O presidente norte-americano, Donald Trump, ameaçou impor tarifas sobre importação de aço e alumínio, mercado dominado pelos chineses. Produtores temem retaliação contra os embarques de grãos. Analista de mercado explica os impactos disso para o Brasil
As tensões comerciais entre Estados Unidos e China estão aumentando e podem afetar as exportações norte-americanas de soja para o país asiático. Há algumas semanas, o presidente dos EUA, Donald Trump, já tinha anunciado barreiras à importação de painéis solares e máquinas de lavar roupa, e nesta quinta, dia 1º, disse que vai impor tarifas sobre a importação de aço e alumínio – mercados em que a China é um player dominante. A porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, afirmou que detalhes sobre a possível elevação das tarifas para a importação de aço e alumínio somente serão divulgados na próxima semana.
No Twitter, Trump disse que as indústrias norte-americanas de aço e alumínio e muitas outras foram dizimadas por décadas de comércio injusto e políticas ruins com países de todo o mundo. “Não devemos deixar nosso país, empresas e trabalhadores serem aproveitados por mais tempo. Queremos liberdade, justiça e uma política comercial inteligente”, afirmou.
Grupos que representam produtores rurais temem que a medida provoque uma retaliação contra as exportações de grãos dos EUA, já que a China levantou recentemente a possibilidade de impor tarifas sobre o sorgo, um grão usado em ração animal. “Essas tarifas sobre aço e alumínio muito provavelmente vão acelerar uma postura ‘olho por olho’ no comércio, colocando na mira as exportações agrícolas norte-americanas”, disse Brian Kuehl, diretor executivo do grupo Agricultores pelo Livre Comércio, com sede em Montana.
O grupo lembra que, em 2009, a China impôs pesadas tarifas sobre cortes de frango importados dos EUA após o país ter feito o mesmo com pneus importados da China. “O setor agrícola sabe por experiência própria que as exportações agrícolas são as primeiras a serem afetadas por medidas de retaliação”, disse Kuehl.
No ano passado, a China importou US$ 12,4 bilhões em soja dos EUA para alimentar seu plantel de suínos. O país asiático, que absorve mais da metade das exportações norte-americanas da oleaginosa, depende dessas importações para manter sob controle os preços de ração animal, que por sua vez mantêm sob controle os preços de carne suína. Essa carne é a principal proteína consumida na China, e um componente significativo do orçamento das famílias.
Mas a China agora parece estar em melhor posição para lidar com a falta de soja dos EUA. A inflação dos alimentos no país está negativa há mais de um ano, graças a reformas no setor agrícola, à recuperação da oferta de carne suína e a um excesso mundial de oferta de grãos. O fortalecimento do yuan também está pesando sobre o preço de alimentos importados.
Enquanto isso, o poder de barganha dos produtores norte-americanos com a China está excepcionalmente fraco. A dívida desses agricultores é alta e sua renda está diminuindo. Os preços globais de soja continuam baixos e o Brasil, principal concorrente dos EUA no fornecimento para a China, deve colher outra safra volumosa. Nesta quinta-feira, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) elevou sua estimativa para a produção de soja no Brasil em 2017/2018, de 109,5 milhões para 114,7 milhões de toneladas.
Analistas observaram que a China não conseguiria deixar totalmente de importar soja dos EUA, já que precisa de um volume razoável durante o desenvolvimento da safra brasileira, que ocorre durante o inverno do Hemisfério Norte. Mas os baixos preços de alimentos no mercado doméstico, uma moeda forte e a ampla oferta do Brasil dão mais espaço para que a China considere a soja como alvo em uma possível retaliação.
Fonte: Projeto Soja Brasil / Agência Estado