Pesquisadores brasileiros e europeus estiveram esta semana nas regiões Sudeste e Nordeste do país para conhecer experimentos que estão sendo desenvolvidos para o gerenciamento de irrigação de precisão na vitivinicultura e na cultura da soja.
As atividades de campo integram o projeto Smart Water Management Platform (SWAMP), aprovado em 2017 na 4ª Chamada Coordenada Brasil-União Europeia em Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).
Entre os objetivos do SWAMP está a implementação de um sistema de sensoriamento e controle baseado em internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) para gerir o uso da água em dois projetos-piloto conduzidos pela Embrapa.
A vinícola Guaspari, em Espírito Santo do Pinhal, localizada na Serra da Mantiqueira, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, e a fazenda Rio de Pedras, em Barreiras (BA), na região do Matopiba, abrigam os experimentos. Outros dois pilotos do projeto estão em desenvolvimento na Espanha e na Itália.
A visita à vinícola Guaspari, na segunda-feira (26), impressionou os pesquisadores pelo nível tecnológico adotado para o cultivo das videiras e para a produção de vinho de alta qualidade. A antiga fazenda de café uniu ousadia e inovação em torno dos 50 hectares de vinhedos divididos em 12 parcelas, de acordo com os diferentes terroirs encontrados no local.
O resultado do esforço é a produção anual de 90 mil garrafas das variedades cultivadas de Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Merlot, Pinot Noir, Petit Verdot, Sauvignon Blanc, Syrah e Viognier.
Tecnologias avançadas
“O local reúne todas as condições para a realização do experimento. É um lugar muito bonito, usando tecnologias avançadas, e que certamente vai contribuir para agregar informações aos diversos experimentos que estão sendo realizados aqui no Brasil e na Europa”, disse o coordenador do projeto no exterior, o pesquisador Juha-Pekka Soininen, da VTT Technical Research Center of Finland Ltd. A empresa de tecnologia é ligada ao Ministério do Trabalho e Economia da Finlândia.
O professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Carlos Alberto Kamienski, conta que os integrantes do projeto estão visitando todos os experimentos para conhecer as reais necessidades de quem vai usufruir da tecnologia implementada.
“Nas visitas in loco, estamos buscando os detalhes, quais são os desafios, os objetivos, as expectativas do usuário, para desenvolver uma tecnologia adequada de irrigação de precisão e que seja adaptável, com relativa facilidade, para outras culturas e em outros lugares. Por isso, o projeto trabalha com quatro projetos-piloto, dois no Brasil e dois na Europa”, explica.
A Embrapa é responsável por conduzir a implementação e avaliação das duas unidades-piloto contempladas pelo projeto. Além disso, vai colaborar nas pesquisas para superar em conjunto com os pesquisadores brasileiros e europeus os desafios da instrumentação e construção da plataforma computacional para coleta, integração, armazenamento, processamento e visualização de dados oriundos dos experimentos.
No Brasil, o SWAMP é liderado pelo professor da UFABC, Carlos Alberto Kamienski, com a participação de 11 instituições. Entre elas estão a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana “Padre Sabóia de Medeiros” (FEI), localizado em São Bernardo do Campo (SP), a Universidade de Bologna, na Itália, a Intercrop, da Espanha, além da Embrapa e da VTT. A visita contou com 22 representantes de seis instituições que integram o SWAMP.
Os pesquisadores Marcos Cezar Visoli, da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP), André Torre Neto, Ednaldo José Ferreira e Luis Henrique Bassoi, da Embrapa Instrumentação (São Carlos, SP), que integram a equipe do projeto SWAMP, acompanharam a visita, junto com o chefe-geral da Embrapa Instrumentação, João de Mendonça Naime.
Bassoi e Torre Neto realizam experimentos na vinícola Guaspari desde 2016, onde implementaram um trabalho de pesquisa e desenvolvimento sobre agricultura de precisão em vitivinicultura. Bassoi conta que o desafio “é fornecer ao usuário um sistema de gerenciamento amigável, que permita a realização de um manejo de irrigação que considere a variabilidade espacial que naturalmente ocorre no vinhedo, e de acordo com a operacionalidade do sistema de irrigação instalado”.
Na região do Matopiba, considerada a grande fronteira agrícola nacional, também sob a responsabilidade da Embrapa Instrumentação, será desenvolvido e avaliado uma plataforma inteligente de irrigação à taxa variada (VRI), destinada a pivôs centrais e irrigação localizada. Os pesquisadores visitaram a região na quarta-feira (28).
Segundo o pesquisador Torre Neto, a plataforma será integrada com ferramentas e aplicativos de gestão voltados para o uso racional da água e energia. “A proposta é fornecer ao agricultor um mapa diário de recomendação dinâmico, de acordo com um conjunto de informações em tempo real do clima, solo, condições de cultivo, além dos níveis e qualidade dos sistemas de fornecimento e da distribuição de água no campo, todos obtidos pela plataforma.O objetivo é também irrigar de forma variada segundo a necessidade específica de subáreas do pivô, denominadas zonas de manejo “, diz.
SWAMP
A Plataforma inteligente de gerenciamento de água − Smart Water Management Platform (SWAMP) − tem prazo de execução de três anos, com início em dezembro de 2017.
A proposta concorreu com outras 50 submetidas por mais de 300 instituições ao Programa Horizonte 2020 (H 2020), o maior programa de pesquisa e inovação criado pela União Europeia (UE), com cerca de 80 bilhões de euros de financiamento para ser executado no período de 2014 a 2020. O objetivo da chamada é fortalecer a sinergia entre as competências existentes nas comunidades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) do Brasil e da UE, com destaque para instituições com forte envolvimento com indústrias.
Fonte: Agro em Dia (com informações da Embrapa Instrumentação)