Parece estranho falar em “batalha da produção”, mas é assim que tem sido para os produtores, enfrentando uma guerra que dura mais de 50 anos. A cada safra, um novo combate, no qual os opositores são os mesmos: falta de infraestrutura de transporte e armazenamento. Este ano, a batalha se repete e o pior é que o inimigo se apresenta maior, como os milhares de toneladas de grãos sem armazém em Mato Grosso e no Centro-Oeste.
Não só soja produz o MT. A produção de milho dobrou nos últimos cinco anos, saindo de 8,5 milhões de toneladas para 17,3 milhões de toneladas. Em 2013, o Brasil demonstra sua vocação de grande produtor de milho, mas, infelizmente, a cada tonelada adicional produzida uma grande pressão é feita nos preços. De importador de alimentos passamos a exportador, mas com o excedente produtivo fortemente concentrado no Centro-Oeste, localizado a 2 mil km do porto. O frete, por sua vez, segue em alta, pressionado pelas péssimas condições das vias e por portos ineficientes.
Enquanto os produtores de grãos na Argentina e nos EUA precisam transportar a produção nacional de soja e milho por, no máximo, 400 km de caminhão, seguindo o resto do caminho de trem ou pelo modal aquaviário, no Brasil o cenário é outro: em média é preciso percorrer 1.100 km até os portos, sendo que no Centro-Oeste essa distância supera os 2 mil km. A falta de uma logística de transporte adequada é agravada pela falta de armazenagem. Segundo a FAO, o País precisa ter 1,2 vez sua produção de capacidade estática de armazenagem. Nos Estados Unidos a capacidade é de 130%; no Brasil, de 74%, com o agravante de apenas 14% serem na propriedade, ante 42% nos EUA. Fatores como esse geram pressão na comercialização e os produtores se obrigam a comercializar no pico da colheita, a preços menores.
O setor produtivo comemorou a nova linha de armazenagem anunciada no lançamento do Plano Agrícola e Pecuário – a ideia é guardar 100% da safra. O plano disponibiliza valores muito próximos da necessidade real de investimento para construir armazéns. São R$ 5 bilhões de imediato, mais R$ 5 bilhões nos próximos quatro anos, totalizando R$ 25 bilhões. Mas, agora, estamos vivendo outra batalha, que é ver este plano se realizar na prática.
O Ministério da Agricultura tem defendido a produção brasileira. Mas, infelizmente, para os outros setores do governo a área produtiva não é tida como prioritária, pois, quando buscamos um entendimento com as autoridades, mesmo diante do nosso potencial produtivo e das dificuldades, há sempre uma forte resistência. Ainda que seja demonstrado que, nos EUA, se gastam US$ 25/toneladas no transporte de grãos e, no Brasil, US$ 85/t, muitos tratam nossa pujança como se fosse um mal.
Vale lembrar que a falta de competitividade não é só do Centro-Oeste. Os quilômetros rodados no Sul do Brasil, como no Paraná, são os mais caros se comparados a outros países produtores. É inadmissível a soja sair de Toledo (PR) e ir de caminhão até o porto. Resumindo: produtores de todo o Brasil pagam um custo alto pela ineficiência logística e portuária. E o pior parece estar por vir: os problemas logísticos e de armazenagem foram grandes, mas longe do que pode acontecer nesta próxima safra. Este ano, os preços dos grãos estão menores e os custos de produção 26% maiores, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola (Imea). Com preços altos, soja e o milho têm suas exportações aceleradas e um navio pode se dar ao “luxo” de ficar 60 dias para carregar. Com preços baixos, porém, o comprador procurará sem dúvida portos mais eficientes.
O Brasil é um país com vocação para a exportação de commodities e isto faz nossa balança comercial ficar positiva. O que nos causa indignação é que falta comprometimento com o produtor: se o governo realizasse o que realmente é prioritário e urgente, como concluir a BR 163, por exemplo, estaríamos dando passos certos e, assim, as “batalhas” seriam mais justas.
*Glauber Silveira
Fonte: O Estado de S. Paulo