Uma safra de soja pode ser dividida em muitas tarefas para que tudo dê certo no final, com boa produtividade e rentabilidade. O produtor rural sabe que, antes de plantar, precisa negociar os insumos, assim como a sua entrega, adequar o solo para o recebimento das sementes, semear, aplicar corretamente os adubos, fertilizantes e agroquímicos, vender parte da produção para garantir os custos, colher, vender o restante da safra e se programar para a próxima.
Especialista explica de maneira simples como a Bolsa de Mercadorias pode ser útil na comercialização de grãos. Ter preço garantido ou mesmo receber a diferença se a saca se valorizar são algumas possibilidades neste universo nem tão complicado assim
Daniel Popov, de São Paulo
Uma safra de soja pode ser dividida em muitas tarefas para que tudo dê certo no final, com boa produtividade e rentabilidade. O produtor rural sabe que, antes de plantar, precisa negociar os insumos, assim como a sua entrega, adequar o solo para o recebimento das sementes, semear, aplicar corretamente os adubos, fertilizantes e agroquímicos, vender parte da produção para garantir os custos, colher, vender o restante da safra e se programar para a próxima.
Em termos de produção agrícola, boa parte dos produtores sabe bem o que e como fazer, o ideal é a minimização dos custos de produção através dos cortes de despesas supérfluas e da melhor eficiência no processo de produção. Mas, na comercialização dos grãos a coisa poderia ser bem melhor garante o consultor de mercado e autor do livro “O Segredo do grão”, Marcos Araujo. Na publicação, é demonstrada e explicada algumas estratégias e mecanismos sobre a comercialização da soja, justamente para ajudar o produtor a entender que, às vezes, o lucro de uma safra bem feita está indo ralo abaixo por causa de vendas erradas e mal feitas. Veja mais informações no site de O Segredo do Grão.
O que é mercado de derivativos e porque isso é importante?
Um velho ditado já dizia que cada macaco deve ficar em seu galho – mas falta dizer que, se lá permanecer, sem se arriscar, ele morrerá de fome. A mesma coisa vale para a agricultura. Já não há espaço para agricultores não profissionalizados, que não busquem novos métodos para ampliar a produção e negociar a colheita, para obter boa rentabilidade.
O mercado de derivativos é uma importante ferramenta para ajudar na venda dos grãos. Os derivativos podem ser definidos como instrumentos financeiros cujos valores dependem ou derivam dos valores de outros ativos. Um exemplo é o contrato de opções (put – opção de venda e call – opção de compra) dos grãos, onde o valor das opções da soja varia de acordo com o a cotação da oleaginosa no contrato futuro. Ok, parece complicado, mas explicando ficará mais fácil. E é isso que vamos fazer adiante, enquanto esclarecemos cada uma das opções.
“Não se pode dizer que uma operação com derivativos é um investimento; na realidade é uma proteção hedge contra riscos de preços. Ou seja, a ideia é se proteger contra oscilações nos preços da soja, no câmbio entre outros. Se considerar a situação atual que, as cotações da oleaginosa não estão ruins no mercado internacional, mas o câmbio baixo inviabiliza as vendas, com estes recursos muitas vendas já estariam travadas”, afirma Araujo.
O mercado de derivativos pode ser dividido em a termo, futuro e opções.
Contrato a Termo (forward):
Nesta modalidade, o vendedor e o comprador se comprometem a negociar certa quantidade de soja, com preço fixado na hora do acordo, para entrega do produto em uma determinada data futura. Ou seja, é fechado um termo de compromisso entre as partes que será liquidado conforme o contrato, com preço, quantidade, local e data de entrega. Neste caso, a negociação é feita diretamente entre o produtor rural (vendedor) e a cooperativa, trading ou cerealista (comprador). Este tipo de contrato é caracterizado por ocorrer fora do ambiente da Bolsa de Mercadorias.
Exemplo: o produtor rural João Silva quer negociar 10 toneladas de soja durante o mês de dezembro, enquanto as plantas ainda se desenvolvem. Ele procura uma trading interessada em fazer o contrato a termo naquele momento, que aceita receber os grãos no dia 10 de fevereiro, após a colheita.
O valor da saca de soja, para entrega em fevereiro, foi negociado entre as partes ao preço de R$ 70. Ao concordar com os termos propostos, o produtor rural e a trading assinam o contrato de compra e venda com entrega futura. Ou seja, o risco da contraparte é inerente neste tipo de negociação.
Portanto, no dia 10 de fevereiro, o produtor precisa entregar as 10 toneladas no local marcado, recebendo exatamente os R$ 70 por saca, conforme foi definido no momento da assinatura do contrato, durante o mês de dezembro.
Contrato futuro:
O contrato futuro funciona da mesma maneira que o contrato a termo, ou seja, trata-se de um acordo entre as partes para negociar uma mercadoria com data, local e preço predeterminados. A diferença é que a negociação aqui é feita com a Bolsa de Mercadorias, que padroniza todos os termos do contrato, exceto o preço, que é determinado no pregão viva-voz ou através do sistema eletrônico de negociação.
A liquidação do contrato futuro pode ocorrer por meio de entrega física da mercadoria ou pela liquidação financeira. As partes podem liquidar os contratos futuros a qualquer momento, mesmo antes do vencimento do contrato, por isso a grande maioria dos contratos futuros em Bolsa de Mercadorias é liquidada financeiramente, isto é, sem ocorrer a entrega da mercadoria.
