*GLAUBER SILVEIRA
A Expedição Soja Brasil saiu do eixo da BR-163 e seguiu acompanhando as lavouras nos municípios onde a soja passou a ter sua importância na última década. Municípios como Vera, Feliz Natal, Cláudia e Santa Carmem foram colonizados com a exploração da madeira, depois partiram para a pecuária e nos últimos dez anos, com a valorização da soja, tiveram suas áreas convertidas em lavoura.
É notória a importância da soja nestes municípios. Um exemplo é Cláudia, que tem o quarto IDH de Mato Grosso plantando 80 mil hectares de soja. Cláudia, assim como muitos municípios do norte do Estado, teve projeto de colonização, e essa cidade em particular teve um grande projeto de plantio de mandioca, mas que foi por terra pelo mau planejamento e dificuldade na logística.
Não poderia ser diferente, e a maior reclamação dos produtores nestes municípios ainda é a logística e falta de infraestrutura. Eles se sentem prejudicados com relação ao preço recebido pelo milho e a soja, e justificam que recebem de dois a três reais a menos, por saca, mas relatam que melhorou muito após as parcerias firmadas pelo então governo Blairo Maggi com os produtores para asfaltar os acessos às cidades.
É muito interessante ver a história daquelas pessoas. Uma das que mais me chamou a atenção foi a de Gerson Maurina, nascido em Frederico Westphalen (RS) – onde sua família tinha um sítio de 17 hectares. Ele conta que trabalhava na roça desde pequeno com seu pai e nove irmãos, e que naquela época colhiam 300 sacas de soja e tinham que viver todos daquela soja, enquanto em Mato Grosso um funcionário recebe isso no ano mais dois salários por mês.
Gerson veio com três irmãos para Santa Carmem trabalhar na madeireira do tio, seu pai vendeu a propriedade no sul e hoje eles plantam 4.100 hectares de soja. Ele conta que é um sonho, que foi muita luta e trabalho, mas que tem valido a pena, Mato Grosso deu uma oportunidade que ele jamais teria se tivesse ficado no sul do Brasil.
Como de Gerson esta é a história de milhares de brasileiros que saíram do sul, onde a família tinha um sítio ou um pequeno pedaço de terra, ou não tinham nada, e com muita garra e coragem acreditaram em uma nova vida e hoje fazem a diferença do interior do Brasil, gerando riqueza, construindo cidades e um futuro para muita gente.
A soja foi o grande diferencial do processo de colonização do interior do Brasil, pois ela tem liquidez, a facilidade de comercialização alavancou a abertura do cerrado e possibilitou que comunidades fossem se formando e surgissem as cidades. A soja ‘construiu’ escolas, estradas e hospitais e assim se formaram dezenas de municípios que fazem Mato Grosso ser referência mundial.
*GLAUBER SILVEIRA é produtor rural, engenheiro agrônomo, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), idealizador do Projeto Soja Brasil. E-mail: Glauber@aprosoja.com.br Twitter: @GlauberAprosoja