O agronegócio tem gerado cada vez menos postos de trabalho no Brasil, mas a informalidade caiu nos últimos anos, o número de empregadores cresceu e a remuneração média no setor aumentou mais do que a média nacional. É o que aponta estudo recém-concluído pelos pesquisadores Felippe Serigati, Roberta Possamai e Raquel Rodrigues, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a partir de dados do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE).
“A incorporação de tecnologias, que tem impacto positivo sobre a produtividade, de fato tem provocado uma liberação de mão de obra no setor. Mas, além de ser inevitável, esse movimento não é necessariamente ruim, como mostra o comportamento dos salários”, afirmou Serigati ao Valor. No fim de 2017, a população ocupada no agronegócio somava 18 milhões de pessoas, ou 19,6% de toda a força de trabalho ocupada no país. Como em 2012 eram 19,7 milhões, nos últimos cinco anos a queda foi de 1,9% ao ano – na economia em geral houve aumento de 0,3% ao ano.
Serigati observa que uma parte dos trabalhadores dispensados no campo foi absorvida pelo setor de serviços, e que as dispensas foram marcantes nas propriedades rurais (“dentro da porteira”) e afetaram sobretudo empregos informais, ainda que em praticamente todos os segmentos do agronegócio também tenha havido redução das ocupações formais – exceto na pecuária. No quarto trimestre de 2017, a população ocupada formal no agronegócio somava 13,4 milhões de pessoas, enquanto a informal chegava a 4,4 milhões. “Entre 2012 e 2017, a informalidade no agronegócio caiu 3,4% ao ano, enquanto no restante da economia o recuo foi de 0,7% ao ano”.
Além de a informalidade ter diminuído, destaca Serigati, cresceu o número de empregadores no mundo formal do agronegócio – no fim do ano passado, eram cerca de 800 mil. O “empregador”, explica, é aquele que tem ao menos um funcionário com carteira assinada.
“Enquanto houve contração da população ocupada no setor, tanto formal [queda de 1,4% ao ano, em média, entre 2012 e 2017] quanto informal [3,4% ao ano no período], houve expansão do número de empregadores [2,5% ao ano]”, afirma o estudo. Não estão incluídos entre os “empregadores” pessoas que trabalham por conta própria ou trabalhadores familiares. Nessas duas frentes, houve quedas entre 2012 e 2017 – de 1,5% e 6,6% ao ano, respectivamente.
Embora a tendência ainda seja de queda do número de postos de trabalho no agronegócio – por questões estruturais derivadas da disseminação de tecnologias e da consolidação em curso em diversos elos da cadeia produtiva -, o aumento da remuneração média no campo, ligado à redução do número de pessoas empregadas em funções de baixa qualificação e salários menores (colheita de cana, por exemplo), tem tornado o setor mais atraente inclusive para profissionais mais qualificados.
“O rendimento médio mensal recebido pela população ocupada no agronegócio [R$ 1.405 no quarto trimestre de 2017] continua sendo menor que no restante da economia brasileira [R$ 2.084], mas essa distância tem ficado cada vez menor. Enquanto entre 2012 e 2017 o rendimento médio na economia brasileira cresceu 4,6% ao ano, em média, no agronegócio a expansão foi de 7% ao ano. Entre os segmentos do agronegócio, merece destaque o forte aumento do rendimento médio nas atividades agropecuárias [9,2% ao ano entre 2012 e 2017]”, diz o estudo da FGV.
Fonte: Valor Econômico