Animados pela contínua valorização do dólar sobre o real, os produtores de Mato Grosso negociaram até o início de setembro 40,1% da soja que devem colher nesta safra 2015/16, cujo plantio está oficialmente liberado a partir de hoje no Estado.
O número, divulgado ontem pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), traz um avanço de 11 pontos percentuais ante agosto e reflete a preocupação dos agricultores em aproveitar aquela que tende a ser a última janela de comercialização antes que a abundante safra americana chegue ao mercado, o que acontecerá dentro de poucos dias.
Líder no cultivo de grãos no país, Mato Grosso engatou um ritmo de comercialização bem mais acelerado que um ano atrás, quando os baixos preços da oleaginosa desestimularam os agricultores e se traduziram em vendas de apenas 11,1% da produção até aquele momento. O atual nível também é superior aos 38,5% de setembro de 2013, mas ainda aquém dos 61,4% do mesmo mês de 2012, quando a soja atingiu o preço recorde de US$ 17 por bushel na bolsa de Chicago.
“No último mês, o preço médio de venda foi o maior desde o início das negociações da safra 2015/16, de R$ 57,97 por saca, superando em mais de R$ 16 por saca os valores de 2014”, disse o Imea, no boletim. A expectativa do instituto é que Mato Grosso colha 29,07 milhões de toneladas de soja neste ciclo, 3,5% acima de 2014/15. Da safra deste ano, já colhida no Estado, resta muito pouco a ser comercializado – cerca de 5% da produção.
Na avaliação de Glauco Monte, consultor da FCStone, o câmbio vem sendo decisivo para dar velocidade às vendas, uma vez que tem deixado o preço da saca em real acima da média para o período no mercado doméstico. “Em todo o Brasil, entre 30% e 40% da nova safra de soja já deve estar vendida”.
Mesmo o Paraná, segundo maior produtor de grãos do país e historicamente menos dedicado às vendas antecipadas, já comprometeu até o início deste mês em torno de 25% da soja que prevê colher em 2015/16, nas contas do Departamento de Economia Rural (Deral), vinculado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Estado. Um ano atrás, eram apenas 2%, e a média para os últimos três anos é de 9%.
Para Monte, a tendência é que a negociação de soja no Brasil perca um pouco de ímpeto nas próximas semanas, sobretudo porque a maior oferta vinda dos EUA aumenta a competitividade do produto daquele país. “Agora, se o dólar der uma “estilingada” e passar dos R$ 4, as negociações da soja brasileira podem continuar avançando”, pondera.
No caso da safrinha de milho, que será plantada na sequência da colheita da soja no Estado, as negociações em Mato Grosso também vão de vento em popa, de acordo com o Imea. Nas contas da entidade, os agricultores locais já comercializaram 33,43% da safrinha de milho que será plantada apenas no início de 2016, ao preço médio de R$ 16,2 por saca. Há um ano, não havia registro de nenhuma venda antecipada do grão. Em relação à safrinha recém-colhida, quase 85% da produção está comercializada, também muito à frente dos 51,24% de setembro de 2014.
Fonte: Valor Econômico