Neste momento conturbado em que conflitos indígenas dominam os noticiários, em que o setor aguarda a regulamentação do Novo Código Florestal e que os rumos da economia do país são um mistério, o novo Plano Agrícola e Pecuário, PAP 2013/2014, veio como um alento, mostrando uma sintonia fora do comum do Planalto e do Ministério da Agricultura (MAPA) com o setor.
É verdade que os últimos números divulgados pelo IBGE revelaram que o grande destaque foi a agropecuária que cresceu 9,7% na comparação com o último trimestre de 2012, ou seja, foi o setor que mais contribuiu com o crescimento da economia brasileira. Mas isso não é nenhuma novidade, balança comercial, PIB do agronegócio, crescimento da produção, tudo espelha a grandeza do setor e sua importância para o país. Então, não foi por isso que o PAP 2013/2014 veio do tamanho que queríamos, mas porque houve realmente empenho técnico e político para que isso acontecesse.
E aqui cabe uma menção especial, aos técnicos do MAPA, pela sua competência, e ao nosso secretário de política agrícola, Neri Geller, elogiado no discurso da presidente Dilma no Lançamento do Plano, como incansável e que participou de todas as reuniões com o Planalto e ao nosso ministro da Agricultura, Antônio Andrade, que alcançou grandes conquistas para o setor, como o aumento do limite de crédito de custeio de R$ 800 mil para R$ 1 milhão. O aumento dos preços mínimos também foi acertado, mas ainda está pendente de aprovação na próxima reunião do CMN que será no dia 11 de junho.
Também foram importantes os aumentos de recursos a custos mais baixos. Entretanto, mais esperado do que recursos que saem de R$ 115 bilhões para R$ 136 bilhões, a juros de 4,5% contra os 5,5% ao ano do plano anterior, foi à linha de armazenagem e estratégia do governo para contornar os problemas de logística. Após todas as contribuições das entidades que participaram ativamente na formatação final da linha de armazenagem, vimos com satisfação que o volume de recursos alocado está ajustado a necessidade de investimento para compensar o atual déficit de armazenagem.
Disponibilizar R$ 5 bilhões de imediato, a juros realmente atraentes de 3,5% ao ano e 15 de prazo do empréstimo certamente contribuirá em muito para estimular a armazenagem no país. Para os anos seguintes já estão previstos mais R$ 20 bilhões, ou seja, no total serão R$ 25 bilhões. Pelas projeções de crescimento e necessidade de investimento estimada pela Agroconsult o valor ideal seria de R$ 28,7 bilhões, portanto, muito próximo do necessário e se considerarmos o volume de recursos próprios e de outras fontes que serão aplicados, certamente chegaríamos a real necessidade.
É claro que precisamos considerar os desafios, como a burocracia nas agências bancárias para liberar recursos dos projetos de armazenagens, muito maior do que para compra de máquinas. Da conjuntura atual, em que os produtores estão renovando os parques de máquinas e deverão pesar o que será mais importante no momento de contratar um financiamento e que muitos ainda pagam parcelas de dívidas antigas de PESA, Securitização, Finame e outras.
Mas com a necessidade atual, o custo de transporte insuportável para os produtores, certamente muitos estarão dispostos a contratar uma linha de armazenagem, sobretudo as cooperativas e cerealistas bem como produtores de maior porte e seus grupos e provavelmente é para onde este recurso irá em sua maioria. E é neste ponto que quero chegar. A agricultura do país caminha em uma direção claramente da profissionalização não só dentro da porteira, mas de gestão. Ou seja, os produtores precisam ser eficientes na utilização dos recursos disponíveis, aumentando a produtividade, contratando mão-de-obra especializada e nisso os produtores tem se saído muito bem obrigado.
Contudo, quando o assunto é comercialização, ainda precisamos avançar muito. E ao invés de esperar uma solução do Governo Federal que resolverá todos os nossos problemas, podemos subir mais um degrau na eficiência do setor, nos unindo através de associações fortes que defendam nossos interesses e da nossa imagem. Constituindo cooperativas de nova geração, onde seu papel excede a compra e armazenagem, que são importantes, sim. Mas para que elas passem a exercer papel primordial na gestão do negócio agrícola, permitindo aos produtores integrarem a cadeia de comercialização, sejam agentes de logística, participando de PPP’s de projetos de obras de infraestrutura e logística, tenham Terminais de Uso Privativo, os TUPs, em portos privados.
Essa é a nova revolução agrícola que o Brasil precisa. Se conseguirmos subir esse degrau, avançaremos mais rápido na nossa pauta de reivindicações, reduziremos os custos logísticos exorbitantes, e seremos imbatíveis, mais competitividade do que já somos, desbancando nossos maiores competidores.
Por isso, estamos muito felizes com o lançamento do novo PAP 2013/2014. Por incorporar muitos dos nossos pleitos, por mostrar que temos um ministro da agricultura e uma secretaria de política agrícola aliados nesse processo. Mas, sobretudo, por nos mostrar o quanto ainda há por fazer, e que construir um futuro melhor para os setor depende um pouco menos do Governo Federal e muito mais de nós produtores.
*Glauber Silveira