Quando vamos aos EUA e percorremos as lavouras, visitamos as propriedades, falamos com os produtores, voltamos com um pouco de depressão, pois a diferença de valores é imensa. E não é só financeira ou estrutural, o que mais deprime é ver a valorização dada ao produtor Norte Americano, seja pelo governo, ou pelas próprias empresa. E olha que na composição do PIB Norte Americano a agricultura responde por 1,2%, enquanto no Brasil representa 5,8%.
Mas se não bastasse à questão de valorização do produtor, tem toda a conjuntural de produção e de país. É verdade que eles poderiam estar em situações melhores que a nossa, mas falando em termos de país, solo, clima, riquezas naturais, não teríamos o porquê de tanta diferença. Eles são o terceiro país em tamanho e nós o quarto, mas a pouca diferença acaba aí.
Talvez, um dos fatores de sucesso dos EUA seja a educação, pois os índices são muito diferentes do Brasil, e olha que evoluímos muito nos últimos dez anos. Mas nosso analfabetismo ainda é de 11,4%, enquanto o deles é 1%. Outro ponto importante é referente ao peso dos impostos no PIB: no Brasil são 39,9% do PIB e nos EUA 15,3%. E ainda que tenham caído bastante, os juros oficiais para agricultura no Brasil ainda ficam acima. Aqui são 5,5% contra 3% nos EUA. Sem falar que o PIB per capita dos EUA que é quatro vezes o nosso.
Para produzir, como colocado os juros brasileiros são o dobro e enquanto temos 28 mil km de ferrovias eles têm 224 mil km. Rodovias, nós temos 96 mil km asfaltados e eles, três milhões de km asfaltados. Bom, mas em hidrovias potenciais temos mais que eles, nosso potencial é de 50 mil km de hidrovias, mas utilizamos, segundo a Confederação Nacional de Transportes (CNT) 13 mil km, enquanto eles usam 19,3 mil km.
Temos o modal de transporte mais desfavorável do mundo. No Brasil a soja anda em média 1.100 km para chegar ao porto, nos EUA 1.000 km. A diferença é que o custo médio nos EUA é de 23 dólares e no Brasil 90 dólares. Segundo estudo da FIESP, estamos perdendo quatro bilhões de dólares por ano com nossa ineficiência logística.
O problema todo é que enquanto nos EUA o modal de transporte é formado de 60% hidrovia, 35% por ferrovias e apenas 5% de rodoviário, no Brasil são totalmente invertidos sendo apenas 11% de hidrovias, 36% de ferrovias e 53% por rodovias. E para agravar, o modelo de concessão ferroviária não gera competitividade, com um custo ferroviário igual ao rodoviário.
Armazenagem é outro gargalo, toda propriedade dos EUA tem seu armazém. Os Estados Unidos têm capacidade armazenadora para 130% da sua produção de grãos, ou seja, mais do que recomendado pela FAO que é de 120%. Já no Brasil, a capacidade de armazenagem é de 74%. Talvez, o fator desta diferença sejam os custos dos armazéns que lá custam à metade do armazém brasileiro.
Andando pelos EUA sentimos a diferença, percorri a poucos dias mais de três mil quilômetros por estradas com quatro pistas de cada lado. A todo o momento vemos trilhos que andam laterais as estradas e ao passar por rios vemos as barcaças. Sem falar que nas estradas a cada 50 km encontramos áreas para descanso de motoristas com água gelada e banheiros limpos.
A outra grande diferença é o custo, não só da produção, mas de tudo. A matriz energética dos EUA é totalmente baseada no carvão, são termoelétricas. Eles têm poucas hidrelétricas como no caso do Brasil, e o transporte do carvão mineral é feito de trem. Mas, mesmo com um custo bem maior que das nossas hidrelétricas, a energia lá custa à metade da nossa.
Um produtor nos EUA paga em um pivô de irrigação novo mil dólares por hectare. Aqui no Brasil custa dois mil dólares o hectare. Ou seja, um pivô para irrigar 100 hectares custa lá 200 mil dólares, enquanto no Brasil custa 400 mil dólares. E o custo mensal irrigando no Brasil também é o dobro, já que a nossa energia custa duas vezes mais, mesmo que não transportemos energia de trem.
É notória a diferença quando abastecemos o carro nos EUA. O combustível lá é 30% mais barato que o nosso. E isso, mesmo com o cambio mais alto neste momento, se pegarmos uma média de 2,00 reais por um dólar, nosso combustível fica 50% mais caro que o Norte Americano. E a ironia é o Brasil ser autossuficientes em petróleo, enquanto os EUA são os maiores importadores, importando 8 milhões de barris/dia.
Como podemos ver, essas são algumas das diferenças que penalizam não só o produtor brasileiro, mas toda a sociedade. Talvez essa seja a matriz de toda essa manifestação nas ruas do Brasil. Realmente, o Brasil precisa mudar. Mudar o alto custo das coisas, dos serviços públicos, essa falta de infraestrutura, as obras inacabadas ou mal feitas e todos os outros problemas que sabemos que existem. E a base de tudo isso é a corrupção, as negociações de partidos e por aí vai.
Quem sabe, essas manifestações tragam essa mudança, e que isto se reflita em toda a sociedade, e principalmente, em mudanças estruturais que aumentem a competitividade brasileira. Afinal, temos potencial, mas precisamos de uma reforma profunda e não de um plebiscito. A presidente Dilma sabe o que é preciso fazer, mas precisa ter a disposição de enfrentar uma máquina defeituosa e acreditar que o povo será seu grande exército.
*Glauber Silveira