Em vez de ficar tentando acertar o momento de pico de preços, o produtor de grãos tem que aprender a criar estratégias de venda. Essa foi a principal dica do engenheiro agrônomo e consultor de mercado Ênio Fernandes para agricultores, técnicos, estudantes e profissionais do setor que participaram dos Fóruns de Comercialização e Mercado Agrícola, realizados em Itumbiara (dia 6), Vicentinópolis (7), Ipameri (8), Formosa (9), Silvânia (14) e Porangatu (15).
“A toda hora o mercado dá oportunidades. É preciso ter estratégia para ganhar dinheiro com dólar a R$ 4,00 e com dólar a R$ 3,00”, ressaltou Ênio. Por exemplo, o produtor que vendeu soja a R$ 80,00 em 2016 fez um bom negócio, já que neste início de ano a comercialização segue lenta. Porém se ele utilizou esses recursos para comprar fertilizantes naquele período de dólar mais valorizado, ficou em desvantagem na comparação com quem está adquirindo insumos agora, mesmo que recebendo menos de R$ 65,00 pela saca de soja.
São análises como essas que o produtor de grãos deve fazer para conduzir bem seu negócio e, sobretudo, aumentar a lucratividade. Independente da taxa de câmbio e das cotações de grãos na Bolsa de Chicago (CBOT), ele tem que conhecer seus custos de produção e planejar o que fazer em cada situação que o mercado apresenta.
Poder de negociação
A boa notícia, segundo Ênio, é que hoje o produtor é quem tem o poder de negociação. Um levantamento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) citado na palestra revelou que 87% do PIB agrícola brasileiro está nas mãos de 13% de produtores. Esse público bastante informado e detentor de alto nível tecnológico é formador de opinião junto aos demais agropecuaristas.
“O produtor está ficando cada vez mais especializado na sua comercialização e o comprador tem que lidar com essa pessoa extremamente profissional. Isso muda a relação entre produtor, fornecedor, distribuidor”, destacou o palestrante.
À medida que conhece o ambiente de compras e vendas, o agricultor começa a reter seus produtos à espera de reações positivas dos preços. É o que está acontecendo nesta safra. “O mercado quer saber quando o produtor brasileiro vai voltar a vender a soja”, afirmou Ênio, informando que apenas 40% da safra nacional já foi comercializada.
Apesar da baixa nas cotações da oleaginosa no Brasil, devido ao recuo do dólar e à grande oferta esperada na atual colheita, Ênio explicou que o agricultor pode obter oportunidades de venda durante o ano. Disse também que o preço da soja está mais nas mãos dos produtores do que dependente das cotações de Chicago. “O jogo está muito travado. Se o dólar ficar estagnado, o preço da soja cai em março, mas não despenca”.
Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) utilizados na apresentação mostraram que EUA, Brasil e Argentina produzem 87% da soja mundial. A esta altura, com a safra colhida, os americanos estão praticamente fora do mercado, de acordo com Ênio, porque já venderam 90% da soja prevista até setembro de 2017. Já a Argentina venderá a produção aos poucos, pois nesse país é comum a troca de grãos por insumos e máquinas, sem falar que soja é mais destinada para o processamento de farelo e óleo. Então sobra o Brasil para abastecer a demanda.
“Quem manda no jogo neste momento é o produtor brasileiro. Hoje vocês estão em uma posição confortável. Em março, abril, vai ficar bom para o comprador”, destacou o palestrante. O maior erro, ressaltou Ênio, é não se decidir, esperar, esperar, e ter que vender quando não há tempo para planejar. “A avaliação de como está sua dívida (em dólar ou reais) e quanto você já vendeu é que vai definir sua decisão. Daqui para frente, fique de olho no comportamento do dólar”, recomendou.
Mercado de milho
Ainda durante os fóruns, o consultor Ênio Fernandes alertou que os produtores não podem esperar valores muito altos para o milho, como ocorreu em 2016 com a quebra da safrinha. A expectativa é de uma produção elevada, com previsões climáticas otimistas até agora e boa parte do plantio sendo feito dentro da janela ideal. “Se der lucro a R$ 20, R$ 22/saca, trave [o preço de] um pouco de milho”, aconselhou, lembrando que em anos de safra cheia são comuns as cotações por volta de R$ 17/saca.
“Ninguém tem certeza se a segunda safra será boa. O cenário muito negativo de milho pode acontecer sim na boca da safra, mas você tem que ter estratégia para [reverter] isso”. O brasileiro já aprendeu a armazenar milho e se a cotação é muito baixa, afirmou Ênio, ele não vai vender. “Quando o preço cair demais e você puder esperar, segure o produto porque em algum momento o mercado vai volatilizar e será a hora de vender. Lembre-se de que as mínimas são passageiras”, destacou.
O consultor disse ainda que contratos de exportação de milho voltaram a se aquecer esta semana, com muitas vendas em algumas regiões do país. E também afirmou que até o próximo mês haverá oportunidades de o produtor fechar negócios suficientes para cobrir os custos da safra de inverno.
“Quanto menor a taxa de câmbio, mais estressante será a venda. Quanto maior a taxa de câmbio, mais rápida será a saída de grãos”, explicou. “Para milho safrinha, a estratégia é de agressividade em hedge [proteção de preços] e margens menores. Já no milho verão há possibilidade de margens maiores, pois a produção é pequena para a demanda interna”.
Fóruns de Comercialização
Também presente nos fóruns, o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO), Bartolomeu Braz Pereira, ressaltou a necessidade de os agricultores estarem atentos ao mercado. “Precisamos travar [preços para cobrir] nossos custos de produção e aproveitar as altas da soja para conseguir uma receita maior”.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, falou da importância desse tipo de evento como meio de troca e obtenção de informações. “Temos maturidade e paciência no processo de produção, mas a parte de comercialização também é primordial”.
Em sua 8ª edição, os Fóruns de Comercialização e Mercado Agrícola promovidos pela Faeg, com apoio da Aprosoja-GO, percorreram 10 municípios goianos – Chapadão do Céu, Mineiros, Jataí, Rio Verde, Itumbiara, Vicentinópolis, Ipameri, Formosa, Silvânia e Porangatu – desde o dia 30 de janeiro.
Fonte: Laura de Paula – Aprosoja GO