As estratégias de combate a ferrugem asiática adotadas pelo estado de Goiás foram as mais efetivas entre os estados produtores. A avaliação é da pesquisadora Cláudia Godoy, da Embrapa Soja, que participou na última terça-feira (10/10) de reunião nacional organizada pelo Ministério da Agricultura junto com órgãos federais em Brasília. Além do vazio sanitário, o estado também implantou a chamada calendarização do plantio, limitando até 31 de dezembro.
O vazio sanitário busca reduzir a sobrevivência do fungo causador da ferrugem asiática durante a entressafra e, assim, atrasar a ocorrência da doença na safra. A prática começou em Mato Grosso e Goiás, em 2006, sendo adotado nos anos seguintes nos demais estados, após comprovar sua eficácia.
Já a calendarização visa reduzir o número de aplicações de fungicidas ao longo da safra e, com isso, reduzir a pressão de seleção de resistência do fungo aos fungicidas. Existem três grupos químicos de produtos usados no controle da doença, sendo que dois já têm relatos de perda de eficiência isoladamente, só sendo recomendados em misturas. Um dos grupos foi registrado recentemente, mas infelizmente já estão aparecem os primeiros relatos de resistência do fungo na Região Sul.
De acordo com a pesquisadora, Goiás e Mato Grosso passaram a adotar a calendarização desde 2014, quando a Embrapa observou a queda da eficiência das estrobirulinas, um dos três grupos químicos de fungicidas. Isso acendeu a luz vermelha para a necessidade de aumentar as estratégias de manejo da ferrugem.
“Mato Grosso ampliou o vazio e implantou a calendarização, fechando a janela de semeadura por instrução normativa, mas depois derrubou a instrução. Só em 2015 a instrução foi retomada definitivamente. Portanto, o primeiro estado a implementar a limitação no período de plantio foi Goiás. E devido a isso, lá não apareceram mutantes na última safra para o último grupo químico registrado, as carboxamidas. A gente gosta de destacar Goiás porque foi o primeiro onde funcionou. Ao concentrar a semeadura, o produtor reduz a concentração de fungicida e atrasa o processo de seleção, que era a nossa hipótese, agora confirmada na prática”, afirmou.
Cláudia Godoy explica que, a apesar desta comprovação, a recomendação da Embrapa de limitar a janela de semeadura para atrasar este processo de resistência não está sendo adotadas nos demais estados.
“Ficou provado que era efetivo fechar a janela, porque reduz o número de aplicação de fungicidas na safra, diminuindo a pressão para residência do fungo. Em Goiás, até agora, a frequência de mutação praticamente não encontrou mudança. O ideal seria que todos os estados tivessem implementado em 2014. Mato Grosso do Sul, por exemplo, está implementando só agora. E esse calendário variou de estado para estado”, acrescentou.
Para Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Aprosoja Goiás, presente na reunião, valeu a pena apoiar a iniciativa junto com o órgão de defesa de Goiás. “Os produtores apoiaram a mudança no calendário de plantio pautados nas recomendações dos maiores especialistas da área, inclusive da Embrapa. Hoje estamos vendo na prática os benefícios desta decisão e esperamos que os demais estados também adotem”.
Durante o encontro foi debatida também a possibilidade de criação de um calendário nacional para o vazio sanitário, que atualmente é definido por cada estado.
“O fungo evolui muito rápido. Passaram-se quatro anos desde que orientamos os estados a adotar o vazio. Não dá para esperar. Fechar a janela de semeadura é uma estratégia para reduzir o número de aplicações e tentar preservar os fungicidas. Vai complicar muito o controle da ferrugem daqui pra frente. Ainda não está tarde. Ainda temos ferramentas para controlar de forma rigorosa em todos os estados para conseguir preservar essas moléculas”, concluiu Godoy.
Texto e edição: Aprosoja Brasil (61) 3551.1640