Após cortar a zona produtora dos EUA de leste a Oeste, saindo de Illinois e chegando ao Colorado, passando por Iowa e Nebraska, foi possível ter um sentimento importante que a safra dos EUA está frente a sérios riscos. Primeiro porque teve o plantio muito atrasado, segundo porque a pouca chuva que seria até normal em anos anteriores pegou a maior parte da soja e o milho em uma fase sensível, que é o enchimento de grãos. O detalhe é que há um agravante: existe risco de geada mais adiante na colheita.
Nos EUA, de forma geral, a melhor época para plantio do milho é em abril e para a soja até 15 de maio. Geralmente, os produtores plantam 70% de milho e 30% de soja em suas propriedades, iniciando com o milho e na sequência semeiam a soja. Neste ano foi diferente, pois o frio e as chuvas se estenderam até maio prejudicando os plantios.
Em conversa com produtores em Iowa, eles nos disseram que desde 1983 não tinham um clima tão irregular. A primavera foi chuvosa e fria e se estendeu, o que atrasou o plantio. Depois secou de vez por um período longo demais, prejudicando as culturas no início. Em seguida, o clima esfriou por duas semanas, o que já impactou no desenvolvimento das plantas. E por fim, agora em algumas regiões está quente demais.
Todos estes fatores fizeram com que a safra dos EUA ficasse muito irregular. Tanto que o percentual de lavouras boas e ótimas está diminuindo e aumentando o percentual de regulares. E isto foi possível constatar em nosso percurso: soja desparelha, muitas não fecharam a carreira, milho com enchimento de grãos muito desuniformes na mesma área.
Ao conversarmos com os produtores, eles nos disseram que os períodos de seca ou chuvas escassas não ocorrem todo ano, mas neste ano se agravou pelo plantio atrasado, no qual as plantas não cresceram tanto. O período mais frio alongou o ciclo o que fez com que a condição de estresse hídrico se agravasse.
Sendo assim, por mais que o USDA diga que está tudo normal, não é o que vimos e sentimos dos produtores. Eles esperam produtividades menores do que o previsto, claro que nada de muito baixo. Um exemplo é a previsão para o milho em Nebraska: a média prevista é de 154 bushel por acre, a média do ano passado foi de 132,8 bushel. E a média histórica é de 147,9 bushel por acre. Agora, se não chover nos próximos dias, essa produtividade esperada pode cair.
E por mais que se fale que a seca não está afetando tanto as condições das lavouras, o que constatamos em áreas onde se tinha irrigação foi uma diferença gritante. O que demonstrou que a pouca chuva está prejudicando, tanto na soja quanto no milho. Para o milho, o ideal seria 50 mm de chuva por semana e está longe disto. Tem chovido, mas a chuva que cai é escassa.
Na soja foi possível comparar claramente. Em uma área onde parte tinha irrigação e parte era de sequeiro com a mesma variedade, a soja tinha 30 cm de diferença, 20% a mais de vagens e as vagens todas completas. Enquanto isso, nas de sequeiro, havia muitas vagens de três grãos com apenas dois formados, ficando notória a falta de água. Quero ressaltar que nestes dias, nos 1600 km rodados de leste a oeste, só vi chuva em Denver no Colorado a 200 km da zona produtora de soja.
Os próximos dias serão cruciais para a consolidação dos prognósticos de produção, afinal a umidade do solo caiu muito a níveis críticos. A soja e o milho em mais quinze dias completam seu ciclo de enchimento de grãos, na maior parte das lavouras. E daí vem a principal preocupação dos produtores. Se houver atraso de dez dias na colheita e o inverno chegar mais cedo, pode significar uma tragédia, pois haverá chuvas e geadas.
Para nós produtores, a safra dos EUA é crucial na formação do preço futuro da nossa safra. Mas não estaríamos tão dependentes de preços melhores se os custos da safra brasileira não estivessem 25% mais altos, afinal eles já não seriam tão baixos. Aí ficamos assim, esperando que a safra do vizinho quebre para que nós produtores brasileiros não quebremos.
*Glauber Silveira