Muita luz, muita água, muito calor e terrenos extremamente planos, com pouquíssima acidez. Que fazendeiro não gostaria que essas fossem as características de sua propriedade? Pois é isso que a região de Boa Vista oferece a quem se dedica à agricultura.
“Quando a gente fala de muita luz, não está falando de claridade não. Falamos de sol mesmo. São em média 12 horas de sol forte por dia. Isso tem um efeito fantástico na agricultura”, explica Marlon Buss, secretário de Agricultura e Assuntos Indígenas de Roraima.
Essa conjunção de fatores se traduz em qualidade e em produtividade, conta o gaúcho, que trabalhou por vários anos com agricultura no Centro-Oeste e é, ele próprio, produtor de soja em Roraima há sete anos. “Devido a essas condições de clima e de solo, a produtividade da soja aqui chega a ser até 15% superior à do Centro-Oeste”.
Com temperaturas elevadas, o ciclo das plantas fica mais curto. “A temperatura e a luz favorecem a fotossíntese. Assim, o ciclo do milho, por exemplo, é cerca de 25% mais curto do que em outras regiões, o que aumenta a produtividade. No caso da soja, enquanto nas outras regiões seu ciclo é de 110 dias, aqui ele é de cerca de 95 dias”, explica Fábio Valk Guths, engenheiro agrônomo da Secretaria de Agricultura.
Por isso, é possível, com ajuda da irrigação, ter até quatro safras de grãos diferentes por ano.
Buss explica que, além da produtividade, essas características ambientais influenciam também a qualidade dos produtos. “O grão de soja aqui na região chega a ter 2% a mais de óleo e 5% a mais de proteína. Isso é um grande ganho para o produtor.”
O algodão da região também se beneficia dessas condições. “Além de a produtividade por hectare ser, como no caso da soja, superior à do Centro-Oeste, as fibras que obtemos aqui são mais longas, o que garante maior qualidade ao produto e um preço melhor”, explica o secretário.
O objetivo principal da secretaria, criada em outubro passado, é estimular o agronegócio no município de Boa Vista, que ocupa uma área de 5,7 mil km2 (quase quatro vezes a da cidade de São Paulo).
Hoje, as plantações em Boa Vista ocupam 10 mil hectares. Segundo Buss, é possível chegar a 150 mil hectares, sem desmatamento ou prejuízo para as comunidades indígenas.
O secretário Buss afirma que a prioridade é obter escala de produção, para reduzir custos e aumentar o poder de negociação. “Produtividade nós já temos. Precisamos agora é elevar a produção. Parece difícil, mas é bom lembrar que há menos de 30 anos a produção de soja em Mato Grosso era praticamente zero. Hoje eles produzem 52 milhões de toneladas em 9 milhões de hectares.”
Uma das saídas para alavancar o agronegócio em toda a região é investir na energia limpa e sustentável. Além disso, um acordo está sendo fechado para pavimentar uma rodovia na Guiana, o que irá facilitar o escoamento dos produtos de Boa Vista para o porto daquele país, aproximando a agricultura local dos mercados do Caribe e da Europa.
Além dos grandes produtores, os pequenos também são prioridade para a Prefeitura de Boa Vista. Hoje, 52% da merenda oferecida nas escolas municipais provêm de plantações familiares e de comunidades indígenas.
Fonte: Folha de São Paulo