Em Mato Grosso, o preço da semente de soja está quase 40% mais cara nesta temporada, se comparada ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Em um ano, o valor da semente transgênica saltou de R$ 237 por saca, para pouco mais de R$ 329. Sendo o principal responsável pela alta nos custos de produção.
Dos itens que compõem o custo de produção da safra de soja 2017/2018, a semente transgênica é a que mais encareceu. Em algumas regiões do Mato Grosso, como a médio-norte, o gasto com as sementes cresceu 85% em um ano (dados do Imea, comparativo dos relatórios de junho 2016/2017 e 2017/2018). Na região norte, próximo a Nova Mutum, muitos produtores estão reclamando que as sementes encareceram 30%.
O produtor de soja Enéas Gláucio Batistella se antecipou e já finalizou toda a compra dos insumos que vai usar na safra de soja. Mesmo conseguindo um desconto de 18%, não ficou satisfeito e garantiu que a rentabilidade será afetada por conta desta elevação nos preços da semente transgênica. “Em relação ao ano passado, o custo com a semente ficou bem maior, em torno de 20% a 25% mais caro. Nosso investimento é alto e temos que tentar produzir bem para recuperar isso. Mas, um incremento de 25% nos custos onera muito a rentabilidade do produtor”, afirma ele.
Para o diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Sérgio Berticelli Triches, o custo das sementes é um dos temas que mais preocupa o setor e a entidade. “Saímos de patamares aonde fazíamos a conversão de 2 a 3 sacos por hectare para plantio da semente e distribuição, para níveis de 5, 6 até 7 sacos e meio por hectare hoje, dependendo da tecnologia que se adota. Eu me refiro a tecnologia RR e principalmente a Intacta com um custo maior. Os números estão aí para comprovar”, afirma Triches.
Na temporada 2016/2017, as sementes transgênicas representavam pouco mais de 11% no custo total das lavouras. Este ano, a participação deste insumo saltou para mais de 16%. No mesmo intervalo, os defensivos, fertilizantes e custos com maquinários diminuíram suas participações no custo total.
“A explicação dada por parte das produtoras e multiplicadoras de sementes, é que os investimentos são muito altos em tecnologias para conseguir estes melhoramentos. Acreditamos que realmente tem que haver estes investimentos, mas não nesta proporção”, afirma Trichês.
O diretor da Aprosoja-MT ainda relembra o caso recente divulgado pelo Canal Rural, sobre o pagamento de royalties pela Intacta, da Monsanto. Na ocasião, foi descoberto que produtor brasileiro pagar 150% a mais que os seus vizinhos Argentina e Paraguai. “Isso é uma discrepância muito grande para o produtor entender. Porque temos que pagar isso aí? Analisando de maneira racional sabemos que são economias diferentes, tributações diferentes, mas, temos certeza que os ganhos estão acima das expectativas que o produtor tem”, garante ele.
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Sojicultor brasileiro paga até 150% mais por royalties da Intacta que seus vizinhos
Sojicultores argentinos não pagam royalties por sementes salvas
Paraguai paga mais pelo royalty da Intacta se tiver excesso de produtividade
O aumento no preço das sementes tem feito os produtores de Mato Grosso optarem por produzirem a própria semente. Prática que gera polêmica, ainda mais quando o assunto é uma possível modificação na Lei de Cutivares. “Por conta deste alto custo das tecnologia, muitos produtores estão se adequando, criando estruturas para armazenar essas sementes e plantando seus campos com as próprias sementes, dentro da legalidade, tentando assim baixar um pouco os gastos”, diz o produtor Batistella.
Outro produtor defende que se os preços não fossem tão elevados muitos nem pensariam em salvar a semente. “Se o preço fosse melhor, não iríamos salvar sementes, pois existem riscos. Sem falar que não somos especializados nisso. Só faremos isso se a outra ponta for muito agressiva e continuar elevando o preço”, conta Nestor Poletto.
Aprosoja de Mato Grosso pede cautela e orienta os produtores a buscar alternativas. “Hoje, temos a soja RR que é livre de royalties. Temos também a soja convencional, que pode render um bônus na comercialização. Então o produtor tem que pesar e ver o que melhor se encaixa em sua realidade. Colocar na planilha de custos e ver o que é interessante”, finaliza o diretor da entidade.
Fonte: Projeto Soja Brasil