Inúmeros fatores influenciam o sucesso de uma safra. Desde a aquisição dos insumos ideais à sua incorporação ao solo, chuvas no momento certo, clima favorável na colheita, acertos cambiais e habilidade comercial dentre outros vários eventos. E todos eles inevitavelmente ultimam no escoamento do produto.
Para quem produz não há maior frustração do que acertar em todos esses fatores acima e, naquilo que deveria ser o mais fácil – já que previsível -, deparar-se com a absurda dificuldade de transportar o grão de sua fazenda para o destino seguinte.
A celeuma não se resume ao atoleiro: a estrutura de armazenamento das fazendas fica sobrecarregada pelo atraso em retirar, com riscos de acidente; o transporte de caminhão, que a princípio demoraria três dias, passa a durar cinco, seis ou mais dias, encarecendo o frete e desgastando os motoristas, quando não provoca a desistência; toda a cadeia produtiva fica estagnada em face da espera pelo grão que se encontra em um caminhão atolado nas estradas do Piauí. Em diversas ocasiões isso fez com que empresas beneficiadoras do nosso grão nos estados do Ceará e Pernambuco preferissem alugar navio e comprar na Argentina a buscar aqui do lado.
Esse cenário catastrófico concentra-se principalmente na rodovia PI-397, conhecida como Transcerrado, que não só é a principal obra de infraestrutura de interesse do agronegócio piauiense como também tem imenso peso social, importância esta muitas vezes ignorada quando entre as quatro paredes das decisões: cortando os municípios de Gilbués, Monte Alegre do Piaui, Bom Jesus, Currais, Palmeira do Piaui, Redenção do Gurgueia, Manoel Emidio, Bertolinea, Uruçui (onde permite o acesso ao distrito de Nova Santa Rosa), Sebastião Leal e Alvorada do Gurguéia, beneficia uma população de 107.378 habitantes (IBGE), onde se produz soja em 356.490 hectares (IBGE) e gerando um PIB de R$ 1.432.005.970,00 (CEPRO-PI).
Há que se lembrar ainda que a PI-397 (Transcerrado) encontra em seu extremo sul a BR-235 onde, se em condições de trafegabilidade, traria os produtores de Santa Filomena para os pólos de atendimento do Piauí, em especial Bom Jesus, onde se encontram as lojas de máquinas e implementos agrícolas, oficinas, empresas de consultoria técnica etc. Diante do atual cenário trágico da Transcerrado, muitos daquele município buscam apoio no município de Balsas, no Estado do Maranhão. Essa troca do Piauí pelo Maranhão deveria ser para nós piauienses um literal vexame.
Apesar do menor peso econômico e social, a PI-392 também se apresenta como obra de relevância e necessária: corta os municípios de Baixa Grande do Ribeiro e Ribeiro Gonçalves, com uma população de 18.927 habitantes e onde se produz soja em 281.677 hectares, beneficiando o Piauí com um PIB de R$ 918.259.330,00.
Debatendo esse assunto com as autoridades responsáveis tem-se que a PI-392 encontra-se em adiantando status burocrático e de realização, ainda que tímida. Já a PI-397, que teve seu primeiro trecho com 117,06 quilômetros já asfaltado, está estagnada à espera de uma ilusória PPP em seu segundo trecho (obra da Setrans-PI), com 118,88 quilômetros, apesar de ter desde 15/12/2014 seu contrato assinado com o Consórcio Jurema/Hidrus, no valor de R$ 135.959.911,34, sem qualquer execução até agora. Aliás, todas as pessoas de bom senso já se aperceberam que a dita PPP não passa de um “boi de piranha”. Por seu turno, o terceiro e último trecho (aquele que “resgataria” Santa Filomena), com 95,86 quilômetros, tem previsto para o final deste mês de fevereiro o edital de licitação, a cargo do DER e com recursos da Caixa Econômica Federal.
Conforme nos assegurou o Diretor do DER, Castro Neto, “o terceiro trecho da Transcerrado será feito”! Estamos no aguardo do início do certame. Até lá, enquanto nossos caminhões patinam e atolam ao tentar transportar o que existe hoje de mais valioso para o mundo e para as divisas brasileiras (alimento), manteremos a lanterna do nosso Sindicato apontada para o DER e a Setrans-Pi, aguardando o momento certo para agradecer e dar os parabéns pela eficiência ou, numa infeliz circunstância, partirmos para o confronto institucional.
Por Moysés Barjud
Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Bom Jesus do Gurgueia – Piauí
Ex-presidente da Aprosoja Piauí