O Estado de Mato Grosso do Sul tem muito mais do que apenas fronteiras com Paraná e Mato Grosso, os dois maiores produtores de soja do país. Nos últimos anos, os sul-mato-grossenses vêm lançando mão de uma série de investimentos em técnicas mais avançadas de cultivo e na estrutura das fazendas, que caminham para levar a produção a outro patamar.
“Houve uma mudança de perfil de tecnologia surpreendente de quatro anos para cá, possivelmente porque os preços da soja também foram favoráveis”, diz Marcos Rubin, sócio da Agroconsult.
O risco de problemas climáticos no Estado, bastante exposto a veranicos, costumava afugentar investimentos mais pesados. Mas, na medida em que ficaram mais capitalizados, os produtores locais de grãos começaram a turbinar os aportes em adubação (há solos mais arenosos na região), variedades com maior rendimento e maquinários. Essa mudança também coincide com o avanço em Mato Grosso do Sul de cooperativas agropecuárias tradicionais do Paraná (a exemplo de Coamo e Lar), no vácuo das crises financeiras de algumas cooperativas locais.
“Desde 2010, investi R$ 6 milhões em tratores, colheitadeiras e plantadeiras”, diz Nédio José Anzilago, de Aral Moreira, no sudoeste de Mato Grosso do Sul. Ele personifica a emergente categoria dos produtores de vanguarda no Estado. “Este ano, devo investir mais R$ 1,5 milhão em plantadeiras”.
A família Anzilago chegou à cidade na década de 1970, vinda de Concórdia (SC), e na época ocupou 20 hectares. Hoje, já toca 2,3 mil hectares cobertos com soja, em terras que se estendem até o Paraguai. A produtividade esperada para a atual temporada 2014/15 é de 60 a 65 sacas por hectare, semelhante à do ano anterior, mesmo com a seca que afetou as lavouras entre o fim de dezembro e janeiro.
Em Ponta Porã, também na divisa com o Paraguai, os irmãos Ademir e Walter Galende preveem uma média acima de 50 sacas, ante as 45 do ciclo passado. “Plantamos soja de 120 dias de ciclo e com 100 dias já estávamos colhendo, já que as altas temperaturas aceleraram a maturação da planta. Mas a lavoura está melhor este ano, choveu bem no plantio”, conta Ademir.
As regiões mais atingidas pela estiagem estão no sul do Estado, em municípios como Naviraí, Caarapó e Laguna Carapã, indicam avaliações de campo conduzidas pelo “Rally da Safra” e acompanhadas pelo Valor esta semana. Já na região de Maracaju e Dourados, no centro-sul, o potencial das lavouras não está totalmente definido e ainda é necessário que o clima colabore nas próximas semanas. Mas as perspectivas são positivas.
Dados divulgados ontem pela Conab indicam que Mato Grosso do Sul deverá colher 6,9 milhões de toneladas de soja em 2014/15, 12,2% mais que em 2013/14, o que coloca o Estado na quinta posição entre os maiores produtores da oleaginosa no país. A área plantada cresceu 8,5% na comparação, para 2,3 milhões de hectares. Ao que tudo indica, assim, a disputa de terras na região que opõe a soja à cana e às pastagens só tende a ficar mais acirrada no futuro próximo.
Fonte: Valor