No último mês, tivemos nos EUA o Outlook Fórum do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), evento anual, onde são discutidas e apresentadas as expectativas para a próxima safra dos EUA, 2014/2015. O mundo da soja fica atento a este evento, afinal temos uma sinalização de como será o mercado de oferta e demanda, ou seja, temos um cenário de preço futuro bem no momento em que estamos fechando os principais custos da próxima safra.
O USDA, assim como algumas consultorias, tem visualizado um cenário de preços baixistas para a próxima safra, em torno de US$ 9,65/bushel. As justificativas para tamanha queda no preço se baseiam em fatos como aumento de área de soja nos EUA e aqui no Brasil. Lá eles estimam uma área recorde de 32,17 milhões de hectares e uma produção de 96,6 milhões de toneladas.
Se considerarmos o incremento da área na América do Sul, poderemos ter uma produção de 10 a 20 milhões de toneladas a mais para a próxima safra. Isso significa que a produção estaria crescendo mais que o consumo, repondo os estoques mundiais. Outro fator que sem dúvida influencia é a mudança na política de etanol de milho. O consumo caiu, os carros estão mais econômicos e o governo resolveu diminuir o ritmo de crescimento da produção. Com isso haverá mais milho no mercado, e uma forte pressão sobre o preço da soja.
Eu olhei bem os números, os argumentos dos especialistas e do USDA no que diz respeito ao cenário de preços, mas sou sincero, não consigo imaginar preços que se sustentem abaixo de US$ 12,00/bushel. Primeiro porque o USDA está contando que dê tudo certo e esta chance é pequena, a exemplo das duas últimas safras. E para esse início de safra, já se aponta clima frio nos Estados Unidos, o que atrapalha o plantio e aumenta os riscos de geada e chuva na colheita. Segundo, por mais que tenhamos mais soja no mercado, estaremos apenas recuperando estoques, e o principal, se o preço vier a US$ 12,00/bushel, os Chineses fazem estoque, enxugam o mercado, e com isto o preço se mantém.
Claro que não estou dizendo que os preços serão altistas, muito pelo contrário, acredito que entraremos em uma safra muito apertada, na qual o custo baterá novo recorde. Já tivemos em 2013/14 uma safra 14% mais cara que a anterior, e com isto as coisas se complicam. Segundo o IMEA, o custo variável em Mato Grosso está US$ 870,00/hectare o custo total de US$ 1.135/hectare, se a soja vier a US$ 12,00/bushel isto equivale a um preço recebido pelo produtor de US$ 18,00/saca a US$ 20,00/saca no estado de Mato Grosso.
Quando analisamos um custo variável de US$ 870,00 e a saca de soja a US$ 18,00, estamos falando que serão necessárias 48 sacas de soja para pagar apenas os custos variáveis. Se computarmos os custos totais que incluem manutenção periódica, arrendamento ou custo da terra, depreciação e dividirmos o total pelo preço da soja, precisaremos de 63 sacas para pagar os custos totais. Mas a produtividade média estimada é de 54 sacas/hectare, ou seja, neste cenário teremos um prejuízo de 9 sacas/hectare.
Não preciso nem dizer o que aconteceria se desse tudo certo e o USDA acertasse seu prognóstico, precisaríamos de 80 sacas para pagar os custos, ou seja, é melhor não plantar. Bom, quem sabe seja este o objetivo do USDA, afinal se não plantarmos os produtores norte-americanos agradeceriam e os Chineses entrariam em pânico.
Por outro lado, eu acredito mais em cenários de US$ 12,00/bushel, o que para os produtores do Centro-Oeste já é um cenário muito ruim e de grande risco. Como no mercado não temos influência, mesmo coletiva, o que nos resta é ficarmos muito atentos aos custos. As sementes subiram 50% para a próxima safra e os defensivos 46%, sobre estes fatores podemos negociar e buscar preços melhores – é preciso ficar atento.
Agora, cenários mudam, se conseguirmos reduzir custos pensando no pior e o cenário se alterar, seja pela menor oferta ou o maior consumo, pode ser que a próxima safra seja remuneratória. Este ano, por exemplo, estamos vendo um déficit de exportação nos Estados Unidos, o que junto com as perspectivas de redução de produção na América do Sul têm pressionado os preços. Se tudo isso se repetir, na próxima safra haverá, como neste ano, uma janela de preços acima de US$ 12,00/bushel, colocando as contas dos produtores brasileiros no azul novamente.
Tudo isso mostra como é complicado se produzir num país sem uma garantia mínima de rentabilidade aos produtores brasileiros. E sem um seguro rural adequado de garantia de renda ao produtor, a principal forma de melhorar a remuneração para nós seria a logística, pois a sua melhoria nos traria no mínimo US$2,00/saca, uma diferença crucial em anos mais apertados. Mas enquanto isso, não conte só com a sorte, negocie bem.
*Glauber Silveira