Em um debate acalorado e produtivo, parlamentares e especialistas discutiram uma política para os insumos agrícolas durante o Fórum Soja Brasil de Londrina (PR), na noite de quinta, dia 18. Para os participantes, a produção agrícola brasileira ainda depende de defensivos e, por isso, o governo precisa investir na produção nacional para diminuir a dependência de outros países.
Apresentado pelo jornalista João Batista Olivi, o fórum teve a participação dos deputados federais Reinhold Stephanes (PSD-PR) e Doutor Rosinha (PT-PR); do advogado Reginaldo Minaré, consultor da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA); do pesquisador Alexandre José Cattelan, chefe-geral da Embrapa Soja; do jornalista Mauro Zafalon, colunista da Folha de São Paulo; e de Rafael Ribeiro de Lima Filho, analista da Scot Consultoria. O Canal Rural transmitiu o evento ao vivo.
O presidente da Aprosoja Brasil, Glauber Silveira, convidado para iniciar o debate, falou da importância da discussão sobre uma política para os insumos no Brasil.
– O Brasil pode ser um dos maiores produtores do mundo, mas também importa muitos insumos para que isso aconteça – falou Silveira.
Entre os temas tratados no debate, o uso de fertilizantes foi bastante discutido. Para o deputado Reinhold Stephanes, os fertilizantes têm grande influência nos custos de produção no Brasil.
– O Brasil é um grande produtor, e daqui a 20 anos terá que dobrar sua produção. Os fertilizantes têm uma grande influência nos custos de nossa produção, e o Brasil tem que tentar fugir da dependência internacional – disse.
Segundo o analista da Scot Consultoria Rafael Ribeiro de Lima Filho, o preço dos fertilizantes está crescendo ano a ano, e um incremento na produção nacional poderia contribuir para baixar os preços dos fertilizantes.
– Este ano, em relação a 2011, há aumento de 10% nos preços do cloreto de potássio, por exemplo. O custo está crescendo ano a ano. A demanda por fertilizantes no Brasil é crescente, ou seja, a produção é crescente e a demanda por fertilizantes também. Acredito que um incremento na produção interna contribuiria para preços menores ou, pelo menos, para tirar essa pressão que a gente enfrenta do mercado bastante concentrado do lado do produtor – disse.
O deputado Reinhold Stephanes lembrou da época em que foi ministro da Agricultura e criou um plano nacional de fertilizantes, que acabou saindo da pauta em governos posteriores.
– No final de três anos de pesquisa, nosso grupo chegou à conclusão de que o Brasil poderia ser autossuficiente em fertilizantes. O Brasil detém a terceira maior jazida de potássio do mundo na Amazônia. Teríamos ainda jazidas a serem pesquisadas no litoral brasileiro. No final se chegou à conclusão de que precisaríamos de decisões político-administrativas para cada caso, um marco regulatório para a exploração de jazidas no interesse da agricultura, e esse documento pronto chegou a ser discutido com o governo, mas aí mudou o ministro da Agricultura, o assunto saiu de pauta, e não se discute mais – declarou.
Segundo o deputado, o assunto insumos agrícolas está fora de pauta e não é tratado como um assunto prioritário e estratégico no Brasil.
– Existe um único documento que fala sobre a produção de fertilizantes no Brasil, além daquele que criamos no governo. É um assunto fora de pauta no Brasil, e isso nos chama a atenção – alertou o deputado.
Sobre o tema defensivos agrícolas, o advogado Reginaldo Minaré, consultor da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), explicou que no momento não se cogita mudar o sistema produtivo do Brasil e que não é possível produzir alimentos em quantidade suficiente para a população sem o uso de defensivos na agricultura.
– É muito comum vermos, onde se questiona o uso de defensivos, que temos que mudar nosso modo de produção. Mas, em primeiro lugar, não há nenhum estudo que garante viabilidade; segundo, se algum estudo tivesse sido feito, haveria um custo de produção, além de um prazo para ser feito, então, hoje, não se cogita falar em mudar o sistema produtivo – disse.
A questão da demora nos registros de defensivos no Brasil também foi discutida. Sobre a questão, Reginaldo Minaré alertou que o governo deveria construir uma legislação específica.
– Sobre a questão de insumos, o governo teria que considerar esse tema como estratégico, deveria saber onde quer chegar e construir uma legislação. Hoje, o sistema de registro de agrotóxico é moroso, não tem transparência e conta com ativistas ideológicos dentro da instituição que analisa esses registros – falou Minaré.
O pesquisador Alexandre José Cattelan, chefe-geral da Embrapa Soja, assim como Reginaldo Minaré, defendeu o uso de defensivos. Segundo ele, por enquanto o uso é necessário no Brasil.
