Se tem uma coisa que temos de reconhecer, é que o agronegócio nunca foi tão prestigiado como nesta safra 2013/2014. Tivemos em menos de um mês dois lançamentos de colheita com a presença da mais alta cúpula do comando do país. O primeiro evento foi no Paraná com a presença da ministra chefe da Casa Civil, e o segundo em Mato Grosso com a presença da presidenta da republica Dilma Rousseff, acompanhada de dois ministros, o da agricultura e do transporte. Os dois com direito a participação das autoridades operando as colheitadeiras, lançando soja pra cima e ainda com a presidenta provando soja recém-colhida, algo realmente inédito.
Claro que por um lado isto demonstra o reconhecimento que o setor do agronegócio tem tido pelo governo, mas por outro, não tem aplacado a insatisfação do produtor rural com os governantes. Nas mídias sociais, por exemplo, as críticas são severas em virtude do pouco avanço, principalmente, da logística brasileira. Não que a culpa seja somente deste governo, afinal os anteriores neste quesito também pouco fizeram.
Mas tenho que reconhecer que no discurso a presidenta Dilma está sabendo realmente pontuar muito bem todas as angústias do setor. Deixou claro que se preocupa com a aplicabilidade do Plano Safra e destacou que burocracia tem prejudicado a celeridade, seja do programa de armazenagem, que teve pouca efetividade no seu primeiro ano, seja na evolução da eficiência portuária, bem como do sonho de um modal equilibrado e competitivo com ferrovias e hidrovias.
Em Mato Grosso, não poderia ter uma fala mais apropriada, ainda mais quando diz que tem duas fixações: a primeira delas é a FICO (ferrovia que corta o Brasil de leste a oeste) e a segunda são as hidrovias. Dilma aproveitou para destacar que o nosso país foi colonizado por hidrovias e temos que resgatá-las. Nada mais justo, já que temos grande aptidão hidroviária.
Ao final do seu discurso, a presidenta destacou como pensa que virão as soluções para os gargalos do país, “acredito que devemos olhar o Brasil na perspectiva do médio e longo prazo, enfrentar as diversidades, mas a visão de longo prazo é fundamental para sabermos onde queremos chegar”. E completou dizendo que o agronegócio está entre os dois eixos de sustentação nacional junto com a energia.
Como podemos ver, embora o discurso da presidente esteja em parte alinhado com nossas reivindicações, temas como segurança jurídica no campo, a questão indígena e a ambiental ficaram de fora. E sabemos que todos tem grande relevância para o futuro da produção brasileira e para dar tranquilidade no campo. De qualquer forma, a sinalização e a fala da presidenta foram importantes, principalmente se forem transformados em obras e ações.
E é evidente que em pré-campanha eleitoral fica sempre o questionamento se é apenas discurso ou intenção real de realizar mais em prol do agronegócio. O mesmo alinhamento e o mesmo tom afinado com as demandas do agro foram percebidos na fala dos outros dois candidatos, Aécio Neves e Eduardo Campos, em reuniões com o setor em São Paulo. Em resumo, todos os candidatos podem ministrar aula sobre a importância do agronegócio e o que é preciso avançar para que venha a ser sustentável, e acima de tudo traga renda e desenvolvimento ao interior do Brasil.
Uma coisa é certa, quando o Partido dos Trabalhadores assumiu o comando do país, nós produtores ficamos de cabelo em pé, pelo que poderia vir para o nosso lado, afinal a impressão que o PT parecia ter de nós é que éramos um bando de “vilões chorões”. Mas felizmente foi o contrário e o atual governo reconhece nossas lutas e conquistas. E com isso, nossa vida continuou, seguiu, em alguns temas avançamos e em outros seguimos com as nossas batalhas.
Neste momento, o setor rural parece ter caído nas graças dos candidatos e do governo, com citações como a da presidente Dilma em Lucas do Rio Verde-MT, “o agronegócio é um exemplo para o Brasil, pois a cada ano bate um novo recorde”. E assim espero que, independente de quem for o novo presidente, que ele ou ela possa transformar seu discurso em realidade, continuando a valorizar o agro e suas ações possam tornar o campo mais justo e competitivo.
*Glauber Silveira