A produção agrícola brasileira encontra-se em grande risco em virtude de novas pragas e velhas doenças. E por isso, os produtores entrarão em uma safra de muitas incertezas já que os produtos no mercado têm tido pouca eficiência de controle. Novos produtos que poderiam diminuir as aplicações e aumentar a eficiência de controle, mesmo após anos de espera do registro, não são liberados.
A ferrugem, uma doença que tem atacado a soja severamente nos últimos 10 anos, com prejuízos acumulados superiores a 20 bilhões de dólares a produção nacional, nos últimos anos tem ficou mais severa. Isso ocorre, porque os produtos registrados para seu controle tem perdido eficiência. O uso de apenas dois grupos químicos e as mudanças que o fungo vem sofrendo, elevaram a necessidade de aplicações de duas para até cinco nos últimos cinco anos.
E para que a ferrugem fosse combatida eficazmente na próxima safra (2013/2014), era imprescindível que tecnologias mais modernas, a exemplo das carboxamidas na fila de registro com prioridade, estivessem sendo comercializadas. O uso de um grupo químico novo permitiria que os grupos anteriores não fossem usados sucessivamente. Com isso, em duas ou três safras eles tornariam a ter a mesma eficácia de outrora.
As carboxamidas, que já foram registradas em diversos países da Europa, Ásia, América Latina e do Norte, precisariam ter sido aprovados até julho de 2013 – do contrário, as indústrias não conseguiriam disponibilizá-los aos agricultores brasileiros em tempo da safra. Como isso não ocorreu, a cada safra fica mais complicado estimar as perdas que se agravam.
Nas Safras 2011/12 e 2012/13 a perda de produtividade saltou na média de dois para cinco sacas/ha em Mato Grosso. Mesmo com o aumento médio de uma aplicação de fungicida nessa safra por hectare, a um custo adicional de 180 milhões de dólares aos produtores do estado, o impacto na produtividade foi grande. Em soja de ciclo mais tardio as perdas chegaram a 15 sacas/ha, representando redução de 30% da produtividade média do estado.
O que nos preocupa muito é o fato da doença estar ficando mais severa a cada ano e os prejuízos estarem aumentando. A Aprosoja-MT já estima que com a não liberação de novos grupos químicos as perdas podem ser de no mínimo 5 sacas/ha na próxima safra. Isso equivale a um prejuízo de mais de um bilhão de dólares, sendo que o estado deixaria de colher 2,5 milhões de toneladas de soja. Isso é: soja suficiente para a ração de 1,2 bilhões de frangos.
Segundo a Aprosoja Brasil, ao considerar a região Centro-Oeste os prejuízos devem ser de dois bilhões de dólares, com perdas de 5 sacas/ha. As perspectivas para a próxima safra, se permanecer as plantas tigueras, grãos germinados da sobram da colheita, e com as chuvas na entressafra, a doença seguirá multiplicando. Com o plantio das primeiras lavouras a doença se instalará.
E assim como na última safra, em que o surgimento da ferrugem em lavouras comerciais se antecipou em um mês (novembro), haverá um agravamento do quadro com maior severidade. Isso se refletirá em perda de eficiência dos produtores para o mercado, e estamos falando de 5 a 8 milhões de toneladas de soja a menos. É importante ressaltar que além das perdas de produtividade, uma aplicação a mais de fungicida custa no mínimo 22 dólares ao produtor, ou seja, uma saca de soja por hectare, sem nenhuma garantia de que o produto terá eficiência.
A ferrugem é uma doença que vai tirando a renda do produtor, e pior, vai ficando cada vez mais difícil medir as perdas. Mas as estatísticas comprovam que nos últimos dez anos, quando a ferrugem surgiu nas lavouras brasileiras, a nossa produtividade cresceu apenas 4%. Em 2002/03 a média da produtividade brasileira era de 2.816 kg e em 2012/13 2.938 kg, dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Entretanto, na safra 92/93 a nossa produtividade era de 2.150 kg, sendo sim, durantes os dez anos seguintes crescemos 30%, ganho de 700 kg por hectare.
O Brasil tinha tudo para continuar crescendo em produtividade nestes dez anos, afinal investimos em tecnologia de produção. Mas, infelizmente, além do clima, as pragas e doenças nos tiraram muito a produtividade. Se estivéssemos crescendo a índices de 92/93 até 2002/03, já deveríamos estar produzindo 3.600 kg/ha e produzindo 18 milhões de toneladas de soja a mais na mesma área.
A soja, que deverá ser cultivada em cerca de 30 milhões de hectares no país de acordo com a Conab, é uma das culturas que têm sido mais afetadas pela morosidade na aprovação de registros de novos produtos, principalmente por parte da Anvisa. O órgão, por falta de estrutura, não consegue atender à demanda do mercado, gerando perdas diretas para os agricultores, que ficam sem alternativas técnicas e economicamente viáveis para manter sua produção.
A inovação e a adoção de novas tecnologias são fatores imprescindíveis para o aumento da competitividade da agricultura nacional nos mercados interno e externo. Por isso, é fundamental o trabalho de pesquisa e desenvolvimento de novas moléculas capazes de controlar com eficiência determinadas pragas e doenças que ameaçam nossa agricultura tropical e assegurar o abastecimento de alimentos de qualidade e em quantidade.
Entretanto, embora o Brasil esteja na lista dos países mais relevantes do mundo em termos de agronegócio, o Governo Federal não tem dado a devida atenção ao setor no tocante ao registro de novos defensivos agrícolas, atividade que contribui para o aumento da produtividade no campo.
Embora prometida pelas autoridades desde 2011, a priorização da aprovação de novos produtos para o controle da ferrugem não aconteceu até agora. Caso pelo menos um produtor não seja registrado esse mês, ficará evidente o descaso e falta de responsabilidade de gestores do Governo em relação ao setor que tem garantido saldo positivo na balança comercial do país. Resta aos atores do segmento encontrar maneiras de cobrar a conta dos prejuízos dos agricultores às autoridades responsáveis nessa que, mais do que uma grande situação de descaso, é uma temática relevante para o bem da economia nacional.
Glauber Silveira