– Os próprios defensivos evoluíram muito nos últimos anos e são muito menos agressivos ao ser humano e ao solo. O Brasil, em termos físicos, é um dos principais países agrícolas que mais usam defensivos, mas se consideramos por área cultivada, o Brasil cai para sétimo lugar. O defensivo é um mal necessário, por enquanto. Eu seria favorável se o Brasil pudesse deixar de usar, mas, por enquanto, não temos tecnologia para isso – comenta Cattelan.
O jornalista e colunista da Folha de São Paulo Mauro Zafalon disse que o problema da dependência nacional de defensivos está relacionado à falta de cobrança de impostos aos fertilizantes que são importados.
– O Brasil é o país da produção, mas a produção vai ser dirigida por empresas que não são brasileiras. Nós temos um problema interno, de governo. Se você produz em Minas Gerais, você paga imposto para levar até outro Estado, mas se traz o defensivo do Marrocos, por exemplo, não paga nada. Na verdade, temos que tirar o imposto – comentou Zafalon.
Em meio à discussão sobre defensivos, o deputado Doutor Rosinha, que elaborou projetos de lei que visam proibir o uso de agrotóxicos, alertou para o uso exagerado desses insumos e suas consequências para a saúde e para o meio ambiente.
– Como médico, eu tenho um olhar sobre a saúde, e nós temos que lembrar que os chamados defensivos foram criados para serem venenos. Eu não nego o papel deles na produção, mas o Brasil hoje é o maior consumidor de agrotóxicos. Temos que ter alguns parâmetros. Acho que nós podemos produzir com uma redução de agrotóxicos que estamos usando hoje. É muito agrotóxico que estamos usando e jogando no solo – disse Rosinha.
Em seu discurso, o deputado Reinhold Stephanes alertou ainda que o governo deveria olhar mais para o campo e considerar a agricultura como uma estratégia para o crescimento do Brasil.
– Na prática, o Brasil não considerou ainda a agricultura como uma estratégia para o crescimento nacional. Não temos uma agenda para a agricultura. A sociedade imagina que o leite nasce em uma caixa no supermercado. O governo, por sua vez, sofre as pressões urbanas, isso dá muito mais manchete e Ibope. Há uma mentalidade um pouco urbana, a agricultura passa a ser problema quando ela atinge o bolso do consumidor. Temos perspectiva? Sim, desde que o governo considere isso na sua agenda – declarou o deputado.
O Projeto Soja Brasil é uma realização do Canal Rural, da Aprosoja Brasil e do Senar Mato Grosso, com coordenação técnica da Embrapa. O apoio regional é do Senar Mato Grosso do Sul e do Senar Goiás. Tem patrocínio de Basf, da Mitsubishi Motors e da Monsanto.
Do Rural BR
Apresentado pelo jornalista João Batista Olivi, o fórum teve a participação dos deputados federais Reinhold Stephanes (PSD-PR) e Doutor Rosinha (PT-PR); do advogado Reginaldo Minaré, consultor da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA); do pesquisador Alexandre José Cattelan, chefe-geral da Embrapa Soja; do jornalista Mauro Zafalon, colunista da Folha de São Paulo; e de Rafael Ribeiro de Lima Filho, analista da Scot Consultoria. O Canal Rural transmitiu o evento ao vivo.
O presidente da Aprosoja Brasil, Glauber Silveira, convidado para iniciar o debate, falou da importância da discussão sobre uma política para os insumos no Brasil.
– O Brasil pode ser um dos maiores produtores do mundo, mas também importa muitos insumos para que isso aconteça – falou Silveira.
Entre os temas tratados no debate, o uso de fertilizantes foi bastante discutido. Para o deputado Reinhold Stephanes, os fertilizantes têm grande influência nos custos de produção no Brasil.
– O Brasil é um grande produtor, e daqui a 20 anos terá que dobrar sua produção. Os fertilizantes têm uma grande influência nos custos de nossa produção, e o Brasil tem que tentar fugir da dependência internacional – disse.
Segundo o analista da Scot Consultoria Rafael Ribeiro de Lima Filho, o preço dos fertilizantes está crescendo ano a ano, e um incremento na produção nacional poderia contribuir para baixar os preços dos fertilizantes.
– Este ano, em relação a 2011, há aumento de 10% nos preços do cloreto de potássio, por exemplo. O custo está crescendo ano a ano. A demanda por fertilizantes no Brasil é crescente, ou seja, a produção é crescente e a demanda por fertilizantes também. Acredito que um incremento na produção interna contribuiria para preços menores ou, pelo menos, para tirar essa pressão que a gente enfrenta do mercado bastante concentrado do lado do produtor – disse.
O deputado Reinhold Stephanes lembrou da época em que foi ministro da Agricultura e criou um plano nacional de fertilizantes, que acabou saindo da pauta em governos posteriores.
