Responsável por uma receita que chegou a US$ 11,88 bilhões em soja em grão, correspondentes a 67% do total exportado pelo país, e mais US$ 924,2 milhões em óleo de soja, equivalentes a 36% da receita comercial com o produto em 2012, a China tornou-se o fiel da balança para produtores nacionais sobre a decisão de plantar ou não uma nova geração de sementes transgênicas. Sem a aprovação do governo chinês, uma nova semente da Monsanto, a Intacta RR2, já liberada para utilização no Brasil, não pode ser plantada por causa do risco de os futuros embarques serem rejeitados pelos chineses.
A Monsanto esperava ter conseguido a aprovação da semente na China no ano passado e agora conta com a atuação do governo brasileiro para que isso ocorra a tempo do plantio nacional deste ano, a partir de setembro. O governo brasileiro mandou uma delegação a Pequim em maio para tentar convencer o governo chinês a aprovar a semente, liderada pelo secretário de Relações Internacionais do Agronegócio, Célio Porto.
Outra semente transgênica brasileira, desenvolvida pela Embrapa em parceria com a Basf, a Cultivance, também não foi aprovada ainda, mas as empresas consideram a demora normal para os padrões do sistema chinês e esse fator já está incluído no planejamento. Ao todo, são 18 casos pendentes, originários de vários países.
Os produtores consideram a semente da Monsanto um importante avanço e lamentam não poder plantá-la. Desenvolvida pela empresa para substituir a soja Roundup Ready, sobre a qual está impedida de cobrar royalties no país, a variedade é resistente à aplicação do herbicida glifosato, produzido pela Monsanto, e ao ataque de lagartas.
“É uma nova geração biotecnológica, a primeira soja com inseticida natural, que requer muito menos inseticida”, diz Glauber Silveira, presidente Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja). “O impacto é grande, pois gastamos R$ 50 a R$ 60 por hectare com inseticida”. A empresa trabalha com oito parceiros, entre os quais a Syngenta, e já foram produzidas cerca de 3 milhões de sacas, o suficiente para o plantio de 10% da área de soja do país.
Segundo a Monsanto, a nova semente já foi aprovada por 40 países. “Cada país tem seu próprio sistema de regulamentação. O que é particular na China é que as pesquisas de biossegurança só iniciam depois de o produto ter sido regulamentado no país de origem”, diz Geraldo Berger, diretor de regulamentação da Monsanto. A Intacta RR foi aprovada em agosto de 2010 pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
“Estávamos prontos para o lançamento comercial em 2012, porque ela já tinha sido aprovada em praticamente todos os países que têm um sistema regulatório funcional”, relata Berger. Trata-se de sistema embasado em legislação específica para transgênicos, com um órgão responsável por avaliar as pesquisas e decidir sobre sua aprovação em determinado país. “É um rito processual, com regras e prazos. Isso acontecia na China também. O país sempre teve certa previsibilidade”, diz o executivo. Mas a partir de 2010, segundo ele, a China deixou de cumprir esse rito e tudo ficou suspenso. “Ficou represado um grupo de produtos, impactando Brasil, Argentina, Estados Unidos e Canadá, países com maior produção de transgênicos”, afirma. Passaram-se, segundo Berger, 18 meses além do prazo costumeiro de aprovação pela China.
Embrapa e Basf também aguardam aprovação pela China da Cultivance, um evento transgênico, como dizem os cientistas, que confere às variedades de soja em que é introduzido resistência ao grupo de herbicidas imidazolinomas, produzidos pela Basf. “O evento já foi introduzido em vários cultivares, mas nenhum ainda foi comercializado”, diz Raul Rosinha, coordenador de inovação e negócios da Embrapa. Embrapa e Basf também aguardam aprovação pela China. “Cada país tem um ritmo, mais rápido ou mais lento. Está tudo dentro do planejamento e das expectativas da Embrapa e da Basf e esperamos que na safra 2014/2015 haja possibilidade de liberação comercial desse material”, diz.
Segundo o presidente da CTNBio, Flavio Finardi Filho, enquanto o processo de aprovação de um produto transgênico no Brasil leva entre um ano e meio e dois anos, na China isso não ocorre antes de oito anos. Ele ficou sabendo disso em conversa informal, anos atrás, com chineses membros do órgão equivalente do país asiático, em visita ao Brasil. “Eles repetem todos os experimentos em solo chinês. Por isso, demora mesmo”, diz.
Matéria retirada do site: Clipping Seleção de Notícias Ascom-GM
Fonte: Valor Econômico – 13/06/2013