“Os desafios de uma safra de incertezas” esse foi o tema do primeiro fórum do projeto Soja Brasil, que teve por objetivo discutir as tendências de mercado para soja e milho. O projeto conta com cinco Fóruns que discutirão temas importantes como a questão trabalhista, logística, biotecnologia, a questão indígena e tecnologia de produção. No evento, também serve para divulgar o lançamento nacional do plantio e da colheita de soja.
O Fórum contou com a participação de analistas de mercado, além de mim, que fiz um relato do que pude constatar na viagem, feita em julho, pelas lavouras dos EUA. No evento contei aos participantes sobre a visita ao estado de Iowa, maior produtor, e aos estados mais a oeste dos EUA. Ainda no evento, aproveitei o Fórum e reafirmei que o que vi pela produção norte-americana: lavouras muito atrasadas, áreas sem plantar, nada que se possa dizer como, muito bom.
Ao meu ver, os os produtores norte americanos estão apreensivos assim como nós por uma safra de incertezas, já que mais de 60% da área de soja e milho foram plantadas 30 dias após o período ideal. E com o inverno se antecipando tem forte chance dos produtores terem problemas na colheita, sem falar que as previsões climáticas apontam para um clima pouco favorável mais a oeste dos EUA.
Já no fórum, o que mais me chamou a atenção foi a diferença de opinião de Paulo Molinari da Safras & Mercado e de Liones Severo, operador de mercado e consultor de empresas chinesas. Tivemos a oportunidade de ouvir as duas posições, que são totalmente contrastantes: o primeiro, bastante conservador e baseado no mercado de oferta. Por outro lado, Severo bem otimista e fundamentado no mercado de demanda asiática. Desta forma, posso afirmar que eu tive uma aula de mercado e foi muito instrutivo.
Paulo Molinari disse que apesar do plantio ter sido atrasado e o clima não ser dos melhores o Ministério de Agricultura dos EUA (USDA) já computaram menores produtividades, sendo assim o mercado já absorveu os índices Norte Americanos. Os EUA devem colocar pelo menos uns seis milhões de toneladas a mais no mercado. Molinari alertou ainda sobre a safra da América do sul, na qual está maior isso porque, Brasil, Argentina e Paraguai aumentam a área, ou seja, vem mais soja pela frente.
Em virtude deste cenário – de mais soja no mercado, Molinari alertou sobre o preço, no qual tem tendência de baixa . O preço para março de 2014 pode chegar a 11 dólares o bushel, o que seria uma tragédia para os produtores brasileiros, os custos até o porto apontam em 12,8 dólares. O especialista disse ainda, que os produtores não sentiram o peso da deficiência da logística brasileira, pois os custos estiveram altos nos últimos anos, com preços baixos e o mercado com alta oferta, aí sim vamos sentir na carne.
Um dos pontos importantes levantados foi que com preços altos um navio não pode se dar ao luxo de ficar 45 dias esperando para carregar no porto Brasileiro. Mas, se esse cenário fosse diferente, com preços baixos o destino de navios Chineses ia ser outro para carregar soja. Lembrando, que os chineses este ano ficaram muitos dias com suas fábricas paradas por falta de soja, a China consome três navios ao dia de soja em suas indústrias.
E,para divergir da visão de Paulo Molinari surge Liones Severo um dos primeiros operadores do mercado já que está neste ramo há 50 anos, segundo ele mesmo. Liones nos dá uma aula de mercado, dizendo que os melhores meses, para se travar o preço ou vender a soja, seriam junho, setembro, dezembro e março. O especialista explicou que historicamente os preços reagem nestes meses e não deveria ser diferente esse ano.
Cada mês tem um motivo para os preços reagirem: junho mês de plantio, setembro clima nos EUA, dezembro pós-colheita dos EUA e pós-plantio da América do Sul, e março colheita. Liones como um especialista no mercado asiático, nos deixou uma esperança – o bushel mais próximo de 13 dólares. Ele justificou o valor dizendo que os chineses ao contrário de especulações vão muito bem e vão continuar comprando.
Liones explicou que os chineses sabem que preços muito baixos podem desestimular o crescimento da oferta, sendo assim se os preços começarem a cair muito eles compram e daí o preço se mantém equilibrado dentro de patamares sustentáveis. A soja a 11 dólares e o milho a 4 dólares como prevê Molinari da Safras & Mercado, quebra os produtores de soja do Brasil e os produtores de milho dos EUA, mas isto não vai acontecer afirmou Liones.
Os argumentos de Liones apontaram para os dados que mostram a demanda mundial de soja nas últimas dez safras em cinco foi maior ou igual à oferta. Em 2011/12 produzimos 239 milhões de toneladas e consumimos 256 milhões de toneladas, em 2012/12 produzimos 269 e consumimos 262, sendo assim os estoques são muito baixos. Já os 10 a 15 milhões de toneladas a mais da safra 13/14 o mercado asiático deve absorver segundo a visão de Liones Severo.
Como podemos perceber argumentos os dois tiveram em suas teses de mercado, agora nenhum tem bola de cristal. Eu, como tenho uma bola de cristal, e a minha infelizmente não disse nada sobre mercado, mas falou apenas para eu ficar atento e não sonhar. Agora, uma certeza eu tenho, todos os produtores brasileiros devem rezar para que Liones esteja certo, mas mesmo assim estamos falando de mercado em torno de 13 dólares o bushel.
Como podemos ver o preço alto da soja tem amenizado os grandes problemas que temos no Brasil relacionado à Infraestrutura, como por exemplo, armazenamento e logística. Por mais que esteja sendo feito algo, ainda está longe de ser o bom. O grande desafio neste caso de preços mais apertados é diminuir custos possíveis, aumentar a produtividade e rezar muito, pois os problemas por uma safra ainda maior virão. Estamos falando em margens apertadas, precisamos estar unidos e cobrar pelas obras prometidas.
*Glauber Silveira