O caos está instalado na BR-163 no trecho entre Cuiabá/MT e Santarém/PA. O excesso de chuvas das últimas semanas tem dificultado o escoamento de grãos do Centro-Oeste para o porto de Miritituba, no Pará. As precipitações combinadas às más condições da rodovia BR-163 criaram um caminho intransitável, congestionamento de caminhões e a soja da nova safra espalhada pelas estradas.
Como explica Luis Felipe Di Domenico, diretor da DDB Agronegócios, de Guarantã do Norte até os terminais de Miritituba são cerca de 700 quilômetros e desses, aproximadamente, 150 são de estradas de chão, sem asfalto. E onde há asfalto, há pontes de madeira que estão caindo. “Ou seja, concluíram o asfalto, não as pontes. Tem um atoleiro de 35 km com uma fila de mais de 50 quilômetros entre 3 Boeiros e o Caracol”, diz.
Vídeo: Assista também a entrevista com Edeon Vaz Ferreira
Em entrevista ao Notícias Agrícolas, o diretor-executivo da Associação dos Transportadores de Carga de Mato Grosso (ATC-MT), Miguel Mendes, afirmou que nesta sexta-feira (24) está sendo realizada uma reunião de emergência no Palácio do Planalto para que seja traçado um plano de ação para amenizar a situação na rodovia Cuiabá-Santarém. São cerca de 4 mil a 5 mil caminhões no congestionamento.
Segundo Mendes, estarão reunidos a cúpulo do governo, o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), o Ministério dos Transportes, a Polícia Rodovia e mais lideranças e autoridades com o objetivo de definir uma estratégia para que ao menos as obras emergenciais comecem a ser realizadas. “E já há uma solicitação também da suspensão das ordens de carregamento na região. A orientação é de que não mandem mais caminhões para lá porque a situação ainda é muito séria, muito crítica”, diz.
Tanto Mendes, quanto Domênico relatam ainda a situção preocupante em que se encontram as pessoas. Há caminhoneiros com suas famílias no local, “em condições degradantes”, segundo o diretor da ATC-MT. “Os motoristas estão sem dinheiro para comer, coletando água da chuva para beber, fazer comida e tomar banho. As tradings e transportadoras maiores estão fornecendo alimentação onde chegam os veículos”, disse o diretor da DDB.
E os problemas no pós colheita, em meio a este caos, se multiplicam. “O Nortão de Mato Grosso já está sem espaço para recebimento. Justamente em um momento crítico, onde estamos colhendo soja com um alto grau de avariados, devido as chuvas da semana passada e que pode comprometer a qualidade do grãos dentro dos armazéns”, diz Domênico. “E o fato mais grave é que está iniciando a safra de arroz no MT e os armazéns estão sem espaço físico para receber este produto, que é a principal fonte de nossa alimentação”, completa.
O quadro já começa a gerar revolta e protestos, já que o ambiente é de muita tensão e cansaço. Alguns caminhoneiros, justamente para protestar, estão despejando a soja na rodovia. Além disso, imagens mostram caminhões depredados.
As imagens a seguir são de produtores que estão escoando soja de Mato Grosso para o porto paraense. Os municípios de Trairão e Novo Progresso, no estado da região Norte, já decretaram situação de emergência e há, até mesmo, comunidades isoladas devido à essa situação. Há muitos trechos, afinal, onde as rodovias ainda não foram asfaltadas.
Um vídeo que circula pelas redes sociais mostra a enorme fila de caminhões no trecho Cuiabá-Santarém.
As lideranças do setor, como a Aprosoja MT, já está levantando as informações e se reunindo para tentar amenizar os efeitos desses problemas.
Segundo o caminhoneiro Danilo Júnior Gigliott, que também enfrentou o problema, o cenário se agravou na região e muitos motoristas e suas famílias já passam necessidades. “Há muitas mulheres e crianças no local ainda e caminhões pipas estão ajudando no abastecimento de água”, destaca. O caminhoneiro demorou 6 dias para percorrer um trajeto de 35 km na região. “Fiquei a semana anterior parado tentando concluir o percurso de Sinop (MT) até Miritituba (PA)”, completa.
Fonte: Notícias Agrícolas