No Sul do Brasil, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul recebem chuvas um pouco melhores, mais bem distribuídas e volumosas. No entanto, em algumas regiões produtoras gaúchas, o excesso de precipitações também têm causado problemas, como em Alegrete nas lavouras de arroz.
O agrometeorologista explica que, no final da próxima semana, entre os dias 22 e 23 de janeiro, uma nova frente fria deve chegar ao Brasil, rompendo um bloqueio atmosférico que está localizado na região central do país, favorecendo a chegada das chuvas às regiões mais necessitadas.
Até que esse fenômeno se confirme, porém, perdas já são registradas para a soja, milho, café, feijão, laranja, cana-de-açúcar, tomate, cebola e hortaliças. “Há problemas sérios de desenvolvimento para quase todas as culturas do Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil”, afirma Santos. Afinal, além das chuvas irregulares, as temperaturas seguem bastante elevadas.
De acordo com informações da Climatempo, até o próximo dia 19, as chuvas em Goiás e Mato Grosso do Sul não devem passar de 50 mm acumulados, entre 50 e 75 em Mato Grosso e no sul do Tocantins esse volume não chega a 20 mm. Já no Rio Grande do Sul e Paraná, a partir desta quarta-feira (14), a chegada de uma frente fria pode provocar acumulados de até 100 mm.
“No período de 18 a 22 de janeiro, uma frente fria consegue chegar ao Sudeste do país e aumenta as condições de chuva em parte da Região. Os maiores volumes previstos são para o Sul de Minas Gerais”, informou o boletim climático semanal para a agricultura da Climatempo.
Soja – Região por Região
Nesta temporada, o clima tem sido uma preocupação desde o início do plantio da soja. Em muitas localidades, especialmente no Centro-Oeste, o cultivo da oleaginosa ficou atrasado devido à ausência de chuvas. Com o início da colheita em algumas localidades, o que já se percebe é que as lavouras plantadas mais cedo, as mais precoces, são as que sofrem mais e já apresentam uma produtividade mais baixa do que as projeções iniciais.
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) divulgou, na última sexta-feira (9), sua estimativa para a safra brasileira de soja em 95 milhões de toneladas. No entanto, o número é resultado de um período de estudo e levantamento em que as lavouras não vinham sofrendo tanto com o quadro climático e deverá ser revisada, segundo consultores e analistas de mercado, já que a colheita não deverá alcançar esse número.
Para Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting, a safra brasileira dificilmente passará de 93 milhões de toneladas e estima algo entre 91 e 93 milhões. Sua expectativa é semelhante à última projeção da consultoria FCStone, de 93,5 milhões de toneladas.
Centro-Oeste – Em Mato Grosso, diversas regiões importantes na produção de grãos ainda sofrem com as chamadas “chuvas de manga”, localizadas e de pouquíssimo volume, além das elevadas temperaturas. E essas precipitações não conseguem nem umedecer o solo de forma adequada para trazer algum alívio para as plantadas.
Em Canarana, por exemplo, o produtor rural Marcos da Rosa afirma que os prejuízos são uma realidade, bem como a quebra na safra brasileira. “Eu nunca tinha visto um pé de soja secar em Mato Grosso e esse ano eu vi. A situação é bastante séria”, relatou.
Em Sinop, importante região produtora do estado, as altas temperaturas e as precipitações em menor volume também são uma preocupação dos produtores. “Em 35 anos que estou no estado, essa é a primeira vez que vejo uma situação como essa, sol forte todos os dias, com temperaturas que chegam a 45º graus ao longo dia e as chuvas na medida. É um cenário muito preocupante”, destaca o vice-presidente do Sindicato Rural do município, Leonildo Barei.
Segundo informações do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), até o momento cerca de 2% da área cultivada nesta safra foi colhida. Por enquanto, a produtividade média gira em torno de 52,9 sacas do grão hectare, número acima as expectativas, devido à grande parte das áreas colhidas ser de pivô.
Além disso, o clima mais seco tem contribuído para a alta incidência da mosca branca e da lagarta falsa medideira nas plantações de soja. Na região de Lucas do Rio Verde (MT), uma das mais afetadas com o ataque das pragas, algumas microrregiões não recebem chuvas há mais de 12 dias. Frente a esse quadro, a expectativa é de redução na produtivdiade que pode chegar até a 4 sacas do grão por hectare e também há o aumento nos custos de produção que pesa no bolso dos agricultores.
Em Laguna Carapã, no Mato Grosso do Sul, o sol forte e a ausência de chuvas, de mais de 15 dias, também comprometeu o desenvolvimento da soja. “O sol forte veio e cozinhou as lavouras na região. Em áreas de variedade super precoce e precoce, o rendimento médio pode ficar próximo de 40 sacas por hectare, contra 60 sacas por hectare previstas inicialmente”, explica o técnico agrícola da cidade, Antônio Rodrigues Neto. Outros municípios, como Aral Moreira, Naviraí, Dourados, Caarapó e Nova Alvorada também enfrentam o mesmo problema.