– No final de três anos de pesquisa, nosso grupo chegou à conclusão de que o Brasil poderia ser autossuficiente em fertilizantes. O Brasil detém a terceira maior jazida de potássio do mundo na Amazônia. Teríamos ainda jazidas a serem pesquisadas no litoral brasileiro. No final se chegou à conclusão de que precisaríamos de decisões político-administrativas para cada caso, um marco regulatório para a exploração de jazidas no interesse da agricultura, e esse documento pronto chegou a ser discutido com o governo, mas aí mudou o ministro da Agricultura, o assunto saiu de pauta, e não se discute mais – declarou.
Segundo o deputado, o assunto insumos agrícolas está fora de pauta e não é tratado como um assunto prioritário e estratégico no Brasil.
– Existe um único documento que fala sobre a produção de fertilizantes no Brasil, além daquele que criamos no governo. É um assunto fora de pauta no Brasil, e isso nos chama a atenção – alertou o deputado.
Sobre o tema defensivos agrícolas, o advogado Reginaldo Minaré, consultor da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), explicou que no momento não se cogita mudar o sistema produtivo do Brasil e que não é possível produzir alimentos em quantidade suficiente para a população sem o uso de defensivos na agricultura.
– É muito comum vermos, onde se questiona o uso de defensivos, que temos que mudar nosso modo de produção. Mas, em primeiro lugar, não há nenhum estudo que garante viabilidade; segundo, se algum estudo tivesse sido feito, haveria um custo de produção, além de um prazo para ser feito, então, hoje, não se cogita falar em mudar o sistema produtivo – disse.
A questão da demora nos registros de defensivos no Brasil também foi discutida. Sobre a questão, Reginaldo Minaré alertou que o governo deveria construir uma legislação específica.
– Sobre a questão de insumos, o governo teria que considerar esse tema como estratégico, deveria saber onde quer chegar e construir uma legislação. Hoje, o sistema de registro de agrotóxico é moroso, não tem transparência e conta com ativistas ideológicos dentro da instituição que analisa esses registros – falou Minaré.
O pesquisador Alexandre José Cattelan, chefe-geral da Embrapa Soja, assim como Reginaldo Minaré, defendeu o uso de defensivos. Segundo ele, por enquanto o uso é necessário no Brasil.
– Os próprios defensivos evoluíram muito nos últimos anos e são muito menos agressivos ao ser humano e ao solo. O Brasil, em termos físicos, é um dos principais países agrícolas que mais usam defensivos, mas se consideramos por área cultivada, o Brasil cai para sétimo lugar. O defensivo é um mal necessário, por enquanto. Eu seria favorável se o Brasil pudesse deixar de usar, mas, por enquanto, não temos tecnologia para isso – comenta Cattelan.
O jornalista e colunista da Folha de São Paulo Mauro Zafalon disse que o problema da dependência nacional de defensivos está relacionado à falta de cobrança de impostos aos fertilizantes que são importados.
– O Brasil é o país da produção, mas a produção vai ser dirigida por empresas que não são brasileiras. Nós temos um problema interno, de governo. Se você produz em Minas Gerais, você paga imposto para levar até outro Estado, mas se traz o defensivo do Marrocos, por exemplo, não paga nada. Na verdade, temos que tirar o imposto – comentou Zafalon.
Em meio à discussão sobre defensivos, o deputado Doutor Rosinha, que elaborou projetos de lei que visam proibir o uso de agrotóxicos, alertou para o uso exagerado desses insumos e suas consequências para a saúde e para o meio ambiente.
– Como médico, eu tenho um olhar sobre a saúde, e nós temos que lembrar que os chamados defensivos foram criados para serem venenos. Eu não nego o papel deles na produção, mas o Brasil hoje é o maior consumidor de agrotóxicos. Temos que ter alguns parâmetros. Acho que nós podemos produzir com uma redução de agrotóxicos que estamos usando hoje. É muito agrotóxico que estamos usando e jogando no solo – disse Rosinha.
Em seu discurso, o deputado Reinhold Stephanes alertou ainda que o governo deveria olhar mais para o campo e considerar a agricultura como uma estratégia para o crescimento do Brasil.
– Na prática, o Brasil não considerou ainda a agricultura como uma estratégia para o crescimento nacional. Não temos uma agenda para a agricultura. A sociedade imagina que o leite nasce em uma caixa no supermercado. O governo, por sua vez, sofre as pressões urbanas, isso dá muito mais manchete e Ibope. Há uma mentalidade um pouco urbana, a agricultura passa a ser problema quando ela atinge o bolso do consumidor. Temos perspectiva? Sim, desde que o governo considere isso na sua agenda – declarou o deputado.
O Projeto Soja Brasil é uma realização do Canal Rural, da Aprosoja Brasil e do Senar Mato Grosso, com coordenação técnica da Embrapa. O apoio regional é do Senar Mato Grosso do Sul e do Senar Goiás. Tem patrocínio de Basf, da Mitsubishi Motors e da Monsanto.
Do Rural BR