A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) confirmou o que já indicavam projeções de consultorias privadas – e da Aprosoja Brasil – e estimou queda da produção de grãos no país na safra 2017/18, que já está em fase de plantio. Calculada a partir de condições e previsões meteorológicas atuais, a retração prevista reduzirá o volume total a um patamar ainda expressivo – o segundo maior da história – e tende a ter efeito limitado sobre a inflação. Mas certamente exercerá pressão negativa sobre o Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária do país, sobretudo no primeiro trimestre de 2018.
Segundo divulgou ontem a estatal vinculada ao Ministério da Agricultura, a área plantada total alcançará entre 58,4 milhões, como em 2016/17, e 59,6 milhões de hectares, e a produção somará entre 224,2 milhões e 228,2 milhões de toneladas. Na pior das hipóteses, a queda será de 6%. Evidentemente, portanto, o cenário traçado leva em consideração uma produtividade menor, derivada de menos investimentos em tecnologias, dadas as margens mais apertadas dos agricultores, e de um clima “menos perfeito” que no ciclo passado.
Aroldo Oliveira, superintendente de informações do agronegócio da Conab, lembrou que as chuvas atrasaram em até uma semana o início do plantio, o que prejudicou os trabalhos. Nessas áreas, houve precipitações no fim do mês passado, o que permitiu algum avanço, mas desde a semana passada a seca voltou a dar o tom, novamente afetando a semeadura. Conforme Oliveira, há uma expectativa de retorno de chuvas mais regulares na semana que vem.
Em consequência desses percalços, mesmo a soja, que deverá ocupar uma área até 3,8% maior neste ciclo 2017/18 (ver infográfico), deverá registrar queda na colheita. Para o carro-chefe do agronegócio nacional, a Conab estima uma produção entre 106 milhões e 108,3 milhões de toneladas, até 7,1% menos que na temporada passada, quando o volume atingiu o recorde de 114,1 milhões de toneladas.
Esse aumento de área da oleaginosa está acontecendo sobretudo em áreas que, em 2016/17, foram ocupadas pelo milho de verão e pelo arroz. No caso do milho de verão, a retração da área foi projetada em até 10,1%. Com suas lavouras ocupando menos espaço e com o clima menos favorável, a produção da primeira safra de milho tende a cair até 17,8%, para 26,4 milhões de toneladas. Como já informou o Valor, ganhou força nesta década o movimento de redução do plantio de milho no verão e de incremento da “safrinha” de inverno do cereal.
Para a safrinha, contudo, a Conab não divulgou estimativas para o plantio, que só terá início no começo de 2018, depois de colhida a soja. No relatório divulgado ontem, a estatal limitou-se, para efeitos estatísticos, a repetir a mesma área plantada no ciclo 2016/17. Levando-se em consideração essa repetição, a área total de milho deverá ser até 3,1% menor em 2017/18 e a produção poderá recuar até 5,7%, para 92,2 milhões de toneladas.
Se fatalmente terá impacto no PIB da agropecuária no primeiro trimestre, quando se concentra a colheita de verão, a queda do volume total de produção prevista pela Conab deverá ter impacto limitado sobre a inflação dos alimentos, que tanto colaborou para os baixos índices gerais observados neste ano. “Há uma redução da produção, mas uma redução para um patamar ainda bastante elevado”, afirmou Felipe Novaes, da Tendências Consultoria. “Considerando a média das projeções de hoje, em termos de preços, a gente não enxerga gatilhos suficientes para altas expressivas de preços”, destacou Novaes.
Existe, contudo, uma possibilidade, ainda que remota, de piora climática mais considerável nos próximos meses. Se isso de fato acontecer, a pressão tende a aumentar.
Fonte: Valor Econômico
Edição: Vinícius Tavares (Aprosoja Brasil – 61 3551.1640)