A produção de soja e outros grãos em aldeias indígenas é uma realidade em vários estados. Atualmente, 71 povos indígenas no Brasil se declaram agricultores. O tema foi discutido entre os dias 11 e 13 de fevereiro durante o 1º Encontro Nacional do Grupo de Agricultores Indígenas, realizado na Cooperativa Coopihanama, próximo ao município de Campo Novo do Parecis, oeste de Mato Grosso.
Nesta quarta-feira (13/2), os indígenas receberam a visita de autoridades como os ministros da Agricultura, Tereza Cristina, do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o governador Mauro Mendes, parlamentares e os presidentes da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Bartolomeu Braz Pereira, e da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT), Antônio Galvan.
A Aprosoja MT apoiou a realização do encontro que é organizado por agricultores indígenas da Região Oeste do Estado. De acordo com o IBGE, 56 mil propriedades rurais possuem como proprietário indígenas. Em Mato Grosso existem 965 propriedades. Atualmente, os índios plantam 18 mil hectares de soja, milho, mandioca, abóbora, batata-doce, feijão entre outras culturas no Estado.
De acordo com Bartolomeu Braz, a Aprosoja Brasil dará total apoio as lideranças indígenas nos estados e no governo federal para que os índios mantenham suas tradições, mas que tenham acesso a políticas públicas e de crescerem sócio e economicamente através da atividade agrícola.
“Os produtores indígenas merecem o nosso respeito e têm todo o direito não só de plantar em suas terras, como gerar renda e desenvolvimento socio-econômico para as suas comunidades. Exatamente como vimos em tantos estados produtores brasileiros, onde se registram os maiores IDHs, geração de emprego e crescimento econômico”, afirmou.
Para Antônio Galvan, o 1º Encontro Nacional do Grupo de Agricultores Indígenas foi um marco para a produção agropecuária brasileira. Segundo ele, o evento superou todas as expectativas, inclusive, com um elevado número de participantes e debates de alto nível que fortalecem a cadeia produtiva da soja e do milho. Galvan colocou a entidade à disposição dos indígenas para contribuir com o fomento da produção agrícola.
“A Aprosoja Mato Grosso está à disposição para o que precisarem de ajuda, seja no fomento ou até mesmo interlocução junto às autoridades para haja liberação de mais áreas para uso próprio deles na agricultura. Isso não só aqui para os Paresis, mas para todas as etnias do país onde, de alguma forma, a produção de alimentos possa ser feita em escala comercial”, afirmou o presidente que participou do evento nesta quarta-feira.
Segundo Galvan, houve um convite para que os agricultores indígenas possam conhecer a sede da Aprosoja, terem mais acesso às informações de como a entidade contribui para o setor e, inclusive, não descarta a possibilidade de eles se tornarem associados.
“Na formação da cooperativa, pessoa jurídica criada, eles podem se associar à Aprosoja se for de interesse deles. E, por meio da associação, indicarem seus representantes legais para atuarem junto à entidade. No futuro próximo quem sabe até fazerem parte de uma diretoria, porque nós sabemos que dentro das tribos tem gente com ensino superior, com grande capacidade de estar dentro da Aprosoja como diretor”, avaliou o presidente.
Dos quase 18 mil hectares de grãos para safra de 2018/2019 plantados por agricultores indígenas, a etnia Paresi plantou soja, milho e arroz. Para o líder Paresi e agricultor, Arnaldo Zunizakae Paresi, esta é a oportunidade de fazer atividades produtivas dentro das terras indígenas com responsabilidade social, cultural e ambiental. “Acreditamos que nosso povo precisa se desenvolver e precisa trabalhar para sair do assistencialismo do governo e colaborar com a economia do nosso país”, afirmou Arnaldo. Ele reforçou a importância da parceria com a Aprosoja e disse que, em breve, estarão em Cuiabá para tratar da possibilidade de fazerem parte da entidade.
Durante o evento, o líder Paresi entregou um documento com reivindicações ao Governo Federal com quatro eixos principais: 1. Aprovação de parcerias agropecuárias; 2. Demarcação de terras indígenas; 3. Fortalecimento da Funai; 4. Criação de uma comissão para elaborar um decreto acerca dos desafios e avanços na agricultura e pecuária em terras indígenas.
Ao receber o documento, em seu discurso, a ministra Tereza Cristina declarou que é possível mudar a legislação para que os agricultores indígenas possam produzir em larga escala em suas terras. “A lei pode ser mudada, é para isso que nós estamos lá no Congresso Nacional. As coisas evoluem, as coisas mudam, a vontade de vocês é soberana. Isso está na normativa da OIT (Organização Internacional do Trabalho), vocês têm de decidir o que querem fazer, qual a vontade dos povos indígenas”, afirmou a ministra.
“Esperamos que essa ação de hoje se repercuta mundo afora, porque é um evento que estava em um sonho distante. Não acreditávamos que as autoridades comprariam essa ideia. É um marco essa data de 13 de fevereiro de 2019, para se usar como a redenção do uso dessas áreas para produção”, disse Galvan.
Também participaram do encontro o secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Luiz Antônio Nabhan Garcia, além de deputados estaduais, federais e sociedade em geral.
INCLUSÃO – Para o presidente da Aprosoja MT, as autoridades precisam entender que os indígenas estão em busca de melhor qualidade de vida, além de contribuírem com a economia. Galvan reforçou que os índios merecem buscar um melhor padrão e qualidade de vida. “Investindo no aspecto econômico, se consegue resolver o problema social, principalmente, sobre falta de alimentos. É impossível dizer que se passa fome com esse tanto de terra na mão. Então tem que se liberar parte dessas áreas para que eles próprios produzam e lucrem com o esforço que têm dedicado. Entendemos que se pode diferenciá-los. Então eles têm que buscar sim essa melhoria de vida, se preparando e produzindo, utilizando o que eles têm”, afirmou o presidente da Aprosoja MT.
Edição: Aprosoja Brasil
Apuração de informações e fotos: Aprosoja MT