No início de novembro, a Conab previu que os quatro Estados, juntos, vão colher entre 9,75 milhões e 10,2 milhões de toneladas de soja nesta temporada – ou 11% do total nacional. Se confirmado, o volume poderá ser até 17,2% maior que as 8,7 milhões de toneladas de 2013/14 (antes dos problemas com a seca, a expectativa girava em torno das 9,2 milhões de toneladas).
À exceção do oeste da Bahia, onde a umidade ainda está em níveis considerados adequados, a situação é especialmente grave nas regiões produtoras do Maranhão e do Piauí. “Estou no Piauí há 23 anos e nunca vi um clima tão seco nesse período quanto agora”, afirma Altair Fianco, produtor em Uruçuí. Sem precipitações há pelo menos 12 dias, calcula-se que 50% da área prevista para a soja (em torno de 700 mil hectares) esteja plantada no Estado, quando o normal seriam 70%. “Estamos todo esse tempo com os trabalhos parados, e o que já foi plantado está sofrendo muito. Já há até relatos de replantios”, diz.
O calor excessivo tem gerado dificuldades adicionais no Piauí. “As temperaturas têm ‘beliscado’ os 40ºC, quando o comum para esta época do ano seria 32ºC ou 33ºC”, diz o agricultor. Fianco ressalta, porém, que a semeadura ainda está dentro da janela ideal e que o potencial de produtividade permanece na casa de 50 sacas por hectare. “Podemos estender o plantio até 20 ou 25 de dezembro sem comprometimento de safra, mas precisa chover logo e estamos apreensivos”, afirma ele.
Como o Piauí, o Maranhão enfrenta uma seca desde meados de novembro e tem ritmo de plantio bastante irregular. “Há áreas do Sul do Estado [onde se concentra a produção] em que 70% da cultura já está plantada, enquanto outras têm apenas 30% a 40%, com os trabalhos prejudicados pela falta de umidade”, diz Isaias Soldatelli, sojicultor em Balsas e presidente da Aprosoja-MA, que representa os produtores locais de grãos. Há um ano, lembra, a semeadura da soja já estava concluída.
Nesta safra 2014/15, a área com soja no Maranhão pode crescer até 8%, a 715,2 mil hectares, prevê a Conab. Com a indicação dos mapas meteorológicos de que as chuvas podem voltar à região no fim da semana, a expectativa é que as máquinas retornem ao plantio. “Devemos ter perdas, mas mesmo com o atraso, se a chuva vier bem, ainda poderemos ter um rendimento em torno de 45 sacas por hectare”, afirma Soldatelli. O golpe mais duro, prevê, será na segunda safra de milho, plantada após a colheita de soja. “A tendência é cortar pela metade, para cerca de 100 mil hectares”.
Na Bahia, a estiagem atrasou em cerca de 15 dias o início do plantio de soja, mas as precipitações vieram no começo de novembro e permitiram ao Estado entrar em dezembro com os trabalhos quase encerrados. “Estamos com cerca de 90% já plantados e devemos finalizar esta semana”, prevê Luiz Stahlke, assessor de agronegócios da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba).
Para Stahlke, as lavouras de soja implantadas mais cedo na Bahia podem “sofrer um pouco mais”, mas se as boas condições de umidade persistirem, ainda será possível obter até 57 sacas por hectare – bem acima da safra 2013/14, quando a seca e o calor derrubaram a média para 42 sacas. Nas contas da Aiba, a soja deve cobrir 1,4 milhão de hectares em 2014/15 no Estado, quase 7% acima do ciclo passado, avançando sobre áreas novas e algumas antes cobertas por milho e algodão. A Conab prevê números menores: até 1,37 milhão de hectares e rendimento médio de 47,6 sacas por hectare.
Já em Tocantins, as chuvas têm sido regulares e ao menos metade dos cerca de 800 mil hectares estimados para a soja no Estado está semeada. Porém, com previsões de menos precipitações no centro-norte de Tocantins (que engloba a região de Pedro Afonso) a partir desta semana, os agricultores entraram em alerta. “Alguns estão pensando em segurar o plantio por conta da indicação de falta de chuvas”, conta Genebaldo de Queiroz, supervisor do departamento de grãos e oleaginosas da Secretaria de Estado da Agricultura.
Fonte Valor