O mercado futuro pode ser utilizado para minimizar riscos ou para potencializar retornos.
Exemplo: vamos supor que o produtor João Silva tenha colhido 1 mil sacas de soja, a um custo de R$ 40 mil no total. Imaginando que o preço da saca custasse em novembro R$ 45, o lucro dele seria de R$ 5 mil. Claro que o mercado não é estável. Em um piscar de olhos, devido à confirmação de uma grande produção mundial, por exemplo, o preço pode ter caído para R$ 30 a saca na hora de vender, em fevereiro. Nesse caso, aquele lucro se transformaria em prejuízo de R$ 10 mil, e dificilmente algum produtor venderia.
Para evitar isso, o produtor pode procurar uma corretora de confiança que opere na Bolsa de Mercadoria para negociar as mil sacas, por R$ 45 por saca, para entrega em fevereiro, preservando seu lucro. Nesse caso, mesmo que a saca tenha caído para R$ 30, o produtor venderia a sua soja por esse valor no mercado físico, para alguma empresa que queira comprar e ainda receberia R$ 15 a mais por saca na Bolsa de Mercadorias, referentes à diferença até dar R$ 45 para o preço atual (R$ 45 – R$ 30 = R$ 15).
Contrato de Opções:
Esta modalidade oferece ao comprador o direito (e não a obrigação) de vender ou comprar o contrato futuro com preço e data predeterminados. Assim como o contrato futuro, as opções são negociadas na Bolsa de Mercadorias.
Entretanto, esta modalidade é dividida em duas partes:
Opção de compra (call) – Conhecido popularmente como “chá de coragem”. É o direito de comprar o grão em questão, com preço e data para entrega predeterminados.
Exemplo: vamos imaginar que aquele produtor, o João Silva, tenha efetuado um contrato a termo (exatamente como o exemplo explicado acima no mercado a termo) e vendido sua soja para a trading por R$ 70 para entrega futura em fevereiro. Neste caso, o risco do João Silva é o preço continuar subindo e ele deixar de ganhar mais, uma vez que ele já assumiu um compromisso de venda da soja a R$ 70 (quando isso acontece, o vizinho de fazenda fala: “eu te falei para não vender, né?”).
Se o palpite de João Silva é que o preço realmente continue a subir, ele pode usar o mercado de opções para tentar ganhar esta diferença. Para isso, ele deve procurar a sua corretora e comprar uma call, que funciona como um seguro de alta na Bolsa de Mercadorias, com diferentes preços para a saca de soja. Considere que o produtor tenha comprado uma call com cobertura (strike) a partir de R$ 70, pagando um prêmio de R$ 1 por saca no ato da compra.
Cenário 1 – O preço da soja subiu para R$80
– Ele entregará o contrato a termo por R$70, para trading
– Aciona a call e fatura R$10 por saca
– Abate o custo inicial (prêmio) de -R$1 por saca
– E contabiliza um preço final de venda da soja R$79 por saca
Cenário 2 – O preço da soja caiu para R$60
– Ele entregará a soja do contrato a termo por R$70 para trading
– Não aciona a call
– Abate o custo inicial da operação (prêmio) de -R$1 por saca
– E contabiliza um preço final de venda da soja R$69 por saca
Ah lembra do vizinho de fazenda do Seu João Silva, no cenário 2 ele vai insistir que também vendeu a soja a R$70 mas você sabe que ele não vendeu né …
Opção de venda (put) – é o direito de vender o grão em questão, com preço e data predeterminados.
Exemplo: vamos supor que o João Silva não quis vender a soja a R$ 70 para a trading, por achar que o preço não estava tão bom e há perspectivas de que o preço suba. Então, ele vai na corretora de confiança, compra uma put, que funciona como um seguro de baixa de preço (isso mesmo o tão sonhado preço mínimo que precisamos). Considere que a put comprada tenha um strike de R$71 por saca e por isso pagou um prêmio no ato da compra por R$1. Faça sol ou faça chuva o seu João Silva garantiu o preço mínimo de R$70 (R$71 – R$1) e ainda que o preço da soja suba ele vai participar do mercado vendendo sua soja mais valorizada! Vamos ver como funciona.
Cenário 1 – O preço da soja caiu para R$60
– Ele venderá a soja no mercado físico, ao preço do dia (R$60 por saca)
– Aciona a put (seguro de baixa) e fatura na Bolsa R$11
– Abate o custo inicial da operação (prêmio) de -R$1 por saca
– E contabiliza um preço final de venda da soja R$70
Cenário 2 – O preço da soja subiu para R$80
– Ele venderá a soja no mercado físico ao preço do dia (R$80 por saca)
– Não aciona a put (seguro de baixa)
– Abate o custo inicial da operação (prêmio) de -R$1 por saca
– E contabiliza um preço final de venda da soja R$79
“Para o produtor rural a comercialização é tão importante quanto a produção do grão. Conhecer o funcionamento e os mecanismos para venda dos produtos permitem melhorar a eficiência e ter segurança nas tomadas de decisões. O resultado financeiro na produção agrícola depende da produtividade, custos de produção e o preço de venda do grão. Por isso é muito importante o produtor rural conhecer o custo de produção e a produtividade; desta forma ele saberá a que nível de preço deve vender o grão para obter um resultado financeiro satisfatório”, garante Araújo.
Para tirar dúvidas a respeito, comprar o livro ou obter mais informações sobre outros métodos de negociação basta acessar o site de O Segredo do Grão.
Fonte: Projeto Soja Brasil