Uma nota de otimismo é notada nas declarações do presidente da Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Marcos da Rosa, em meio à crise atual. Ele contou ao Broadcast Agro que, mesmo com as turbulências provocadas no País após a divulgação das gravações da JBS na semana passada, o Plano Agrícola e Pecuário 2017/18, em elaboração no governo federal, não deve sofrer grandes abalos. “A informação que temos é de que o Plano Safra está andando como sempre andou e nas mesmas condições. A única coisa que queremos são juros 2% menores em relação ao ciclo passado”, comentou o dirigente, que é produtor de grãos e pecuarista em Canarana, sudoeste de Mato Grosso. “O plano vai andar bem porque é a única alternativa que o governo federal tem para garantir uma inflação menor, independentemente de o presidente Michel Temer prosseguir no cargo ou não”, comentou.
Nesta safra, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projetou uma colheita recorde de grãos de 232,02 milhões de toneladas, avanço de 24,3% em relação ao ciclo 2016/17, ou 45,41 milhões de toneladas. Embora o clima tenha ajudado bastante as lavouras na atual temporada, os juros do crédito agrícola também são essenciais para estimular o produtor a investir mais na atividade e, consequentemente, na produtividade. “Se produzir menos a inflação sobe”, comentou Da Rosa.
Quanto a outras consequências para o agronegócio após a delação dos executivos da JBS, o representante da Aprosoja Brasil diz que os prejuízos “são muito grandes”. A começar pelas reformas trabalhista e previdenciária, que estavam em andamento e interessavam bastante ao setor, e que agora “estão paralisadas” até que se defina a situação. “Estamos nessa incerteza. O País parou”, lamentou Da Rosa. “E quando para, há prejuízo para o setor. O principal é a instabilidade do dólar, que tem atrapalhado principalmente a comercialização da safra de soja”, disse Da Rosa, acrescentando que até o momento apenas 50% da colheita 2016/17 da oleaginosa foi comercializada, ante a média histórica de 70% para este período do ano. “Isso é grave”, comentou.
Nem mesmo a disparada do dólar na semana passada, que estimulou produtores e tradings exportadoras a intensificarem a comercialização da oleaginosa, foi vista com bons olhos por Da Rosa. “O dólar disparou aqui, mas o bushel caiu no mesmo dia na CBOT, o que impediu ganhos importantes”, comentou ele, referindo-se à principal bolsa internacional de comércio da oleaginosa, em Chicago, nos Estados Unidos.
Outro efeito deletério da disparada do dólar, segundo o presidente da Aprosoja Brasil, é a alta nos preços dos insumos, como fertilizantes e defensivos, normalmente cotados na moeda norte-americana. “Com a subida do dólar o preço sobe imediatamente, encarecendo o custo do produtor que costuma se abastecer nesta época para a safra seguinte. Entretanto, com a queda da moeda norte-americana, esses preços não caem na mesma velocidade”, comentou.
Fonte: Tânia Rabello – Broadcast Agro