de três vezes – de replantio e de plantações subdesenvolvidas.
A imagem abaixo é da Climatempo, com foco na região Sudeste, e as áreas em laranja indicam as chuvas abaixo da média, mostrando que as previsões não se confirmaram e o quadro climático continuou danificando as lavouras da nova safra brasileira. Dessa forma, os relatos que chegam de importantes regiões produtoras dão conta de que muitas áreas não atingirão os índices de rendimento inicialmente projetados. Em todo o Brasil, o plantio da soja da safra 2014/15 alcançou 63% da área projetada essa semana, segundo as projeções de consultorias privadas.
Em locais onde as lavouras foram implantadas dentro da janela normal de tempo, as plantas receberam muita ensolação e pouca pluviometria, como explicam os especialistas, se desenvolvendo mal e com um potencial produtivo severamente comprometido. A falta de umidades em algumas regiões de Mato Grosso tem impedido até os produtores de aplicarem seus defensivos para conter as ervas-daninhas.
“As perdas já existem, precisamos agora acompanhar para saber qual será a extensão disso. Muitas lavouras que foram plantadas primeiro, logo depois do fim do vazio sanitário, já estão em período de floração e já não têm mais tempo para se recuperar, já que estão em sua fase reprodutiva. Os stands estão baixos e há poucas plantas. Para esses locais, a produtividade esperada pelos sojicultores é de algo entre 30 e 40 sacas por hectare somente”, relata Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting, da região de Nova Maringá, no noroeste de MT.
No Paraná, por exemplo, ainda segundo o consultor, o crescimento esperado para a área de algo entre 150 mil e 200 mil hectares deve ser confirmado, porém, não se espera um incremento na safra do estado, justamente em função desse menor potencial produtivo da oleaginosa.
Região por Região
No Paraná, o plantio da soja evoluiu para 84% até o último dia 17 de novembro, conforme dados divulgados pelo Deral (Departamento de Economia Rural). Na semana anterior, a área cultivada estava em 75%.
Até o momento, cerca de 87% das lavouras da oleaginosa apresentam boas condições, 12% têm condições regulares e 1% estão em situação ruim. Ainda assim, os relatos vindos dos campos paranaenses já indicam que as plantações da oleaginosa não estão se desenvolvendo da maneira como deveriam.
Segundo o produtor rural de Assis Chateaubriand (PR), Edson Martins Jorden, as plantações, especialmente, as semeadas entre o período de 15 a 20 de setembro deverão apresentar uma redução no rendimento. “As chuvas registradas recentemente contribuíram para as plantações, mas já temos perdas, só que ainda não podemos quantificar. As plantas estão bem distantes do que estavam no ano passado”, afirma o produtor.
Já no Mato Grosso do Sul, de acordo com informações do sistema Sigaweb da Aprosoja MS, até o dia 14 de novembro cerca de 75% da área havia sido plantada. O índice representa um atraso de 26,3% em relação ao mesmo período do ano passado, quando a semeadura da oleaginosa já havia sido finalizada.
O atraso é decorrente das condições climáticas, uma vez que as precipitações ainda permanecem esparsas. “Iremos colher menos do que estávamos projetando inicialmente. A expectativa inicial é de uma redução na produtividade em torno de 20 mil toneladas. A projeção para a safra 2014/15 no estado era de 6,5 milhões de toneladas e agora deveremos colher 6,3 milhões de toneladas. Ainda podemos diminuir essas estimativas, caso tenhamos chuvas no final do ciclo, no momento da colheita”, destaca o analista de grãos da Famasul, Leonardo Carlotto.
No estado de Mato Grosso, o cultivo da soja atingiu 84,14% durante essa semana, segundo dados do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária). Ainda assim, o número representa um atraso de 9% em comparação com o ano anterior, quando no mesmo período os trabalhos nos campos estavam próximos de 93,15%. A região do Médio-Norte é a mais adiantada, com 91,50% da área semeada, enquanto que, o Nordeste exibe ritmo mais lento com apenas 57,69% da área plantada.
Em Tangará da Serra (MT), em torno de 75% da área com a soja já cultivada até o momento. Em igual período de 2013, o plantio do grão já alcançava 90%. “Apesar das chuvas irregulares, escassas, o desenvolvimento das lavouras ainda está, de certa forma, normal. Já nas regiões próximas, Campo Novo do Parecis e Brasnorte, a situação é mais preocupante, pois tivemos problemas também de replantio das áreas”, explica o delegado da Aprosoja MT, no município, Clóvis Félix de Paula.
Na região de Rio Verde (GO), o plantio da soja alcança 95% da área estimada para essa safra, porém, as chuvas irregulares permanecem preocupando os produtores rurais. As precipitações esparsas já comprometem o desenvolvimento da variedade super precoce e podem afetar a produtividade das lavouras. Na localidade, o rendimento médio é de 60 sacas do grão por hectare.
“As chuvas estão abaixo da normalidade e afetam as plantações que estão em plena floração, começando a fase de enchimento de grãos. Já as lavouras cultivadas entre os dias 25 a 15 de novembro, ainda estão nascendo e não apresentam perdas e se tivermos chuvas conseguiremos ter uma produção dentro da normalidade”, destaca o produtor rural do município, José Roberto Brucelli.
A situação também se repete em São Paulo, um dos lugares mais afetados com a estiagem, uma vez que as precipitações permanecem esparsas. Em Assis (SP), uma das regiões mais importantes na produção de soja do estado, a semeadura do grão permanece atrasada e atinge apenas 80% da área projetada.
Devido ao clima, o plantio do grão que deveria ter sido iniciado em 15 de outubro começou no final do mês e início de novembro. Cenário que também pode afetar o rendimento final das lavouras de soja na localidade.
No Nordeste, na região de Balsas (MA), semeadura do grão também estava mais lenta, em função das chuvas irregulares. Mesma situação de Alvorada, município de Tocantins, onde os trabalhos nos campos permanecem atrasados devido à situação climática.
Em contrapartida, em Cruz Alta (RS), o excesso de chuvas tem dificultado o avanço do plantio da soja. Cerca de 25% da área tinha sido semeada até a metade do mês de novembro, contra 50% registrado no mesmo período do ano anterior, conforme ressalta o presidente do Sindicato Rural do município, Airton Carlos Becker. Ainda assim, a situação não afeta as lavouras que já foram cultivadas.
Fonte: Notícias Agricolas