Representantes de algumas comunidades indígenas com vocação para a produção agrícola não aceitam mais ser tutelados pelo governo e pela Funai, não querem depender de cestas básicas e não se sentem representados pelas organizações não-governamentais (ongs), principalmente aquelas que recebem recursos do exterior. Eles querem produzir e prosperar.
As manifestações e críticas foram feitas durante uma audiência pública na Comissão de Agricultura da Câmara Federal nesta quarta-feira (18/10). O debate foi proposto pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e reuniu, em sua maioria, caravanas indígenas de vários estados, entre eles Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco, Rondônia e Maranhão.
De acordo com o produtor rural Christiano Bortolotto, que é presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja MS), os indígenas que estão um pouco mais próximo da cultura e civilização urbana querem produzir e buscar outro meio de vida para se desenvolver.
“Muitos deles querem desenvolver a produção, seja de mandioca, milho, frango, para se viabilizarem e entrar na economia formal. Eles enfrentam uma série de dificuldades e nós produtores procuramos dar algum apoio com o conhecimento que nós temos. Os sindicatos rurais, através do Senar, disponibilizam cursos de qualificação para eles terem uma produção mais sustentável e rentável”, afirmou.
“No dia a dia escutamos que eles querem acesso às tecnologia, às informações e às mesmas condições que nós produtores temos para produzir. O Estado tem de estar atento a estas demandas. É importante que eles produzam dentro de suas reservas. Que eles tenham condições não só de produzir, mas de comercializar, deixar o assistencialismo e entrarem na atividade econômica”, enfatiza ao lembrar que uma comitiva com 36 indígenas sul mato-grossenses participou da audiência.
“Nós queremos produzir, plantar e colher para sustentar a nossa família. Não viemos aqui para passear. Queremos levar respostas para as nossas bases”, pontuou Italiano Vazquéz, um dos líderes Guarani Kaiowá da cidade de Amambai.
“Viemos em busca de uma nova forma de melhoramento do sistema de atendimento ao índio. Temos de mudar este sistema para melhor, para que o índio produzir, plantar e vier do seu próprio sustento”, acrescentou Augusto Aquino.
O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado federal Nilson Leitão (PSDB/MT), disse ao final do debate que os índios devem ter o direito de decidir o seu futuro. “Os indígenas precisam decidir o que eles precisam o que eles querem. Se querem receber cestas básicas, tudo bem. Mas se eles querem produzir e prosperar, precisamos pensar em criar meios para isso. O Estado brasileiro não pode impedir os desenvolvimentos daqueles que querem crescer”, finalizou.
Texto e edição: Vinícius Tavares
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