Se os brasileiros estão se ajustando economicamente, por conta do cenário econômico atual, a situação não está diferente para os produtores de soja do país. A safra será plantada daqui a 60 dias e o atraso na liberação de crédito nas instituições financeiras continua.
Influenciada por fatores externos e pela instabilidade político-econômica que passa o país, a moeda americana exibiu forte valorização, provocando uma alta nos preços dos fertilizantes e nos custos de produção. Estima-se que 30% dos produtores ainda não fecharam a compra de fertilizante. Os preços das commodities, de outro lado, estão caindo e a crise no mercado Chinês causa preocupações com o cenário econômico futuro.
E para discutir esses desafios e incertezas, vários especialistas de consultorias e da academia foram convidados, além do presidente da Aprosoja Brasil, Almir Dalpasquale e o executivo da entidade, Fabrício Rosa. O debate foi tema do segundo Fórum do Projeto Soja Brasil da Safra 2015/2016, que aconteceu nesta quinta-feira (03/09) na Expointer, em Esteio (RS).
O evento contou com mais de 120 participantes que lotaram a Casa RBS. O objetivo do debate era mostrar ao produtor formas de manter a competitividade nas lavouras em anos de crise econômica, através de técnicas produtivas e de estratégia de compra e venda futura.
Mercado e Custos de Produção
O palestrante, analista da consultoria Safras & Mercado Paulo Molinari, trouxe para a discussão as expectativas econômicas. De acordo com o analista a safra americana está caminhando positivamente. “O clima não interferiu negativamente na produção norte americana. Os EUA vão ter uma safra muito regular e tudo indica que eles irão ter bons resultados. Diferente da Argentina que terá problemas com o excesso de chuvas, por conta da La Ninha”, afirmou Molinari.
O consultor acredita que por conta das variações do dólar é essencial que o produtor comercialize suas safras e que o agricultor não aposte no aumento da moeda em 2015/2016. “Faltam, mais ou menos, 60 dias para os produtores brasileiros começarem o plantio, dessa forma eu acredito que 60% da safra deva estar comercializada para garantir a rentabilidade”, afirma o analista da consultoria Safras & Mercado. A preocupação é com aqueles produtores que não comercializaram nada da próxima safra e que perderam janelas importantes, segundo o analista. “Se, na média, 60% da próxima safra já estará vendida, pode ter produtor que vendeu 50% e outro com 4%”. Isso eleva o risco destes produtores que poderiam ter conseguido uma rentabilidade de razoável a boa e os coloca em zonas de prejuízo, avalia Molinari.
E, enquanto o Dólar causa incerteza nas decisões dos agricultores o custo de produção está cada vez mais alto. Segundo o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), Mauro Osaki, as pesquisas mostram que o produtor brasileiro está com gastos semelhantes aos dos norte-americanos. Ozaki explicou que desde 2009 os custos estão aumentando drasticamente e o Brasil é o país que mais sofre com esse cenário. “A compra de fertilizantes gera impacto negativos na rentabilidade do produtor. O Brasil por conta das suas características Tropicais, com solos mais pobres e ataques intensos de pragas e doenças, o agricultor precisa usar mais fertilizantes e defensivos do que em climas temperados, e isso acaba impactando negativamente no bolso”, garantiu Ozaki. De acordo com dados do CEPEA, na média das lavouras analisadas, se gasta 25% a mais para se produzir no Brasil, em comparação com as lavouras dos EUA.
O presidente da Aprosoja Brasil, Almir Dalpasquale, explicou a importância de reduzir os riscos da atividade ao travar uma parte dessa safra e garantir as compras, o mais rápido possível, para evitar assim endividamentos. “Nos últimos meses o Dólar aumentou exponencialmente, dessa forma meu conselho é para que o produtor não demore muito para fechar seus negócios. Produtor tem que ter cautela sim, e analisar os fatos para manter-se dentro da atividade”, disse Dalpasquale.
Falta de crédito preocupa Aprosoja
Ainda no debate muito se falou sobre a liberação do crédito de custeio. Para o diretor executivo da Aprosoja Brasil. Fabrício Rosa, é inacreditável a falta de agilidade e de recurso disponível nas instituições financeiras. Rosa explicou que os produtores não estão tendo acesso ao recurso destinado a agricultura pelo Plano Safra. “Há menos de 3 meses do início do plantio da soja e os produtores ainda estão sem a liberação do recurso”. O executivo ainda questionou a prática de venda casada de seguro que eleva o custo de contratação para até 17%.
Outro ponto questionado por Rosa é que os recursos dos bancos não são suficientes para manter as necessidades do produtor e por isso ele deve buscar outros meios de fazer caixa e não somente depender de recursos do crédito oficial. “O crédito rural só cobre 30% do necessário, e custa muito caro para o produtor, gerando assim instabilidade e até mesmo endividamento no setor”, afirmou Rosa.
O executivo ainda disse que os bancos ganham muito dinheiro emprestando o dinheiro do crédito oficial, mas o produtor está pagando essa conta,” Situação absurda em um país onde o Agronegócio desempenha papel estratégico para a economia e para a segurança alimentar”, asseverou o Fabrício Rosa.
Para o presidente da Aprosoja Brasil é importante o produtor lembrar que a sua “moeda de compra é o grão”. “Até agora vendemos pouco antecipado e os preços estão bons. O produtor não deve esperar aumentar ainda mais o dólar e aumentar Chicago para negociar sua safra. Ele deve fazer as contas e analisar sua rentabilidade, para assim continuar com seu negócio” comentou Dalpasquale.
Manejo eficiente diminui custo, afirma Embrapa
Ainda no evento foi apresentado pelo pesquisador da Embrapa Soja, Osmar Conte, dados que comprovem que a existência de novas pragas e doenças contribuem para o aumento no custo de agroquímicos. Conte explicou que é essencial o manejo integrado de pragas para diminuir os custos. “Se o produtor tiver o cuidado de fazer o manejo integrado ele consegue reduzir a perda de três sacas por hectare. Ou seja, com tecnologia e pesquisa a rentabilidade é consequência”, explicou o pesquisador da Embrapa.
Segundo Fabrício Rosa, esse será o grande mote do Projeto Soja Brasil deste ano safra. “Temos vários bons exemplos de produtores que construíram uma boa fertilidade do solo e conseguiram ganhar até 200 reais por hectare a mais. Se aliarmos ao que foi trazido pelo Osmar da Embrapa, o potencial de ganho com um bom manejo de pragas poderia sobrar esses números chegando a 400 reais a mais por hectare e é isso que queremos mostrar esse a ano na passagem do projeto”, afirmou Rosa.
Fonte: Ascom Aprosoja Brasil