No estado de Goiás, há algumas regiões onde não chove há mais de 20 dias. “Já começam a se falar em perdas em quase todas as nossas regiões produtoras, inclusive na mais importante, entre o Sul e Sudoeste goiano. Ainda é difícil mensurar, no entanto, o tamanho dessas perdas”, explica o consultor técnico do sistema Faeg Senar, Cristiano Palavro. “E como não temos previsões futuras muito animadoras, essa situção pode se complicar ainda mais”, completa.
Para o representante da Faeg (Federação de Agricultura do Estado de Goiás), a projeção inicial de uma safra de soja de 10 milhões de toneladas no estado não deverá ser alcançada, até mesmo porque a situação é mais delicada ainda depois que o plantio desta temporada foi atrasado também por adversidades climáticas e fez com que as lavouras adotassem um ritmo mais lento de desenvolvimento em relação ao passado.
Quase todas as lavouras goianas de soja estão na fase inicial de desenvolvimento e enchimento de grãos, o que traz uma preocupação maior caso não sejam registradas boas chuvas nos próximos 5 a 10 dias. “Poucas lavouras estão em maturação, no final do ciclo, então, os prejuízos tendem a ser maiores do que no ano passado”, afirma o consultor. Para o milho, a situação é semelhante, bem como no caso do feijão.
Sul – No Paraná, principalmente no oeste do estado, já é possível ver o reflexo do clima irregular no rendimento das plantações. Em Assis Chateaubriand, os produtores iniciaram a colheita na semana anterior e a produtividade das primeiras áreas está em 30 sacas do grão por hectare.
“As plantas cultivadas na segunda quinzena de setembro, sofreram com veranico de 25 dias e muito sol. Com isso, não apresentou bom desenvolvimento vegetativo e no momento do enchimento de grãos, as precipitações também ficaram abaixo do ideal. Na safra passada, o rendimento médio ficou entre 50 sacas a 60 sacas de soja por hectare”, explica o presidente do Sindicato Rural da cidade, Valdemar Melato.
Em Toledo, a estimativa inicial também é de redução na produtividade das lavouras cultivadas logo após o vazio sanitário, a partir do dia 16 de setembro. “Nessa época tivemos chuvas excessivas e a terra esfriou, a soja não desenvolveu bem, está com problemas de altura e número de vagens reduzido, o rendimento não será muito bom nessas primeiras áreas e pode ficar próximo de 45 sacas do grão por hectare”, diz o presidente do Sindicato Rural da cidade, Nelson Paludo.
Na região de Santo Ângelo (RS), as chuvas têm aparecido e as lavouras de soja apresentam boas condições, conforme destaca o presidente do Sindicato Rural da cidade, Claudio Duarte. Nesta temporada, os produtores ainda enfrentam alguns problemas em relação à lagarta Helicoverpa.
Em seu último boletim informativo, a Emater reportou que, boa parte das plantações da oleaginosa estão em fase de desenvolvimento vegetativo e bom potencial produtivo. Em algumas localidades onde houve chuvas excessivas, os agricultores aguardavam a melhora climática para realizar as aplicações visando proteger as lavouras contras as doenças, principalmente a ferrugem asiática.
Sudeste – No Sudeste, as chuvas permanecem irregulares e em algumas regiões, como Unaí (MG), a estiagem completa 23 dias nesta quarta-feira (14). A situação é bastante preocupante, uma vez que as lavouras de soja estão em fase de enchimento de grãos.
Consequentemente, o produtor rural da cidade, Régis Wilson, já sinaliza que as perdas na soja precoce pode chegar a 10 sacas por hectare. “Esperavámos colher em torno de 60 sacas de soja por hectare, mas agora, a estimativa caiu para 50 sacas por hectare. O milho, que está em fase de pendoamento, também foi afetado e deverá ter o rendimento afetado. A cultura do feijão apresenta a situação mais grave e as perdas podem ultrapassar 50%”, ressalta.
Norte – Na região de Darcinopólis, no estado do Tocantins, o cenário também preocupa os produtores. As chuvas, com baixo volume acumulado, registrada nos últimos dias, apenas amenizou as condições das lavouras de soja.
“Depois de 19 dias sem chuvas, as precipitações retornaram à nossa região, mas apenas amenizam as condições das plantas. Nas áreas de solo arenoso, as perdas na produtividade podem ficar entre 15% a 20%. Ainda esperamos que as chuvas recupere o potencial das lavouras cultivadas mais tarde”, afirma o produtor rural da cidade, Marcílio Fernandes Marangoni.
Ainda assim, a expectativa é que o rendimento médio de outras áreas compense as perdas em algumas localidades. A produtividade média da região gira em torno de 49 a 50 sacas de soja por hectare.
Fonte: Notícias Agrícolas