Durante 22 e 23 de abril, estive na Índia com o Senador Blairo Maggi onde tivemos uma reunião na embaixada do Brasil com a Pricewaterhouse (PwC). Na reunião, discutimos sobre o mercado de carnes na Índia, o que parece estranho já que a maioria das pessoas pensa que a população na Índia é vegetariana, ela já foi mais. Porém, com o crescimento da economia indiana houve uma a melhora no poder aquisitivo de sua população de 1,2 bilhões pessoas que naturalmente começaram a comer mais e a buscar uma dieta com mais proteínas.
O indiano Mudit Agrarwal da PwC nos fez um relato detalhado sobre a evolução do mercado de carnes na Índia o que nos interessou muito, principalmente pela perspectiva da Índia se tornar um grande importador de alimentos. E isto se mostrou factível, afinal, observamos um processo semelhante na China, que em dez anos se tornou um grande importador de alimentos e a Índia inicia o mesmo processo.
Na Índia, as redes de supermercado começam a ser implantadas, e isto é muito positivo uma vez que a falta de infraestrutura de comercialização de carne prejudica seu consumo. A maior parte da carne consumida ainda é comercializada em pequenos açougues. E é importante salientar que 32% da população indiana é vegetariana e apenas 30% da população, que não é vegetariana, consome carne regularmente. Isso sem falar que nenhum indiano da religião Hindu, da qual 80% da população é adepta, consome carne na terça-feira.
O consumo de proteína tem crescido significativamente, impulsionado pelo crescimento econômico da população, os hábitos alimentares dos indianos com a globalização estão mudando. Jovens começam a ir aos fast food, a internet os tem levado a experimentar o diferente e com isso os vegetarianos deixam de ser vegetarianos e passam a consumir carne de frango. É importante salientar que, por questões religiosas, o consumo de carne bovina e de suínos na índia é quase nulo.
A indústria aviária tem crescido muito na Índia, eles possuem um lobby muito forte, o que faz com que o mercado de aves seja fechado, com taxas muito altas para importação, mas é claro que isto deve mudar assim que eles não forem autossuficientes. Esta proteção faz com a indústria nacional de aves tenha uma margem alta. Para que se tenha uma ideia, a carne de frango fresca na Índia custa U$ 4,0 o Kg e a processada U$ 12,0.
Quando olhamos para a conjuntura atual, não vemos nenhuma oportunidade para exportadores no mercado de soja grão e farelo na Índia. Dos cerca de 11 milhões de toneladas que o país produz, consome 1 milhão em grão e esmagarem cerca de 10 milhões. Com isso, são produzidos 8 milhões de toneladas de farelo dos quais no máximo 3,4 milhões são consumidos internamente. Isso significa que ainda sobram 60% do farelo produzido para ser exportado.
No caso do óleo a situação é diferente, a Índia vem importando há décadas óleo para suprir um déficit de produção e satisfazer seu consumo. O país já chegou a importar 70% do óleo consumido internamente. Na atualidade, do consumo indiano em 2012 de cerca de 3 milhões de toneladas de óleo de soja sua produção só foi capaz de gerar 1,7 milhão. A diferença o país satisfez com importações, inclusive do Brasil. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, das 1,6 milhões de toneladas que exportamos 20% foi destinada a Índia, cerca de 300 mil toneladas. E em 2013, o consumo indiano deve crescer para 3,7 milhões de toneladas e com certeza essa diferença virá de importações.
Entretanto, no que diz respeito ao mercado potencial de soja grão e farelo, é preciso olhar as projeções para Índia. Sua área agrícola, assim como a maioria dos países, não tem como crescer, sua população está mudando de hábito alimentar e com isto o consumo de soja vem crescendo 6% ao ano. Considerando que a produtividade das lavouras é baixa, cerca de 1.000 kg por hectare de soja e a menos que haja uma revolução verde naquele país, a produção não tem como crescer. Por isso, tudo leva a crer que em breve teremos um grande importador de soja.
E agora, olhemos para a Índia no futuro breve. Estamos falando da população que mais cresce no mundo, já são 1,22 bilhões de habitantes, com uma renda per capita de US$ 1.200, ainda muito baixa, mas que dobrou nos últimos 5 anos. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 11% em 2012 e acompanhando esse movimento, o setor aviário cresceu 15% e de ovos 7%. Some-se a isto o mercado de leite do país que cresceu 8%. E aqui um dado interessante, embora a Índia produza 13% do leite do mundo, apenas 20% do seu rebanho leiteiro recebe ração.
A média de consumo de carne per capita anual na Índia é de 3,3 kg e de 57 ovos, enquanto a recomendação do Instituto Nacional de Nutrição da Índia recomenda 11 kg de carne por ano e de 180 ovos. Mas vale ressaltar que em 2003 o consumo de carne era de 1,4 kg per capita ano, o que significa que houve um crescimento de 135% em 10 anos, mais de 10% ao ano. Institutos projetam que nos próximos 10 anos na Índia essa média supere os 11 kg/hab./ano.
Como podemos ver, existe um mercado em construção e este mercado também está olhando para o Brasil, já existindo uma pressão interna para a abertura do mercado de alimentos. Se as previsões se concretizarem, em breve teremos mais um grande importador para nossa soja e nosso milho, e quem sabe também para nossa carne, afinal frango nada mais é que soja e milho transformados. Para nós brasileiros fica o dever de casa de nos prepararmos para aproveitar e atender mais este mercado.
*Glauber Silveira