Participei dia 26 de novembro do evento Agrimoney realizado em Cuiabá pela BM&F, CMA, Safras e Mercado e canal Rural. O tema do evento foi “A nova fronteira da rentabilidade” e o que vi me preocupou muito. Afinal, nos últimos meses em todos os fóruns de discussão de rentabilidade da agricultura brasileira, as perspectivas de renda para os próximos anos apresentadas ficam muito próximo de zero. Sendo assim, essa nova fronteira nada tem de positivo.
Enquanto diversos palestrantes focavam em dados pouco otimistas, na apresentação do Conselheiro da Embaixada da China no Brasil, Wang Qingyuan, ficou claro como a demanda da soja está aquecida, principalmente na ótica do maior importador/consumidor, o mercado asiático. Atualmente, segundo os últimos dados da Conab de 2012, de 66% a 68% da produção de soja brasileira é destinada para a China, cerca de 22,8 milhões de toneladas. Nas falas do Qingyuan, foi perceptível que o crescimento da produção da oleaginosa no Brasil deve continuar nos próximos anos, uma vez que a China tem uma população que cresce acima de 7% ao ano e que, por isso, precisa importar mais grãos anualmente. Situação bastante positiva para nós produtores e uma excelente oportunidade para o Brasil.
Mas, infelizmente, a maioria dos especialistas e economistas que palestraram no evento e que não eram do governo, deixaram destaca a preocupação mundial com os rumos que o Brasil está tomando. Ficou uma imagem de que o governo perdeu totalmente o foco e está agindo apenas como bombeiro, chegando ao ponto do Economista chefe do Banco Original, Marcelo Petersen Cypriano, dizer que apesar do mercado financeiro gostar de continuidade, ou seja, de um ambiente institucional estável, no caso do atual governo brasileiro está preferindo que sejam feitas mudanças. A afirmação causou bastante impacto em mim e na plateia.
Aí fica o questionamento, oras, se a demanda mundial está aquecida, temos um parceiro Chinês faminto e somos um grande exportador de grãos, porque a mensagem do mercado aos produtores tem sido de muita cautela? E ainda, o problema que se vê no Brasil está na verdade na indústria em geral, que passa por dificuldades sérias de rentabilidade, relacionados a uma crise de produtividade e custos elevados de produção. O que me parece, e foi apresentado por alguns, a raiz do problema está nas políticas assistencialistas empreendidas pelo governo. Não que elas não sejam importantes, mas não é possível um país resistir no estilo só dar sem receber. A matemática é implacável e nesse caso o resultado negativo da equação vem causando muito mal à economia brasileira.
O governo focou sua gestão em bolsas assistencialistas, aumento de benefícios trabalhistas, legislações protecionistas, o que fez com que a mão-de-obra brasileira ficasse entre as menos eficientes do mundo. Não se vê um investimento semelhante em educação, cursos técnicos e profissionalizantes. Por outro lado, apesar de lançar programas de investimento em infraestrutura, a administração pública não conseguiu concluir uma obra sequer. Com isto, as rentabilidades de todos os setores mantenedores da saúde econômica brasileira perderam muito. E em um país Agrosilvopastoril e exportador de produtos do setor primário, com uma economia que depende desta esfera, essa atitude negligente do governo com a infraestrutura é um tiro no pé.
Para os produtores de soja fica sempre a sensação e a esperança de que tudo vai melhorar, mas aí passa um filme em nossa mente que nos diz algo contrário. A BR 163 exemplo emblemático, já que aguardamos sua conclusão há 30 anos e até ontem o governo prometia entregar a obra em 2011. Daí refez seus cálculos para 2013, e finalmente, agora está convicto que termina em 2015 e nós ficamos sem saber quando realmente ficará pronta. Não que esta rodovia seja a salvação, mas sem dúvida é uma alternativa urgente para aliviar a pressão dos custos de produção e do apagão logístico brasileiro.
E o problema dos produtores não para por aí: o governo em vez de concluir obras, se apressa para fazer concessões, nas quais nos deixam dúvidas sobre o real impacto na redução do custo de transporte. E nós já vimos esse filme, antes em outras concessões e que na época trouxeram benefícios somente aos concessionários. O pior é que já apresentamos ao governo quais obras de infraestrutura são importantes para o país, e que se não forem realizadas tornam o custo de produção em curto prazo impagável para os produtores. Entretanto, os nossos pedidos não são acatados pela administração pública, que parece ter ouvidos, mas não escuta.
Neste cenário, o que mais me preocupa é a nova safra que ainda será colhida, 10% maior que a anterior. E por isso, já não espero mais um caos e sim uma trágica logística anunciada. E mesmo com a experiência caótica da safra anterior, a única atitude que vejo por parte do governo é o lançamento de planos de investimentos e agora concessões. O resultado disso tudo nós todos assistimos na realidade da logística brasileira: estradas cada vez piores, trens descarrilhando, portos com a mesma capacidade e eficiência há décadas, dragagens de canais que não se concluem nunca. Enquanto isso, as obras da Copa…
Infelizmente, as poucas obras, as mesmas de 10 anos atrás, que poderiam beneficiar o escoamento da safra de grãos e fazer o Brasil crescer, não seguem em frente. E como já mencionei em outros artigos, os motivos são sempre os mesmos: licenças ambientais que não saem nunca, problemas com a proximidade de reservas indígenas, além da própria falta de zelo pelo cumprimento do cronograma de conclusão das obras.
Com tudo isso, parece que o governo se encontra refém de suas próprias atitudes, de um programa que emerge de suas bases e que é visivelmente inadequado, que atenta contra o crescimento e o desenvolvimento do país. Mas como eu já disse num artigo anterior, me parece que é isso mesmo, somos o país das ações paradoxais, onde a emergência parece não ser urgente. Sinceramente, fico pensando: será que estou míope e não estou enxergando certo?
*Glauber Silveira
Parabéns pelo artigo,adorei!