Os produtores de soja de Mato Grosso pegaram carona na disparada do dólar em março e fecharam os primeiros negócios relativos à safra 2015/16. Ainda que até agora as vendas tenham sido pontuais, as negociações da colheita esperada para o próximo ciclo começaram antes que no ano passado, quando a comercialização da produção de 2014/15 levou mais tempo para deslanchar.
As primeiras vendas referentes à oferta de 2015/16 foram feitas com a saca da soja negociada entre R$ 54 a R$ 56 em Sorriso, segundo Francisco Peres, da Labhoro Corretora de Mercadorias.
Diferentemente de outros anos, desta vez os negócios foram todos fechados em reais, já que os compradores têm resistido em fazer transações em dólar, que subiu 11,8% em relação à moeda brasileira no mês passado e mais do que compensou a queda dos preços no mercado internacional. Em março, o preço médio dos contratos da soja de segunda posição negociados em Chicago registraram baixa de 1,37% ante a média do mês anterior, para US$ 9,8326 o bushel (medida equivalente a 27,2 quilos).
Até fevereiro, os produtores estavam tentando travar suas vendas da próxima safra apenas acima de US$ 12 o bushel. “A partir de março, o produtor começou a se convencer da nova realidade de preços”, diz o corretor. Conforme Peres, o preço que os produtores agora buscam para fechar negócios é US$ 10 o bushel para a safra de 2015/16.
O volume, no entanto, até agora é bastante limitado e o ritmo de comercialização da próxima safra continua abaixo dos patamares dos ciclos anteriores ao que está terminando (2014/15), quando as vendas antecipadas tiveram início em fevereiro, ainda durante o período de colheita da safra vigente. “Os preços em Chicago estão decepcionantes”, afirma o corretor.
Já a comercialização da safra 2014/15, que está particularmente lenta, avançou de 5 a 10 pontos percentuais em Mato Grosso em março, calcula Peres. Os produtores estão na reta final da colheita, que chegou a 97,5% da área plantada na quintafeira, de acordo com o Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea).
O dólar valorizado também não significa que a comercialização da produção da temporada 2015/16 será acelerada, ainda que as primeiras transações tenham saído. Pelo contrário: a perspectiva é que as vendas sejam cada vez mais “truncadas”, com uma queda de braço cada vez mais acirrada entre compradores e vendedores.
“Ao que tudo indica, 2015 desenha uma mudança de paradigma, que reflete o recuo de todas as commodities”, avalia o corretor da Labhoro.
Além disso, oscilações muito bruscas do dólar podem segurar as vendas. “Quando o câmbio está muito volátil, o mercado fica instável e o produtor se retrai”.
Fonte: Valor Econômico